AGENDA CULTURAL

4.10.20

Fome - Marcos Francisco Alves


A fome não os deixa. 
Não, não somos nós,  sortudos, comemos bem.     
Mas a aqueles que comem nada ou bolinhos de barro.  Pele e ossos à mostra, estão lá, carcomidos, fracos e quebradiços.
A fome  corrói todos os caminhos do presente, anula o amanhã. 
                      
Já senti fome, dormi em cinemas pulguentos,
ansiei por algo quente descendo pela garganta. Sei dela, um pouco.
É como  um precipício que na noite é dia e no dia é noite.                                          
É olhar pelas janelas e sentir aromas esquecidos há tempos.
A  fome  não é só mania,
é fado consumado pelos demônios da terra minha,
é casebre repartido por vários, é  álcool barato, o crack da esquina.                        
São os meganhas guardando os silos de quem tem muito.
A fome é dentes quebrados, gengivas gangrenadas.                                             Enlouquecer com nada.
É ver filhos se derretendo.
É esmurrar a impotência de ser subalterno..
A fome, do arroz e feijão encarecidos para quem tem muito.                                      
Retirados dos pratos para enricar os de sempre.
A Fome! Saiba, é mais que barriga em ossos,
é  eliminar os sonhos que se faziam,
é  jogar na vida um viver  que não  se  queria dessa forma.
É criar nos espíritos a submissão como amiga.
A fome!
Marcos / setembro-2020


Marcos Francisco Alves é professor aposentado da rede de ensino estadual de São Paulo: 18 99744-0047.
 
  

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