AGENDA CULTURAL

14.9.18

A boca de cada pessoa

Hipopótamo - animal da boca grande

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP 

Dizem que os dentistas são profissionais que não veem grandes horizontes, pois olham apenas um buraco que se afunila. Para resolver este estreitamento, basta o dentista ver o mundo ao contrário, inverter o funil: de dentro da garganta do paciente para fora. 

O dentista não está tratando de apenas uma parte do corpo do paciente, mas do corpo todo ou da parte mais importante. Ter uma visão holística da odontologia. Se não tivéssemos essa visão mais ampla, sem esquartejar o  corpo humano, distribuindo cada parte para um especialista, a medicina estaria falida. Até os mecânicos de veículos apresentam uma visão mais global do problema para chegar ao diagnóstico da parte. 

A boca de cada pessoa e impressões digitais são inconfundíveis. Só a língua de cada um a conhece bem, cada cárie, o jeito de cada dente, onde está liso ou áspero. A saliva lubrifica esse relacionamento.     

A boca, além de participar ativamente da moldura do rosto, ela demonstra sensualidade. As bocas carnudas são as mais preferidas, pois como ventosas sugam a alma do outro num longo beijo.

A cavidade bucal é a entrada do forno, por ela, pelo beijo, se inicia a esquentar a frigideira; e a paixão incendeia o coração, ou melhor, o corpo inteiro, já que apresentamos uma visão holística de nossa vida.

Tenho dito que já estou na quinta dentição, a do transplante. E essa tecnologia da odontologia deixa idosos e idosas com certa jovialidade. Nada mais feio do que uma velha banguela (ou velho). Aliás, um jornal de 1905 noticiava que uma velhinha de 42 anos foi atropelada por um ônibus. Hoje, a longevidade no Brasil está chegando aos 80 anos.    



A boca tem mil funções: faz parte do aparelho digestivo, respiratório, fonador, aciona os instrumentos de sopros e é até órgão sexual. Há muitos ditados populares envolvendo a boca, principal sobre a função da fala.

O dentista tem o mapa de sua boca, ele vai  anotando os serviços feitos. Caso você morra, caro leitor, e encontrarem apenas a sua caveira, identificarão a sua pessoa pela arcada dentária. Aí, nesse caso, o mapa do dentista (de papel ou digital) entra em ação para descobrir de quem é a caveira. 

Bocão, boquinha, bocarra. Não importa. Ande com ela limpa, porque de repente pode pintar uma cena romântica. Alguém  gruda em você e dar-lhe aquele beijo cinematográfico. Se sua cavidade bucal estiver gostosa, mudará a sua vida. O sucesso depende de sua boca, pense antes de falar.

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