AGENDA CULTURAL

23.2.17

Ai que vontade de dar!

Hélio Consolaro
(03/02/2005)

Se pudesse, reuniria a caravana que viajou nas férias de janeiro, da qual participei, eu montaria um bloco para desfilar no Carnaval de Araçatuba, porque só deu palhaçada.

O Magriça, por exemplo, com seus 150 kg, gritava no ônibus, na hora do estresse da viagem:

- Ai que vontade de dar!

Ninguém se atrevia a navegar naquele mar de banha, pois ele não conseguia ver a ferramenta da frente, imagine como seria procurar a de trás... Mas com medo de que algum homem se atrevesse, gritava logo:

- Passou!

O cara é um pândego. Com todo esse peso, nadava nas águas marítimas e subiu parte da escadaria do Mosteiro de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha-ES. À noite, tinha peixe à Hipoglós para todos. Não conhece o nome desse prato, caro leitor? Muito simples: pacu assado...

Não sei se é por causa da novela da Globo, mas atualmente é moda as meninas namorarem bombeiro. Apaga o fogo facilmente. Assim flagrei  Bina, membro de nossa caravana, nos seus 74 anos, brincando com um bombeirinho na praia de Porto Seguro, para inveja das outras “meninas”.

- Vamos embora, Bina! – chamava a turma.

E ela nada, no maior papo com o bombeirinho, um jogando água no outro, era o neto brincando com a vovó. Depois de alguns gritos, ela despertou e saiu da água, brava, e acompanhou a caravana de volta ao hotel. 

Antes do jantar, ouvi um grito no corredor (veja o vexame!):

- Bina menstruou!

Magriça já palpitou:

- Nossa! Ela levou a sério o flerte com o bombeiro que até voltou no tempo do relógio biológico!

As meninas do quarto chamaram o médico que fazia parte da caravana, um ginecologista.

- Corre aqui, doutor!

Nada de menstruação. Era um esfolado na perna, nada mais. Não tinha sido daquela vez que uma setuagenária voltava a menstruar. 

Quem não cuida dos dentes na juventude, sofre depois. No segundo dia de viagem, num total de 21, ao sair de um restaurante de beira de estrada, quando limpava os dentes com fio dental, a capa de uns de meus pivôs de minha boca resolve escapulir e cair num ladrilho de paralelepípedos.

Paguei esse mico, caro leitor. Todos à procura do dente do Consa... Faroletes foram mobilizados. Ônibus acendeu os faróis. Imobilizei-me para não perder a referência geográfica de busca. E nada! Já me via, banguelo, de riso contido, viajando nos 19 dias restantes. Até que acharam o dono de meu sorriso. Que alívio!

Depois disso, qualquer pedrinha branca que era achada na praia (e como há!), alguém vinha com ela na mão, com aquele sorriso maroto:

- Perdeu o dente, Consa? Eu achei. Olha aqui!  

Você pensa, caro leitor, que é só o croniqueiro que tira sarro? Nada! Quando me surpreendem em situação embaraçosa, a vingança é insuportável! 
 
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*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. 

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