AGENDA CULTURAL

28.2.16

MOBILIDADE: devagar e mais rápido - o transporte urbano e a vida

Menos acidentes, mais fluidez e menor emissão de poluentes promovem um novo debate a partir da redução de velocidade nas vias de cidades como São Paulo. Em discussão, a cultura do automóvel
por Helder Lima publicado 23/02/2016 18:02 - Revista Brasil Atual

A redução de velocidade nas marginais e outras vias estruturais da cidade de São Paulo provocou debate entre candidatos a prefeito neste ano. Mas segundo técnicos e especialistas, dificilmente algum candidato encontrará argumentos ou informações para sustentar o retorno às velocidades mais altas. O pré-candidato do PSDB João Doria Júnior andou se pautando por essa promessa como primeira medida de governo.
Segundo o coordenador do Laboratório de Gestão da Inovação (LGI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Mario Sergio Salerno, a promessa do empresário tucano não tem fundamento. “Esses caras que são pseudotecnocratas ficam reclamando de políticos, mas na hora de pensar uma medida pensa por ele, que quer pegar o carro e andar mais rápido. Se for assim, eu gostaria de ter um helicóptero e não tenho. Não faz sentido.”
A redução vem sendo acompanhada de bons resultados em diferentes cidades no mundo, não apenas com menos acidentes e maior fluidez, mas também na questão ambiental, com menos emissão de poluentes. Salerno lembra que em Paris há vias importantes que admitem a velocidade de até 30 quilômetros por hora, e que em algumas a prefeitura fez mudanças de sentido justamente para dificultar o trânsito de automóveis. “São mudanças que dizem claramente para o cidadão não usar o carro.”
Em São Paulo, o número de acidentes registrados em outubro de 2015 diminuiu em 36% na comparação com igual mês no ano anterior. E os congestionamentos, em 10%. Os debates na corrida eleitoral, no entanto, acabam confrontando culturas. Sobretudo em relação ao conceito tradicional do uso do automóvel – ao mesmo tempo um objeto de desejo, que teve a cidade construída em função dele desde meados no século passado, mas com o fluxo a cada ano mais difícil em razão do excesso de veículos.
“As mudanças com os corredores e faixas de ônibus, a construção de ciclovias e toda essa estrutura vão chamar a atenção para a melhoria da qualidade do transporte. A cultura do automóvel vem se perdendo mundialmente”, afirma o consultor em planejamento de transporte Marcelo Blumenfeld, doutorando da Universidade de Birmingham, na Inglaterra.
Para ele, é expressivo o fato de parte da classe média paulistana já ter deixado o carro em casa para se deslocar por outra opção, como o metrô, conforme mostrou em setembro último a 9ª Pesquisa sobre Mobilidade Urbana, feita pelo Ibope. O percentual de motoristas que têm carros e os usam todos os dias caiu de 56% para 45% de 2014 para 2015.

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