AGENDA CULTURAL

9.10.16

Garçom, por favor, dois copos...

Não se trata de um embuste,
um maranhão,
se trata apenas,
de um amor sem coração.


Arlen Pontes*
arlenpontes@hotmail.com

Isso, dois copos - sei, o garçom me fitou e viu que dali que me sentei só eu haveria de estar, é, só um, não dois.
O copo análogo, mas vazio, era uma espécie de anódio para meu coração, agora aqui, só preciso deste, só de um copo apenas.
Era menos desagradável me verem à mesa com dois copos, no julgamento popular ou é louco ou depressivo tomando do vermute sozinho. Mas de fato, não era nem louco nem depressivo, era de longe um amante inumerável, que sofria menos tendo dois copos à mesa que só o meu.
As vezes tomava a postura de quem já logo iria receber seu par, fitava a entrada, a saída, o caminho dos privados, se levantava, mas logo sentava, olhava ao longe. O momice era sim, de alguém a esperar, mas o fato é que nada ali chegaria, só me restava o copo, o outro copo, pois o meu já estava embebido do vermute.
E antes que pudesse acompanhar, das horas, da mais tarde, do dilúculo, me chegava às novas que teria de ir. Me levantava, acertava os custos ao estabelecimento e me punha para fora.
Ali, do lado de dentro, quase ninguém entenderia, aquele um bebendo como um só, mas com dois copos, e agora se levanta e vai, também como um só, ficava a dúvida.
Garçom por favor, dois copos...
Um para mim, outro para meu amor que há de vir... Um dia.

*Arlen Pontos é arte-finalista.

Nenhum comentário: