AGENDA CULTURAL

12.1.11

Geraldo Vandré quebra o silêncio

Sábado, 25/09/2010
Depois de quatro décadas de isolamento, o cantor e compositor que se transformou em um dos maiores enigmas da MPB resolve finalmente quebrar o silêncio, em entrevista exclusiva à Globo News.




Depois de assistir a essa entrevista, fiquei mudo, vendo Vandré subir a escadaria para se abrigar solitário num quarto da Força Aérea Brasileira. Ele foi ídolo da minha juventude revolucionária. Vandré vai terminar seus dias justamente numa instituição que imaginávamos ser ele contra, quando cantava: 
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão..
.

Há um ditado que diz: nunca conheça seu ídolo de perto, porque você vai se decepcionar. Eu não resisti à tentação, e vi a entrevista dada por Geraldo Vandré. Ele se dissolveu como um torrão de açúcar sob a ação da água. Derreteu-se no primeiro momento.

Para me recompor, me lembro de um depoimento de João Cabral de Melo Neto sobre sua obra "Morte e Vida Severina", que serviu de bandeira para quem lutava a favor da reforma agrária na década de 60. Ele dizia que sua obra não tinha tal pretensão, nunca fez literatura engajada, mas que não podia controlar o uso dela.

Assim também ocorreu com Geraldo Vandré, fez uma obra polifônica (aberta, permitindo várias leituras) que serviu de arma contra a ditadura militar, mas ele não era militante político.

Assim também é Fabiana, música que Vandré fez em homenagem à Força Aérea Brasileira, com letra bem polifônica, sem nenhuma garantia de que seja realmente um louvor à FABiana)   



Fabiana

Geraldo Vandré

Composição: Geraldo Vandré
Desde os tempos distantes de criança
Numa força sem par do pensamento,
Tem sentido infinito e resultante
Do que sempre será meu sentimento;
Todo teu, todo amor e encantamento,
Vertente, resplendor e firmamento.
Vive em tuas asas, todo o meu viver;
Meu sonhar marinho, todo amanhecer.
Como a flor do melhor entendimento,
A certeza que nunca me faltou,
Na firmeza do teu querer bastante,
Seja perto ou distante é meu sustento;
De lamentos nao vive o que é querente
Do teu ser, no passado e no presente.
Vive em tuas asas, todo meu viver;
Meu sonhar marinho, todo amanhecer
Do futuro direi que sabem gentes,
De todos os rincões e continentes,
Que só tu sabes do meu querer silente,
Porque só tu soubeste, enquanto infante,
Das luzes do luzir mais reluzente,
Pertencer ao meu ser mais permanente.
Vive em tuas asas, todo o meu viver;
Meu Sonhar marinho, todo amanhecer.  

Um comentário:

roelf disse...

Belíssima e emocionante entrevista, com todas as contradições que nos tornam humanos. Já li nalgum lugar, não lembro onde, “nada que é humano me é estranho”. Acho que hoje gosto mais do seu Geraldo! Obrigado por postar.