AGENDA CULTURAL

14.4.20

Uma pessoa tóxica compra ou vende agrotóxicos?


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Antigamente, a gente chamava uma pessoa tóxica de difícil de lidar com ela. Eu mesmo já li um livro sobre o assunto que terminou questionando o próprio leitor: não será você, caro leitor, a pessoa difícil do seu grupo?

Temos a mania de procurar defeitos nos outros, quando estamos cheios deles. Como diz Mateus 7:3: "Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho?". Ou então no popular: senta em cima do rabo e fica falando dos rabos alheios.

Eu me dispus a escrever sobre pessoas tóxicas e fui fazer uma pesquisa a respeito dessa tipologia de gente, mas com medo de me achar lá dentro. "Consa, você vai procurar chifres em cavalo...". 

Ninguém é totalmente puro, uma Madre Teresa de Calcutá, todo mundo faz suas malvadezas. Tenho também meu lado tóxico, como todos têm um certo grau de bipolaridade.

A expressão "pessoa tóxica" não é ainda popular. Noutro dia, conversando pelo zap com um sobrinho de Londrina-PR, ele me disse que a filha não estava gostando do novo emprego. Eu disse que o ambiente devia ser tóxico, por isso não se dava bem. E ele imediatamente respondeu:

- Como o senhor sabe, a firma vende agrotóxico.

Ignorei o erro, mas pensei: "Será que toda pessoa que compra e vende agrotóxico é tóxica?" Não sei, não quero prejulgar

Qual é o perfil da pessoa tóxica? Arrogância, age pela intimidação. Assisti a um filme de guerra e todos os nazistas eram arrogantes, por exemplo. Há pessoas assim, "basta subir um degrau na vida que vira um trem".

Há aquelas que não erram nunca, não sabem fazer autocrítica. Jogam a culpa sempre nos outros. Não são felizes por causa da mulher ou do marido. Como se ela não fosse responsável de construir a sua própria felicidade.

A pimenteira de meu jardinzinho vive secando. Acho que um seca-pimenteira anda passando por lá, ou seja, um pessoa invejosa que não admite o sucesso da outra. Apesar de que não tenho motivos para ser invejado.

Há as pessoas papudas, tudo que acontece com ela ganha glamour. Tenho um compadre que morou em cidade pequena. Hoje ele está com mais de 70 anos, mas continua papudo, não houve um moleque da geração dele que não levou um sopapo do valentão. É o jeito de ele levar a vida.  
Tudo bem, o poeta Mário Quintana disse que mentira é uma verdade que não deu certo. Isso vale mais para campanha eleitoral.  A mentira prejudicial, mecanismo usado pela pessoa tóxica é aquela que quer fugir de suas responsabilidades. 

E a pessoa negativista? Nada vai dar certo. Por ela, ainda não tínhamos inventado a roda. Uma pessoa dessa numa equipe de trabalho é insuportável.

Preconceituosa e a que faz pré-julgamento de todos são bem parecidas. Ninguém tem virtudes, apenas defeitos. Ninguém presta.

A pessoa fofoqueira é a que inventa fake news (boatos) dos outros. Vê uma cobra e fala que viu o rabo de um jacaré. Já vi fofoqueiro em maus lençóis.

E para terminar, o pior tipo. A mais tóxica de todas, faz tudo para alcançar seus objetivos, até assassina. Não importa o grau de maldade.  

Cada família produz um tipo de pessoa, parece que há um molde. É a educação, a imitação dos exemplos. Há uma família no Brasil que parece tóxica a distância. Não quero ser tão tóxico.

Deixo ao caro leitor o trabalho de me classificar, pois sei que não sou santo. A vida de cronista não é fácil. Já me chamaram de linguarudo, que perco o amigo, mas não perco a crônica. Já foi o tempo, agora estou velho, mais lerdo, não tenho mais pernas para correr.  

Um comentário:

Unknown disse...

Estamos cheios de tóxicos: árvores tóxicas, venenos tóxicos e mentiras tóxicas. Estas últimas não são as de Mário Quintana, essas deram certo.
Bela crônica, parabéns!