AGENDA CULTURAL

21.4.07

Primeira vez que brochei


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nesta sexta-feira, véspera de feriado. Homens sós, poetas frustrados, era um antro de machos com algumas mulheres que se intrometiam.

Cada um que chegava, olhava para a imagem de Santo Onofre e jogava um gole para o santo. Faca Amolada e Caneta Louca corriam esbaforidos:

- Uma cerva bem gelada!

- Uma porção de tremoço!

Seu Sugiro, lá da calçada, onde assava carne, gritou:

- Sugiro espetinho de filé miau, muito bom, hein!

Nisso chegou Bicho Grilo com o Poeta das Multidões a tiracolo.

- Trouxe aqui o Heitor Gomes para declamar um poema essencialmente masculino: A primeira vez que brochei - disse Bicho.

Houve um vozerio ensurdecedor. Pelo jeito, a pipocada na hora H era um assunto bem presente na vida daqueles homens.

Sr. Lamentáveis, 70 anos, protestou de seu canto:

- Comigo, isso nunca aconteceu!

Vaia geral. Magrão gritou:

- Sai daí, véio! O seu já está entrando dobrado de tão mole! Nem Viagra resolve!

Subversivo, antes que o Heitor declamasse, fez-lhe uma pergunta:

- Esse poema, por acaso, é autobiográfico?

O Poeta das Multidões gaguejou, virou, mexeu e respondeu:

- Eu estou firme, cara! Batendo prego de caibro, sem pipocar!

Dr. Duas Caras, lá de seu canto, filosofou:

- Não existe nada mais decepcionante para uma mulher do que um homem de pau mole! Ela, esperando aquela mão-de-pilão, e encontra uma maria-mole!

Gargalhadas gerais. Até que Heitor começou:

- A primeira vez que eu broxei,/ fiquei louco e desesperado./ Disse:- Isso nunca me aconteceu,/ é um fato inusitado.E continuou:- Logo culpei a mulher,/ porque sou forte e viril,/ ela que é muito apagada,/ por isso que o trem nem subiu.

Dona Moranga pulou na roda como uma caipora endemoniada:

- Pare, pare, Seu Heitor! Vocês tomam todas, fumam, fazem as maiores extravagâncias e nós, mulheres, somos culpadas pelo brochamento de vocês?

Mimoso gritou do outro lado:

- Heitor, meu bem! Venha comigo, porque isso nunca vai acontecer! Essas mulheres não sabem fazer as coisas...

Dona Moranga saiu de bolsada pra cima de Mimoso. Faca Amolada pediu desculpas ao Heitor, que fez questão de declamar mais uma estrofe:

- Imaginem o povo sabendo, / que eu tinha brochado, / lá no bar do Bate Forte, / seria por todos ridicularizado.

- E foi mesmo! - gritou Subversivo.

Faca Amolada, para apaziguar os ânimos gritou:

- Rodada por conta da casa!Até o Caneta Louca brochou, não quis marcar nada a mais.

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