Dirigida por Fernando Philbert, a peça explora as relações humanas e as condições da existência, trazendo a visão e os questionamentos de um homem negro sobre a realidade. O espetáculo recebeu indicações aos prêmios Shell
(Música) e Cenym (Monólogo e Texto Adaptado).
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Rodrigo França em Eu sou um Hamlet Foto Márcio Farias |
“O Hamlet de Shakespeare quer vingança; no Brasil, os diversos ‘Hamlets’ só querem justiça. Imagina se quisessem vingança?” Rodrigo França, ator de Eu sou um Hamlet
Após uma temporada no Rio de Janeiro e São Paulo, o monólogo;Eu sou um Hamlet; se apresenta no Sesc Birigui, trazendo Rodrigo França no papel do icônico personagem de Shakespeare. O ator sobre ao palco do Teatro Sesc Birigui no dia 21 de agosto de 2025, quinta, às 20h. Sob a direção de Fernando Philbert, o espetáculo oferece uma releitura contemporânea da obra do bardo, com tradução assinada por Aderbal Freire-Filho, Wagner Moura e Barbara Harrington. A adaptação, fruto da colaboração criativa entre Jonathan Raymundo, Fernando Philbert e Rodrigo França, reforça a parceria dos dois últimos, já consagrada na montagem de Contos Negreiros.
Os ingressos custam de R$15 a R$50 e já estão disponíveis para venda nas bilheterias do Sesc Birigui e do Sesc em Araçatuba, além do Portal e Aplicativo Credencial Sesc SP.
A montagem utiliza as falas de Hamlet para refletir sobre um mundo violento e segregado, lançando luz sobre as questões da sociedade atual e a condição de humanidade de um homem negro no Brasil. Ao incorporar um ator negro, a peça amplia os dilemas do clássico, trazendo a consciência da realidade ao personagem.
Este Hamlet questiona o mito da democracia racial e enfrenta o desafio de criar um discurso que provoque reflexão sobre o presente. Rodrigo França, ao assumir o papel, reflete sobre o impacto da tragédia colonial na identidade do homem negro, forçado a lidar com uma humanidade fragmentada e constantemente questionada.
Como sobreviver à consciência de uma condição vulnerável, em um sistema que marginaliza e estigmatiza? Como não ceder ao desespero? A peça busca respostas nos ancestrais, iluminando um coração em luta contra uma cultura opressora.
Queríamos um Hamlet que abordasse o racismo e o dilema do homem comum em uma sociedade que ameaça direitos e liberdades. Nosso Hamlet reflete sobre a tensão do mundo e busca entender como chegamos aqui. A peça coloca o ser humano no centro do pensamento, mostrando como enfrentar um sistema que oprime negros, LGBTs, pobres e quem luta por justiça. Em cena, Rodrigo enfrenta essa batalha solitária, mas encontra coragem nas vozes dos ancestrais para desafiar as regras, explica Philbert.
Para Rodrigo, estar à frente desta montagem é significativo, sobretudo por mostrar que artistas negros podem interpretar qualquer personagem. Ele destaca que interpretar um texto como esse, que reflete o ser humano, traz um impacto único ao ser incorporado por um ator negro. A peça, embora respeite a obra de Shakespeare, explora novos territórios ainda não revelados, mostrando que amor, ódio, fúria e vingança são universais, mas suas expressões variam conforme a subjetividade de cada grupo. Essas emoções são naturais, mas a forma como são vivenciadas é construída socialmente. Nesse contexto, um homem negro buscando descobrir quem matou seu amado pai adquire outra dimensão.
Para o ator, que divide seu tempo ainda como diretor, debatedor, filósofo, autor e escritor, a população negra ainda está em busca de ser humanizada no Brasil. “Só é tratado como humano aqueles que têm dignidade em suas estruturas. Estamos longe de uma equidade para existir uma reparação de nossas mazelas causadas pela escravização. Contextualizando ‘Hamlet’, os nossos fantasmas (ancestrais) ainda clamam. O Hamlet de Shakespeare quer vingança; no Brasil, os diversos ‘Hamlets’ só querem justiça. Imagina se quisessem vingança? Não posso dispersar, pois os meninos estão morrendo lá fora. E temos muito o que fazer”, finaliza Rodrigo França.
SINOPSE
A montagem, ao empregar as falas de Hamlet, funciona como um espelho da nossa sociedade violenta e segregada.
A partir da perspectiva de um ator negro, a peça provoca reflexões profundas sobre as relações humanas, a condição do homem negro no Brasil e a busca por identidade. Ao fazer isso, a obra amplia os dilemas clássicos de Shakespeare, convidando o público a questionar sua própria humanidade em um mundo marcado por desigualdades.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: utilizando as falas de Hamlet, a montagem coloca um espelho diante do mundo e reflete este tempo violento e pleno de segregações. Assim, nos evoca questionamentos acerca da sociedade de hoje, das relações humanas e da sua própria condição de humanidade enquanto homem negro no Brasil em sua jornada de autoconhecimento. Uma das primeiras dramaturgias do ocidente que busca refletir a humanidade, a peça amplia os seus dilemas a partir de um ator negro em sua encenação.
A proposta é trazer essa consciência da realidade ao personagem. Ser ou não ser? Estar consciente ou não?
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