Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Estamos em tempo de Natal, quando amolecemos o coração e resolvemos doar cestas básicas, presentear parentes e amigos.
José e Maria eram moradores de rua. Resolveram ter o filho num curral, fizeram do cocho um berço. Assim foi montando o que hoje chamamos de presépio.
A um certo tempo da vida de Jesus, o menino foi perseguido pelo imperador, como todas as crianças de sua idade, para matá-lo, como uma forma de controle da natalidade feito pela espada.
Em nossos tempos, os moradores de belos apartamentos ou mansões se revoltam com o poder público quando aplica uma política de socorro aos moradores de ruas. Dizem: "são todos vagabundos".
Quando a assistência social da prefeitura instala perto de nossas casas Centros POP (Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua), fazemos abaixo assinado ou procuramos um vereador para tirar aquela imundície. A manjedoura de hoje pode estar num lugar desse.
Cada morador de rua conhece a cidade em seus meandros, cada cantinho onde não chove, onde é mais fresco. De repente sentem a rejeição, as pessoas vão impedindo o acesso, até as igrejas onde o presépio está montado foi cercada.
Há gente tão ruim que não socorrem os excluídos do banquete e não gosta de quem faça isso. Veja a situação do padre José Lancelotti em São Paulo. Seus superiores foram enredados pelas autoridades de direita.
No prédio do Banco do Brasil, praça central de Araçatuba (Rui Barbosa) há um vão aos rés do chão, onde abriga deitado um morador de rua com seu cachorro de estimação, o que lhe sobrou desse mundo malvado.
Nós saímos da missa da catedral contritos, mas ninguém sequer abaixa a cabeça para ver a criatura, num sinal de interesse, solidariedade.
No alpendre da sede da Academia Araçatubense, de vez em quando moradores de rua se abrigam dormem no seu alpendre, se escondendo da chuva. E nós, escritores que analisamos e discutimos livros cujos personagens são os pobres, chamamos a Guarda Municipal.
Dizem os eremitas que Jesus se disfarça de morador de rua para testar nossa bondade. E nós, velhacos, nos disfarçamos de bons na época de Natal.

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