AGENDA CULTURAL

24.1.21

Relação do gesso e plásticos com a Ford - Alberto Consolaro

Mudanças e adaptações constantes são difíceis, mas necessárias! 

No conjunto, a Ford foi embora por que não se atualizou aqui e em países desenvolvidos. Evoluir tecnologicamente não significa ter computador a bordo cheio de apps, conexões e automatismos. Evoluir um carro tecnologicamente é ser elétrico, no mínimo híbrido, e o mundo se atualiza rapidamente sobre isto  

!Vários processos foram antecipados pela pandemia. Tudo é menos físico e muito mais virtual, como pix, previdência, salário, judiciário e benefícios sociais. Até reuniões familiares e profissionais, aulas, congressos e treinamentos, inclusive namora-se virtualmente.

NOVO E ANTIGO

Na medicina, odontologia e ciência não é diferente. Uma das maiores preocupações no atendimento de pacientes, estava na documentação representada por requisições, resultados de exames, amostras, tomografias, ressonâncias e radiografias. Onde guardá-las? Nada mais difícil para a odontologia era onde, como e por quanto tempo guardar os famosos modelos de gesso e as coisas assemelhadas como pastas com fotografias, anotações, planejamentos, filmes radiográficos e outros tipos de imagens necessárias para o diagnóstico preciso.

Sim, deu-se adeus às pastas físicas de documentação dos pacientes com plásticos, papel, impressos e fotografias em papel que apenas ocupavam espaços preciosos e poluem o planeta, pois levam séculos para se decomporem, sem contar que para ser produzidos custaram muitas árvores e poluíram muitos rios e mares com matéria prima petroquímica.

Quando se ia ao médico ou advogado, sua sala era cheia de livros impressionava e na saída se comentava: ele deve ser muito culto e sábio, pois olhe quantos livros já leu para chegar até aqui! Hoje, salas de médicos e advogados mais antenados com seu tempo não têm livros e, quando os têm, são livros de turismo ou servem como peças decorativas, quando não, foram brindes e presentes. Livros e revistas atuais são eletrônicos e estão nos computadores e celulares dos profissionais.

HOJE

Em uma sala de espera, folhear revistas velhas e contaminadas, apenas em filmes antigos! O que vale hoje, em uma sala de espera de verdade, é uma cadeira confortável e uma senha do wi-fi visível e disponível na parede com internet boa para que todos possam ler e ver o que quiserem em seus celulares. E não fiquem inventando aquelas senhas malucas com o nome e aniversário do primeiro namorado!

Modelos de gesso com os dentes devem ser utilizados apenas em casos muito especiais e representam coisas do passado. Protéticos, protesistas, reabilitadores, ortodontistas e cirurgiões devem estar conectados em programas polidimensionais, planejando e fazendo suas reabilitações virtuais para depois transferir e fazer em seus pacientes os que se deve ser feito de acordo com a sua competência adquirida.

É só uma questão de treinamento e mudança de linguagem, mas na ciência, medicina e odontologia contemporâneas já se deu adeus ao papel, filmes, películas de plásticos, pasta de documentação, arquivos enormes, modelos de gesso e moldes de vários tipos de materiais. Os escâneres e os programas oferecem planejamentos de reabilitações, tratamentos e procedimentos, sem estes materiais.

REFLEXÃO FINAL

No mundo virtual, todo mundo expõe parte da casa e, no fundo dos escritórios e salas das entrevistas, aulas e “lives”, aparecem estantes com muitos livros e revistas. A mensagem subliminar que passa é que aquela pessoa é antiga, mesmo que seja jovem, que está desconectada com seu tempo, sem preocupação planetária ambiental e até sugere que ela não tenha familiaridade com tecnologia.

O que aconteceu com a Ford, pode acontecer com as novas gerações abaixo dos 40 anos quando vão

ao escritório ou consultório de um profissional e vê sua sala repleta de livros até o teto ou observa-o usando materiais de um tempo que já se foi! É muito difícil mudar, mas é necessário! 

Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC - consolaro@uol.com.br 

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