Na discussão do projeto, os oradores chamaram os carros velhos como "latas véias". Certamente nunca tiveram na família um tio, o pai ou alguém com amor absurdo por um "lata véia".
Muitos casais, donos de um "lata véia" se perfumam no sábado ou domingo para fazer compras nos supermercados mais chiques da cidade, levando eles mesmos as compras para casa.
Se por um lado há o lado consumidor, há também o problema habitacional, que é mais complicado, se o carro velho abandonado à beira da calçada passa a ser albergue noturno para algum andarilho.
Carro chique é motorhome, ninguém implica; mas "lata véia" ameaça a segurança das pessoas de bem.
Outro dia encontrei um amigo sumido, não o via por muito tempo. Ele entrou em Araçatuba para consertar a sua motorhome. Todo sorridente, sozinho, feliz da vida. Não paga aluguel, escolhe o quintal de sua casa a todo momento. "Se o vizinho começa incomodar, a gente não briga, muda de lugar."
O filme americano sobre motorhome conhecido é "Nomadland" (2020), que acompanha a história de uma mulher que, após a crise econômica, vive como nômade, viajando pelos Estados Unidos em seu motorhome. "A mulher da van" é outro exemplo do gênero. O nosso urbanismo está cheio de gente morado na rua, uns bem, outros mal.
Um viúvo de uma cidade brasileira deixou sua Variant próxima à rodoviária sumiu para a capital, nunca mais voltou. Até que um amigo se prontificou a tomar conta do veículo. Não demorou muito para se tornar a sua casa, morou lá por 20 anos sem ser molestado por ninguém, até que um vereador evangélico fez um projeto para arrancar a "lata véia" de lá. Enfeava a cidade. A mobilização da cidade foi tão grande que o "pau véio" continua no mesmo jugar. Na Semana Santa o vigário fez a cerimônia do Lava-pés na Variant, lavando os pés do morar de tão antigo veículo.
No Brasil, um país de cultura católica, é bastante tolerante com a frota desativada. No catolicismo os pobres ainda são acolhidos por Santa Dulce dos Pobres, "O anjo bom da Bahia". Em Araçatuba, onde o evangelismo avança, em que predomina a Teologia da Prosperidade, os pobres não contam.
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