Capa do filme |
Hélio Consolaro*
Na minha adolescência, passear era ir ao cinema. A juventude
participava de um ato cultural de forma inconsciente, mas tudo não passava de
entretenimento.
Cheguei a catalogar num caderno os filmes assistidos, nos
vários cinemas de Araçatuba, centenas deles. Os filmes iam rodando, um dia em cada sala de
projeção.
Cine Bandeirantes (rua Osvaldo Cruz, embaixo da atual Rádio
Cultura FM), São Francisco (na rua Princesa Isabe, onde funciona o Ponto Frio);
na praça São João, onde é atualmente uma igreja evangélica; no Paraíso, na rua
Savério Safiotti, que está em reforma; no Pedutti, na rua General Glicério, no
atual centro cultural Thathi-Coc.
Já passei pela fita, pela própria TV, DVD, agora estou na
Netflix, que oferece tudo, mas nem tudo. E diante daquele acervo farto,
escolher o quê. Preciso da recomendação de alguém, pois a sinopse assassina
qualquer filme, mediocriza a história.
Cena do filme |
O primeiro filme escolhido, em inglês: “My name is Khan”
(2010), indiano. A lição que a mãe deu ao protagonista, quando adolescente, guiou seu
comportamento para o resto da vida. “Não diferencie as pessoas por nada, só há
suas diferenças entre nós: pessoas boas e pessoas más.”
Gosto de ouvir a dublagem e ler a legenda para comparar a tradução.
Comecei à zero hora e terminei às 3h. Achei que não fosse aguentar, 2010-16 - 06 anos de
atraso, mas valeu a pena.
SINOPSE
O filme “My Name is
Khan” conta a história de Rizvan Khan, um indiano portador da síndrome de
Asperger's, um tipo de autismo. Depois que se muda para os Estados Unidos, Khan
se apaixona por Mandira, uma cabeleireira separada que vive com o filho Sameer
(Sam). Khan é maometano e Mandira, hindu, mas suas diferenças religiosas não
impedem que se casem. Os problemas começam com o 11 de Setembro, quando passam
a ser atacados por sua origem étnica e devido a generalizações preconceituosas.
Depois de sofrer bullying por parte de colegas, Sam é morto em uma briga, e Mandira,
revoltada, culpa o marido, e lhe diz que ele só poderia voltar depois que
dissesse ao presidente da república que ele não é um terrorista, e que o filho
dela também não era. Rizvan interpreta isso literalmente, e empreende uma
peregrinação para ter sua esposa de volta.
Há filmes que, além de fazer refletir, nos causam
desconforto inicial. Aborda temas como xenofobia, racismo, intolerância,
exclusão social, hipocrisia...
Autismo, “Síndrome de Asperger”, Luto, preconceito étnico,
diferença, violência, amor, perdas, superação, potencialidades. A música e o
cenário contribuem com a emoção do filme.
Chorei sozinho no sofá. Esse macho italiano não resistiu,
não havia motivo de esconder minhas emoções. Só Deus era testemunha.
Que filme espetacular, aborda temas quase irreconciliáveis,
a debilidade do protagonista ganha uma dimensão política sem ser panfletária,
pois ele desperta a solidariedade humana, mas apresenta junto o preconceito
para humanizar as pessoas. A sua simplicidade, a sua doença são grandes armas do convencimento.
Aquela persistência de se encontrar com o presidente dos
Estados Unidos (George Bush) para lhe dizer a frase: “Meu nome é Khan, mas não sou terrorista”,
isso após a queda das torres em 11/09/2001, ganhou a mídia, acabou abrindo
caminho para a eleição de Barak Obama. E foi este que recebeu Khan depois de
eleito.
Em tempo de eleição de Donald Trump, assistir ao filme é
entender um pouco mais a sociedade americana.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras
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