AGENDA CULTURAL

11.1.17

Sumiço dos pijamas


Hélio Consolaro*

Estou escrevendo de pijama, à noite. Você, caro leitor, pode reagir espontaneamente:

- E daí?

Eu raramente usei pijama na minha vida, sempre dormi de calção e camiseta com propaganda, só não me deitei com calça jeans. Na segunda-feira, 02/01/2016, saí com a Helena para comprar pijamas, depois de 43 anos de casados. Então, este fato de eu escrever de pijama não é tão banal.

E sempre me falaram que, ao se aposentar, jamais usasse pijama o dia inteiro, porque seria o caminho mais abreviado para a cova. Então, caro leitor, o meu drama não é fácil.

É que me disseram nas recomendações médicas e li na internet que para aliviar meu pequeno incômodo devia usar roupas largas. Calças e camisas soltas, paletó amplo, já os uso há algum tempo, mas usar pijama...

A Helena usou isso com toda a sua força e me levou à loja para comprar dois pijamas. Saí da loja feliz, com o sacola da CATVI, e encontrei uma multa no para-brisa do carro, coisas da Zona Azul da rua General Osório.

Em vez de eu clicar no aplicativo Digipare sobre a chapa do carro da Helena, fiz isso na do meu carro que estava sendo lavado. O burro fui eu. Isso foi resolvido pela Arapark, mas nesse vai pra cá e vai pra lá, me esqueci a sacola dos pijamas ao pé do parquímetro da rua Duque de Caxias (Xodó Lanches). Deixamos o número do telefone em todos os lugares em que havíamos passado posteriormente, inclusive na CATVI.



E eu garganteava:

- Vou encontrar esses pijamas, tudo que eu perco, recupero! Já perdi minha carteira no terminal Barra Funda em Sampa e achei!

Na quarta-feira, 4/1/2016, um telefonema esquisito vindo pelo WhatsApp. Não entendi direito. Retornei, liguei, nada. Deixei mensagem escrita. Então, era uma mulher que havia encontrado os meus pijamas e morava no bairro Traitu, bem na beirada de Araçatuba. “Como meus pijamas foram parar em lugar tão distante”, fiquei matutando.

Conversa pra cá, conversa pra lá, marquei um encontro no centro, não deu certo. Até que me decidi: vou buscar os pijamas no Traitu. GPS armado, fomos eu e a Helena nesta quarta-feira, 11/01/2016, buscar os pijamas. Escolhemos dois presentes para a mulher tão prestativa: um exemplar de meu livro de gramática e uma caixa de sabonete. Afinal, a honestidade precisa ser recompensada.

Encontramos uma família maravilhosa. Juliana, a mãe, achou minha sacola com os pijamas ao meio de sacolas de lixo ao pé do parquímetro. Olhou, viu e concluiu: “Isso aqui não é lixo!” e seguiu o rótulo  da loja da CATVI, onde pegou o número de meu celular. Quem encontrasse os pijamas, que os devolvessem.
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Na frente da casa, lá no bairro Traitu, Juliana chamou a Gabriele, a filha que faz balé municipal; apresentou o sogro, o Sr. Artur, e o maridão, sujeito bem sacudido, provando que meus pijamas caíam bem nele. A devolução era mesmo motivada pela honestidade.

Helena e Juliana já marcaram ação conjunta em favor do bazar da pechincha no bairro, ganhei três mangas Haden, ficamos amigos. Perder os pijamas foi uma obra divina.

Tudo terminou bem, mas eu estou aqui vestido com o pijama, com recomendação da Helena:

- Amanhã cedo, tira o pijama, dobra e deixa na cama. Não me vai ficar com esse pijama o dia inteiro!

Putz! Ainda bem!  


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.

Um comentário:

Unknown disse...

Hélio, até nos acontecimentos nada agradavéis, vc encontra humor. Kkkkkk.