AGENDA CULTURAL

18.5.07

Placebo & pílulas do Frei Galvão


Hélio Consolaro

Não escrevo essas linhas para afrontar ninguém, nem religiões nem a homeopatia, mas para dividir minhas reflexões com meus 33 leitores.

O papa Bento 16 visitou o Brasil e canonizou mais um santo, agora, um brasileiro. Um croniqueiro não pode desprezar qualquer informação. Com esse espírito fui ler a biografia de Frei Galvão. Mais uma vez, a dele não é diferente da de outros santos: era rico e abandonou a riqueza.

O evangelismo tem espírito capitalista, diz que a riqueza é uma bênção divina, enquanto o catolicismo ainda é feudal, tanto na sua estrutura eclesial como na forma de tratar a riqueza. A Teologia da Libertação quer unir o estoicismo ao socialismo.

Deixemos de lado a elucubrações, e vamos diretamente ao assunto. Mas este croniqueiro é um divagador, anda pelas linhas bêbado. Como tomar as pílulas do Frei Galvão? Faz-se uma novena, reza-se durante nove dias a oração da Novena à Santíssima Trindade. Cada envelope confeccionado pelas Irmãs do Mosteiro da Luz serve para uma novena. Dentro de cada um vêm três pílulas: tomar uma no primeiro dia da novena, outra no quinto e a última no nono dia. A novena é feita em nove dias (ou então, a Novena de Fogo, em nove horas seguidas).

E o placebo? Todo medicamento tem o efeito placebo, é aquele que não depende da composição química do remédio, mas do grau de confiança do doente nele, mas esse efeito ainda é um mistério, como o é o milagre.

Numa pesquisa sobre o valor da cirurgia de angina de peito (dor provocada por isquemia cardíaca crônica), o placebo consistia em anestesiar o paciente e cortar a pele. Os pacientes operados ficticiamente tiveram 80% de melhora. Os que foram operados de verdade tiveram apenas 40%. Em outras palavras: o placebo funcionou melhor que a cirurgia. Veja aí, caro leitor, como são as operações espirituais.

E agora, caro leitor. Como explicar isso? Se o efeito placebo não deriva de uma ação provocada no organismo do paciente, de onde vem ele? A resposta vem dos médicos Júlio Rocha do Amaral, MD, e Renato Sabbatini, PhD: “A ciência médica ainda não explicou completamente qual a causa (ou causas) do efeito placebo. Mas, ao que parece, ele resultaria da espera do efeito por parte do paciente.”

Jesus Cristo já havido dito isso há dois mil anos e as pessoas ainda não entenderam: “A tua fé te salvou”. O placebo e as pílulas do Frei Galvão acionam, com a fé, os mecanismos que o próprio corpo tem para se curar.

Como este croniqueiro é pretensioso e simplório... Quer explicar o inexplicável. Um bobo da corte.

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