AGENDA CULTURAL

27.5.25

Os que estão segurando o mundo no trabalho miúdo - João Luís dos Santos - Penápolis

(JL dos Santos, ao estilo de JL Borges) 

O professor que planta manjericão no quintal,

sem veneno, sem pressa

como quem conversa com a terra —

como um bom selvagem.


A comerciária que sorri só de ouvir

um batuque passando na rua,

e pensa: ainda bem que tem som nesse mundo.


O estudante que se liga na origem das palavras,

e acha bonito quando entende

que “favela” vem de planta resistente.


Os dois senhores de camisa amarelada

jogando baralho em frente ao cemitério,

sem pressa, sem fala, só cartas.


A moça que vende melancia e velas

implora uma venda e sonha com mar.


O rapaz da gráfica que alinha as páginas

mesmo sem curtir o texto,

mas faz bonito — por ele e pelo trabalho.


Um casal lendo poesia no banco da praça,

ela em silêncio, ele com o olho fechado.


A criança que faz carinho no cachorro da rua,

com um cuidado que falta em tanto adulto.


Quem tenta entender a maldade que sofreu,

sem virar veneno também.


Quem agradece, do nada,

porque ainda existem belas poesias,

tipo as dos velhos Pessoa,  Bandeira ou de Barros.


E aquele que, no fim das contas,

prefere que o outro ganhe a discussão,

só para sentir  a paz durar mais cinco minutos.


Essa gente que nem se conhece,

mas estavam ali e acolá, vivendo, firmes, suaves  —

são os que estão segurando o mundo,

sem publicar nada nas redes sociais.

Nenhum comentário: