AGENDA CULTURAL

10.5.18

Mãe que deixa saudade

Dona Adelce Nogueira de Silos e sua filha Fátima Florentino
Fátima Florentino*

Está chegando, novamente, a data de comemoração do Dia das Mães. Apesar do espírito comercial e de consumo que hoje se fez da data, não tenho como não me entristecer e não pensar na minha mãe com saudade.

A minha se foi há não muito tempo e cada vez que paro para pensar, a dor me aperta o peito. Não sei se pelas boas lembranças que ficaram em minha memória ou se pelas coisas que eu queria ou deveria ter feito e não fiz. 

Atitudes bobas, como um beijo inesperado, um bom dia mais carinhoso, um afago em sua cabeça, apesar de não gostar que lhe desarrumassem os cabelos e até um pouco mais de paciência por suas limitações causadas pelo AVC e pela idade avançada que tinha.

Vivemos bons momentos, de alegria, de festas, nascimento dos netos, reuniões em família que ela adorava, principalmente se fosse em algum restaurante, onde ela não tivesse que ir para o cozinha e nem se preocupar com a louça suja. E ela dizia isso em claro e bom tom, para que não tivéssemos dúvidas sobre onde comemorar seu aniversário ou o dia das mães. Sempre franca e direta, sem meias palavras.

Vivemos também momentos de tristezas, choros, perdas, dificuldades financeiras, doenças e nesses momentos, apesar de toda a sua aparência frágil, ela se mostrava gigante, tomando frente da situação, resolvendo e dividindo tarefas, como uma líder nata que era. E nós, obedecíamos, seguíamos suas orientações, que aliás, não ousávamos contrariar e ela nunca se deixava abater. Exemplo de força, garra e determinação.

Gostaria de não ter que comemorar esta data, de tirá-la do calendário, mas eu também sou mãe e tenho meus três filhos para reunir em festas, comemorações, datas especiais e por que não, no Dias das Mães? 

Eu quero meus filhos rodeando-me, perturbando com o cardápio do almoço ou sobre o restaurante escolhido. Quero-os me bajulando, trazendo presentinhos e me fazendo sentir uma personagem importante em suas histórias de vida. Quero ainda viver muitas comemorações, com muitas risadas em torno das nossas recordações, das traquinagens e confusões em que eles se metiam, das broncas e tentativas de surras e castigos que eu procurava aplicar e quase nunca conseguia. 

Ainda pretendo ter netos sentados ao meu redor para poder paparicar, “estragar”, sufocar de amor e poder contar a eles, repetidamente, as minhas histórias de quando criança e as histórias de seus pais. Já posso imaginar: vou começar a contar e seus pais irão ficar a todo momento me interrompendo e acrescentando detalhes que, com certeza vou esquecer, talvez até de propósito. Iremos dar muitas risadas, gargalhar até chorar, todos juntos, ao redor de uma mesa farta, que deixa saudade, num Dias das Mães qualquer, logo ali no futuro.

*Fátima Florentino é membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letrs

Crônica publicada na Folha da Região, 08/05/2018

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