AGENDA CULTURAL

25.7.10

Crônica a um escritor interiorano

A turma caipira de Cornélio Pires. Foto histórica de 1929, vendo-se da esquerda para a direita, em pé: Ferrinho, empunhando a "puíta", Sebastião Ortiz de Camargo (Sebastiãozinho), Caçula, Arlindo Santana; sentados: Mariano, Cornélio...

Hélio Consolaro*

Hélio Consolaro é professor, cronista desta Folha e membro da Academia Araçatubense de Letras
Araçatuba - Nesta quarta-feira, 25, é Dia do Escritor. Para comemorar, passo aqui alguns conselhos aos escritores deste nosso interior paulista.

Não seja um chato que manda os originais para todo mundo. Atualmente, há um meio mais democrático (e barato) para publicar seus textos, a Internet. Crie seu site, seu blog.

Caso opte pela Internet, deverá ser paciente, ler e-mails com elogios e críticas sobre seus textos, agradeça a todos, respondendo com educação. Isso fará parte de seu amadurecimento literário. Escreva sempre, apure seu estilo. Publicar livros, antes dos 40 anos de idade, é uma temeridade. Lembre-se de que José Saramago começou aos 58 e ganhou o prêmio Nobel de literatura.

Leia outros escritores, aqueles que praticam o seu gênero literário, não se esqueça dos clássicos, mas leia também os colegas contemporâneos. Seus textos estão na rede de computadores, mas não se esqueça de que só o livro lhe dará status autoral, enobrece o escritor.

Não caia na armadilha de querer ser escritor para ser famoso, há outras atividades mais fáceis para alcançar a fama. Há livros demais, poucos atingem a posição de Paulo Coelho.

Lembre-se: a literatura não é feita apenas de best-sellers. Na história da literatura, poucos aparecem, muitos escritores, bons, ficaram submersos.

Caso queira mesmo publicar, pague alguém para lhe dar um parecer literário sobre ele e exija severidade. Não se contente com opiniões de parentes e amigos. Contrate uma editora. Aqui no interior, não há outro caminho.

Pagar para publicar parece esnobismo, mas é o único caminho. Você manda fazer mil livros, acha pouco, mas conseguirá vender apenas 200. E ainda há “amigos” que querem o livro de graça. Você faz noite de autógrafo, tentando recuperar o investimento, mas gasta com coquetel (mais despesas). Cuidado para não ficar endividado no banco. Se for uma pessoa de prestígio, procure apoios culturais em forma de cotas.

Participe de concursos literários. Ganhar um prêmio é uma forma de reconhecimento, mas não pense que seu livro (ou texto) seja uma porcaria caso nunca seja um vencedor. Graciliano Ramos desclassificou João Guimarães Rosa num concurso de contos.

A primeira edição de "Dom Casmurro", livro de Machado de Assis (1899) teve uma tiragem de cem exemplares. Hoje, até lançamento de livros de escritores famosos são ignorados. O mercado editorial cresceu muito.

Esse negócio de plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro para se realizar na vida é do tempo do seu tataravô; mas continue sonhando em publicar, realizar um gosto é o regalo da vida. Parabéns!

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

Joyce Correia disse...

Querido Consa, adorei a passagem de que "plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro" dão prazer à vida. Realmente, nem tudo são flores, mas dá pra ser feliz com um pouco menos. Não que a Ferrari deixe de ter seu brilho. Belo texto.