Hélio Consolaro*
Agora é momento de festa, posse da primeira presidenta do Brasil. Para não ficar apenas nos festejos, faremos aqui algumas reflexões. Ela terá no Congresso Nacional apenas 8% de parlamentares de seu gênero, enquanto a Argentina tem 40% e não é fato recente.
Dilma não fez nenhum discurso feminista durante a campanha eleitoral, porque, se o fizesse, teria o risco de perder a eleição. Fugiu até da questão do aborto, visitou igrejas, para mostrar que “não era ateia”. Num país, onde a religião é infantilizada, parece que é impossível encontrar ateus piedosos e de bom coração.
No discurso da vitória, fez uma alusão muito significativa: A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: sim, a mulher pode!
Nós, em Araçatuba-SP, tivemos uma prefeita que exerceu dois mandatos, a professora Germínia Venturolli, mas se elegia porque explicava que seria um governo a quatro mãos, ela e o ex-prefeito Sylvio José Venturolli (impedido de ser candidato). Ela assumia o discurso de Amélia, a mulher de verdade.
Dilma Rousseff não é nenhuma Amélia, é uma mulher independente, de nosso século, mas se elegeu porque foi apoiada por um homem muito popular, o presidente Lula.
Lógico que nos desvãos da luta, as mulheres podem crescer politicamente neste momento, mas não podemos nos entusiasmar, mulheres brasileiras são machistas, não votam em candidatas. O Brasil, no ranking de mulheres no poder, ocupa posição vergonhosa, está depois do centésimo lugar, enquanto há países que quase chegam a 50%. Veja detalhes estatísticos: http://www.scribd.com/doc/41758987/Mulheres-no-poder-no-Brasil-e-no-mundo
Na luta contra a ditadura, a Dilma Roussef foi uma heroína. Ela pertence ao time que ficou aqui no Brasil, não foi enriquecer o seu currículo no exterior, com amparo de órgãos internacionais. Também foi uma mulher que não se submeteu à tirania de homens, teve vários relacionamentos. Tinha tudo para não ser eleita presidenta do Brasil, como Erundina em 1988, se elegeu prefeita de São Paulo. Os bacanas terão agora na presidência uma mulher culta e vivida, de origem européia.
Aliás, acredito na capacidade administrativa de Dilma, pois ela deu direção política ao Governo Lula com a saída de José Dirceu. Enquanto Lula atuava no mundo das relações, ela planejava o PAC e outras ações governamentais.
Esperemos que Dilma faça um bom governo, as mulheres ficarão orgulhosas e os brasileiros agradecerão, como fizeram com Lula.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP
2 comentários:
Acredito na Dilma. Votei nela. Espero um bom governo. Ela me parece uma pessoa justa, firme, equilibrada, inteligente, tem tudo pra dar certo. Acho que muita gente que não acredita vai se surpreender.
Abraço, Mariluci
A minha candidata mereceria uma foto de página inteira, não só nos jornais de Araçatuba, mas tmb em todos os jornais do Brasil.
Envergonhado recebi de um amigo, e aceitei, o Estadão. Não consigo olhar para esse jornal. A foto da primeira página é a mesma do meu jornal, como antigamente no tempo dos generais, a mesma foto para todos os jornais. Qual a dificuldade de hoje se 1964, da ditadura, da censura verdadeira e da obediência editorial, se tudo esta guardado no arquivo morto, mas não esquecida?
Por ser mulher?
A Folha da Região, em 28 de outubro de 2002, foi generosa com os leitores: A foto do Lula abraçando o José Alencar, com um texto explicando o acontecimento, ocupava a primeira página inteira. Tenho o quadro na parede do meu escritório.
Eu, que não participo das decisões governamentais, a não ser com meu voto, tanto faz que seja homem ou mulher a governar; se homem comunista, ateu, pastor, plebeu, padre ou militar; se mulher de qualquer etnia, com qualquer representação humana, que importa? Eu sonho com meu povo trabalhando, estudando e recebendo bons atendimentos em suas necessidades, que a nação seja soberana e livre, só isso! Que pague pedágio!
Eu quero me orgulhar por ser brasileiro. A foto no jornaleiro não faz diferença para quem não compra jornal. Mas, faz falta na parede do meu escritório. É difícil emparelhar uma página inteira da Folha da Região com ¾ de página do Estadão...
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