JAGUAR, “Eu quero mocotó”. In: Pasquim, ano II, n°72, nov.1970 |
Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP
Antigamente, bem antigamente, não
havia pátria e nem nação, havia reinos e impérios, todos organizados em torno
do suserano, por bem ou por mal. Não havia leis, obedeciam-se apenas a vontade do rei. As poucas cidades existentes eram
cercadas, verdadeiras fortalezas. E o rei lá dentro, protegido. Expandir
território era a ambição dos poderosos. O Brasil era uma colônia de
Portugal, não tinha governo próprio. Com a ameaça de Napoleão Bonaparte, Dom
João VI, correu de medo para o Rio de Janeiro, transferindo a sede do reinado. A ameaça na Europa havia sido
aliviada, os portugueses pediam a volta
Dom João VI, assim ocorreu, em 1821, deixando aqui o filho Dom Pedro, que não
queria ficar, mas houve o Dia do Fico, 9 de janeiro de 1822. "Fica no
Brasil, Dom Pedro!". E ele ficou.
Daí Araçatuba ter a Rua do Fico, no bairro Santana. A elite brasileira, acostumada a ser
sede de governo, não gostou de ser rebaixada novamente a colônia. Então começou
o movimento de independência, querendo que Dom Pedro fosse o primeiro rei (imperador). Ele era português, não
ia trair o pai, então Dom João VI teve uma conversa de pé de orelha com o
filho: “Tome a coroa, antes que algum aventureiro lance mão dela”. A pátria
brasileira surgiu de um conchavo. Não havia fotógrafo na época, muito
menos celular, apenas carruagem. O quadro "Independência ou morte",
de Pedro Américo foi encomendado mais de 60 anos depois, em 1888, para decorar
o Museu do Ipiranga. Quando o grito foi proclamado, o artista não era nem
nascido. Pedro Américo vivia em Florença, na
Itália, quando pintou o quadro, fez uma pesquisa para resgatar informações da
época. Na realidade, fora da tela, a cena foi
assim: o príncipe regente abatido em cima de uma mula, vestindo roupas simples,
acompanhado de poucas pessoas. Dom Pedro estava com disenteria. Não havia
cavalos de raça porque a região exigia a força de animais mais fortes. A comitiva tinha catorze pessoas. Os
guardas não estariam usando uma farda tão pomposa. Os Dragões da Independência
(batalhão existente em Brasília) só adotaram o uniforme representado na pintura
mais de cem anos depois, em 1926. O próprio Pedro Américo deu uma
explicação sobre a produção em que revela a intenção de mostrar a independência
como algo heroico. Nas palavras de Pedro
Américo: “A realidade inspira, e não escraviza o pintor.” O artista esforçou para ser sincero na reprodução do
fato sem esquecer as beleza da arte. Numa edição do jornal Pasquim,
crítico à ditadura militar, em 1970, o cartunista Jaguar (ele insiste que o
desenho foi do Henfil, apenas levou a culpa), diante do sucesso da música
"Eu quero mocotó", fez a sátira sobre o fato, usando o quadro de
Pedro Américo. Jaguar ficou preso por
dois anos por causa do balão. |
Um comentário:
A desenterra de Pedro gerou o Bolsonaro...
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