AGENDA CULTURAL

17.5.17

Deu carona para uma cobra

Se a cobra tentou Eva no Éden com palavras, por que a jiboia de minha história tem que ser muda? 


Hélio Consolaro*

Um casal viajava tranquilo pela rodovia Marechal Rondon, quando uma cobra pôs a cabeça num dos vãos do painel de controle do carro e disse amavelmente:

- Olá! Como vai? Espero que estejam fazendo uma boa viagem.

Se a cobra tentou Eva no Éden com palavras, por que a jiboia de minha história tem que ser muda? 

Foi um desespero para o casal, quase que o motorista perde o controle do veículo, porque nos ensinaram que a cobra é um animal nocivo, peçonhento, que só quer o nosso mal.

Os protagonistas dessa história real, além da cobra, foi um casal de Sabino-SP, que levou o carro para o Corpo de Bombeiros de Lins-SP que retirou a cobra e a levou para uma mata próxima. É bom dizer que tal serpente não é venenosa.

Aproveito a notícia exótica que foi publicada no jornal O LIBERAL, Araçatuba-SP, 17/05/2017, para fazer uma reflexão sobre o nosso relacionamento com os outros seres vivos, principalmente nesse tempo em que a população mora no mundo em forma de cidade.

Para qualquer bichinho que se encontra em casa, chama-se o bombeiro. Daqui a pouco, os bombeiros serão chamados por causa de  baratas ou de ratos.

Nossa visão antropocêntrica nos coloca no centro do mundo, como se todos os outros seres do planeta estivessem a nosso serviço. Até o conceito da cadeia alimentar se insere nela.

Mas estamos descobrindo que devemos ter uma visão ecocêntrica do mundo, onde todos os seres vivos, principalmente, merecem respeito. Isso está nos desestruturando, estamos meio perdidos.

Os vegetarianos já existem entre nós há algum tempo, agora, estamos escutando a palavra “vegano”. "O veganismo é uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade contra animais, seja para a alimentação, para o vestuário ou para qualquer outra finalidade.”

Conheço famílias que são atendidas pelo SUS, mas os cachorros da casa são clientes de clínicas particulares. Outro dia a Câmara Municipal rejeitou um projeto para que a Prefeitura Municipal de Araçatuba criasse uma farmácia veterinária municipal. Na minha meninice, cachorro era comedor de restos de comida, hoje gasta-se com ração, vacina e até com cirurgia. 

Há até uma premissa de que a sociedade humana que trata bem os animais é respeitadora dos direitos humanos. Humanizar-se é cada vez mais descobrir-se bicho.


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*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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