AGENDA CULTURAL

17.11.16

Sou muçulmano, mas não sou terrorista

Capa do filme

Hélio Consolaro*

Na minha adolescência, passear era ir ao cinema. A juventude participava de um ato cultural de forma inconsciente, mas tudo não passava de entretenimento.

Cheguei a catalogar num caderno os filmes assistidos, nos vários cinemas de Araçatuba, centenas deles. Os filmes iam rodando, um dia em cada sala de projeção.

Cine Bandeirantes (rua Osvaldo Cruz, embaixo da atual Rádio Cultura FM), São Francisco (na rua Princesa Isabe, onde funciona o Ponto Frio); na praça São João, onde é atualmente uma igreja evangélica; no Paraíso, na rua Savério Safiotti, que está em reforma; no Pedutti, na rua General Glicério, no atual centro cultural Thathi-Coc.

Já passei pela fita, pela própria TV, DVD, agora estou na Netflix, que oferece tudo, mas nem tudo. E diante daquele acervo farto, escolher o quê. Preciso da recomendação de alguém, pois a sinopse assassina qualquer filme, mediocriza a história.

Cena do filme
Busquei na internet recomendações e encontrei uma lista de Miguel Barbieri Jr. Na sua coluna “Tudo sobre cinema” apresentou uma matéria interessante: “32 filmes para chorar sem culpa no sofá e disponíveis na Netflix”. Capturei-a para futuras consultas.

O primeiro filme escolhido, em inglês: “My name is Khan” (2010), indiano. A lição que a mãe deu ao protagonista, quando adolescente, guiou seu comportamento para o resto da vida. “Não diferencie as pessoas por nada, só há suas diferenças entre nós: pessoas boas e pessoas más.”

Gosto de ouvir a dublagem e ler a legenda para comparar a tradução. Comecei à zero hora e terminei às 3h. Achei que não fosse aguentar, 2010-16 - 06 anos de atraso, mas valeu a pena.   



SINOPSE
O filme “My Name is Khan” conta a história de Rizvan Khan, um indiano portador da síndrome de Asperger's, um tipo de autismo. Depois que se muda para os Estados Unidos, Khan se apaixona por Mandira, uma cabeleireira separada que vive com o filho Sameer (Sam). Khan é maometano e Mandira, hindu, mas suas diferenças religiosas não impedem que se casem. Os problemas começam com o 11 de Setembro, quando passam a ser atacados por sua origem étnica e devido a generalizações preconceituosas. Depois de sofrer bullying por parte de colegas, Sam é morto em uma briga, e Mandira, revoltada, culpa o marido, e lhe diz que ele só poderia voltar depois que dissesse ao presidente da república que ele não é um terrorista, e que o filho dela também não era. Rizvan interpreta isso literalmente, e empreende uma peregrinação para ter sua esposa de volta.

Há filmes que, além de fazer refletir, nos causam desconforto inicial. Aborda temas como xenofobia, racismo, intolerância, exclusão social, hipocrisia... 

Autismo, “Síndrome de Asperger”, Luto, preconceito étnico, diferença, violência, amor, perdas, superação, potencialidades. A música e o cenário contribuem com a emoção do filme.

Chorei sozinho no sofá. Esse macho italiano não resistiu, não havia motivo de esconder minhas emoções. Só Deus era testemunha.

Que filme espetacular, aborda temas quase irreconciliáveis, a debilidade do protagonista ganha uma dimensão política sem ser panfletária, pois ele desperta a solidariedade humana, mas apresenta junto o preconceito para humanizar as pessoas. A sua simplicidade, a sua doença são grandes armas do convencimento.


Aquela persistência de se encontrar com o presidente dos Estados Unidos (George Bush) para lhe dizer a frase: “Meu nome é Khan, mas não sou terrorista”, isso após a queda das torres em 11/09/2001, ganhou a mídia, acabou abrindo caminho para a eleição de Barak Obama. E foi este que recebeu Khan depois de eleito.

Em tempo de eleição de Donald Trump, assistir ao filme é entender um pouco mais a sociedade americana.



*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras

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