AGENDA CULTURAL

8.8.23

Com raiz em Araçatuba, enterrado em Campo Grande-MS

 

Antiga praça Rui Barbosa, a Praça do Boi

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Vou escrever sobre Araçatuba de tempos atrás, mas sem saudosismo. Há pessoas que estavam bem na vida, então a saudade tem razão. Este cronista era um auxiliar de escritório, perdido com sua bicicleta nas ruas da cidade. A minha única ideologia era ouvir meu pai dizer que os filhos iam vencer na vida estudando.

Houve tempos em que 90% da cidade moravam na zona rural. A vida da roça fornecia todos os alimentos. A cidade supria seus habitantes com roupa, cultos, farmácia, ferramentas e médicos. Sentiu-se falta de hospital, então fundou-se a Santa Casa de Misericórdia. 

A verticalidade de nossos prédios se resumia aos edifícios Paiva (praça Rui Barbosa) e Araçatuba (rua Osvaldo Cruz), também a torre da igreja matriz que foi destruída em nome do progresso. 

Não tinha 50 mil habitantes. Quando fui vereador 1982-88, o sonho de Araçatuba era chegar a 100 mil habitantes. Hoje passamos dos 200. Naquela época os trabalhadores andavam de bicicleta, hoje lotam as ruas com suas motos, prestando serviços.

Na crise do algodão, mineiros compraram as terras dos sitiantes quebrados, iniciando a concentração de terras em mãos de poucos, surgiam os chamados latifúndios. Era a chegada do boi e a construção de mansões na cidade. Norte do Paraná era a nova terra prometida para a italianada. Fazendeirada mandava e desmandava na cidade. Enquanto isso, a professora Odette Costa, filha de ferroviário, punha essa gente em sua coluna social.

Havia na cidade o triângulo do poder: Araçatuba Clube, Sindicato Rural (Siran) e a Associação Comercial.      

Os fazendeiros de Araçatuba administravam suas fazendas do Centro-Oeste do Brasil por meio de rádio amador. A praça Rui Barbosa era chamada de "Praça do Boi", uma espécie de bolsa de valores da pecuária brasileira.  

Na década de 70, o município de Araçatuba e adjacências se encheram de canaviais, usinas de etanol e boias-frias. A periferia ficou mais pobre. Começou-se a falar em agronegócio.  

Escrevo isso porque nem 10% da população conhece a história da cidade onde mora. Volúvel. Trata-se de um lugar de passagem para muito gente, uma parada para seguir viagem anos depois.  

Recentemente, neto e bisneto de um desses famosos pecuaristas morreram em acidente de avião, veículo próprio, em Mato Grosso, mas foram enterrados em Campo Grande-MS. Sinal de mudança de mentalidade.

As cidades do Centro-Oeste brasileiro cresceram e ofereciam conforto e tecnologia. Tais famílias tradicionais de Araçatuba abandonaram a cidade. Há até quem diga que o dinheiro mudou de mão, a classe dominante passou a ser outra. As mansões foram desaparecendo, surgiram os condomínios de luxo. O Jardim Nova Iorque perdeu sua importância. Até o cronista da cidade ganhou um perfil diferente.  

Este cronista, sujeito estudado, com olhos septuagenários e algumas ferramentas sociológicas, registra a evolução (ou involução) do município onde nasceu, sem saudosismo, por interesse histórico. 

13 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns companheiro colunista, essa história de Araçatuba está bem clara e correta e acordo com meu conhecimento e .inha memória septuagenaria

Anônimo disse...

A vida está perdendo o sentido e o seu valor , estamos tomando um rumo sem volta onde nada mais tem valor nem sentido .

Anônimo disse...

Ficou ótima a sua crônica,meu primeiro emprego com carteira registrada foi em Araçatuba na Ws fábrica de cadeiras e artefatos domésticos,e depois trabalhei como atendente de enfermagem na Santa Casa de Misericórdia e no hospital Santana.

Anônimo disse...

Parabéns amigo palmeirense e italiano, quem sabe sabe, quem não sabe APLAUDE.

Caroline Franciele disse...

Interessantíssima a linha histórica que você desenvolve. Sinceramente, desconhecia o fato do algodão, embora soubesse da pecuária.
Texto bem construído, que não cansa o leitor, porém com várias informações, que são nossa melhor arma contra a ignorância.

Anônimo disse...

Muito bom esta estória parabéns professor gostaria de conhecer melhor a estória de Araçatuba sou filho desta cidade meus parabéns

Anônimo disse...

Araçatubense que sou, septuagenária também, sou saudosa da juventude que vivi aqui.Bailes em grande estilo,sorveteria espetacular na Princesa Isabel, foothinh aos sábados e domingos, banda no centro da Rui Barbosa ainda na minha infância.Aos 13 anos nos mudamos para SP, só de corpo.O pensamento era ARAÇATUBA,as cartas pelo correio,vindas repetidas vezes e um Cauntri Club que deixou saudades.

Nelson Pedon disse...

Excelente mestre.

Anônimo disse...

Parabéns e verdade que você escreveu muitas pessoas não sabem que é isto mesmo 👏👏👏👏👏👏👏👏👍👍👍👍👍👍🙏🙏🙏🙏🙏

Ventura Picasso disse...

Vida que segue - para onde?

Euclides Garcia Paes deAlmeida disse...

Isso mesmo Hélio! Fez um resumo histórico de Araçatuba.Faltou colocar os japoneses que foram os que movimentaram a produção eestocagem do algodão!Euclides G.P.Almeida

Anônimo disse...

Hoje a cidade é um Polo de ótimas escolas e faculdades..o ponta pé foi a FOA..lembram..hoje é um Campus e referência até no exterior..UM COMÉRCIO PUJANTE COM TREIS SHOPPING..O setor de serviços emprega milhares..etc..

Anônimo disse...

Foram enterrados em Campo Grande porque lá viviam