AGENDA CULTURAL

30.9.07

Reforma ortográfica. Vale a pena?


Hélio Consolaro

Toda mudança, em qualquer situação, cria certo desconforto. E agora em que o país avançou consideravelmente na escrita, qualquer alteração cria transtornos. Num país com uma pequena elite alfabetizada, com o povo falando línguas tribais, como acontece nos países africanos, uma mudança ortográfica é menos complicada.

As opiniões sobre as mudanças são as mais díspares. Apenas não dá para aceitar como argumentação a preguiça intelectual que, às vezes, toma conta de cérebros envelhecidos. Só respeito o grupo que defende a separação radical entre os dois idiomas, aumentando significativamente a ruptura iniciada timidamente no Romantismo, aprofundada no Modernismo. Esse grupo tem uma posição ideológica diante do problema, pois defende o “brasileirês”, o português brasileiro.

A mudança valerá a pena desde que Portugal também participe, porque não é possível que uma língua tenha duas grafias, principalmente quando se trata de eventos de ordem global. O mundo caminha em direção de ter uma língua só, e o português tem duas formas de registro, a de Portugal e a do Brasil.

Nisso, saímos sempre perdendo, porque os relatórios de encontros internacionais, às vezes, não são registrados em português algum. Isso não acontece com o francês, com o inglês e nem como espanhol que têm o país colonizador e os países colonizados.

O fato de o assunto estar na mídia é que três países ratificaram o acordo: Brasil (em 2004), Cabo Verde (2006), São Tomé e Príncipe (dezembro de 2006). E o acordo de 1990, quando foi assinado, estabelecia que, com três ratificações, entraria em vigor automaticamente.

Na verdade, ele entrará em vigor quando o Brasil determinar, pois é o país que dá as cartas, porque tem o maior número de usuários do idioma, bem mais de 50%. Postergar seria uma estratégia, exigir a adoção do acordo de Portugal, sinal de sabedoria. Infelizmente, os países africanos, pelo número de usuários, não possuem tanto peso numa decisão como essa.


Não vou relacionar as mudanças desejadas por mim, nem me preocupei em fazer tal levantamento, não tenho um estudo minucioso do assunto. Não sou pesquisador, sou professor do ensino médio. Como a atual proposta de mudança foi resultado de um acordo entre países lusófonos, com objetivo de unificar a escrita, fica difícil ter espaço para desejos pessoais.

O ministro da Educação Fernando Haddad já não está tão seguro em termos de data, conforme revelou reportagem da Folha de São Paulo, de 5 de setembro.

Os oito países lusófonos ainda falam o português, possuem um vocabulário básico em comum, por isso a reforma. O outro caminho seria romper a unidade. Não sei se esse caminho produziria bons frutos.

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