AGENDA CULTURAL

19.6.09

Menina de sonhos alados


Hélio Consolaro*

Os personagens Bentinho, em Dom Casmurro, de Machado de Assis; e Paulo Honório, em São Bernardo, de Graciliano Ramos se propuseram a escrever um livro como forma de desvendar e esclarecer o passado.

Assim, as pessoas que exerceram atividade intelectual em suas vidas, ao chegarem a certa idade, têm o mesmo ímpeto, escrever autobiografias. Algumas, para deixar a seus descendentes, além das fotos, um relato; outras têm preocupações mais literárias, contam suas histórias com certo requinte.

Há até quem radicaliza, como o escritor Paulo Polzonoff Jr. ao afirmar em seu livro “O cabotino – Um guia de antiajuda para literatos”. Ninguém quer saber da sua vida, porque elas são semelhantes. Qual foi a sua importância para a humanidade? E ele exagera na sua crueldade: “...nenhum leitor minimamente alfabetizado está interessado no seu cotidiano medíocre”
E continua: “Todo mundo come, todos vão ao banheiro, brigas familiares existem em todas as casas, em maior ou menor grau, traições são regra e não exceção, sexo não é mais tabu e drogas não surpreendem mais ninguém”. E continua com sua radicalidade: economize papel, poupe a vida das árvores. Caro leitor, não leve muito a sério a dureza das palavras do Paulo Polzonoff, mas, às vezes, elas têm um fundo de verdade, nos faz pensar na realidade.

Nunca me canso de dizer que a beleza de um livro não está em seu conteúdo. Ele se torna interessante se for bem escrito, porque houve um trabalho com a forma, seu autor soube bordar as palavras, criando imagens interessantes. A narrativa bem trabalhada prende o leitor.

Não me refiro a escrever difícil, como faziam os escritores parnasianos, nem ao experimentalismo literário. Manuel Bandeira e Mário Quintana sempre escreveram de modo simples, mas com uma riqueza poética de encantar as pessoas.

Usei todo esse falatório para lhe dizer, caro leitor, que houve uma noite de autógrafo na última sexta-feira, 19 de junho, na sede da Academia Araçatubense de Letras, quando a araçatubense Cacilda Amaral Melo, que virou escritora em São Paulo, revisitou sua terra natal (Araçatuba) e recebeu amigos e parentes, oferecendo o seu livro “Relatos à procura do tempo” (160 páginas).

Ele não é apenas um relato de uma senhora saudosa com lembranças da cidade onde passou a infância, como menina de sonhos alados. A narrativa e a linguagem foram bem trabalhadas. Exala-se literatura de suas páginas. Tive o prazer de conhecer Cacilda na casa do casal de professores Quinzé &Carmem em fevereiro deste ano.

Um comentário:

Escrevendo na Pele disse...

Adorei te ler... um encanto. Tudo tão simples assim...