AGENDA CULTURAL

31.3.11

Glauco Mattoso: o poeta da visão avessa


Glauco Mattoso conta como se tornou recordista mundial de sonetos e ganhador de um Jabuti
Publicado em 09 de março de 2011- REVISTA CULT
Por Marília Kodic
Fotos Cauê Ito



Glauco Mattoso


Aos 9 anos de idade, Pedro José Ferreira da Silva conta que era capturado por um bando de crianças um pouco mais velhas, levado a um bosque de eucaliptos perto de sua escola, na Zona Leste de São Paulo, e abusado sexualmente. “Ali na selva, na terra de ninguém, ficava à mercê dos predadores, sem poder reagir. Ou eu fazia, ou apanhava, não tinha jeito”, relembra, 50 anos depois.
Um nerd nascido com glaucoma, doença incurável que atinge o nervo óptico da retina e que deu origem a seu nome artístico, Glauco Mattoso, foi forçado desde cedo a compreender que era diferente.


Para fugir da discriminação das outras crianças, mergulhou na leitura de Monteiro Lobato. “Ele foi uma espécie de passaporte para a cultura, traduzindo tudo que era importante de uma forma gostosa. Eu queria escrever igual a ele. Mas eu não era aquele aluno quadradinho, tinha uma vida mental muito clandestina”, diz. Filho de Nilda, dona de casa, e Augusto, operário da indústria gráfica que trazia para casa um exemplar de cada volume que imprimia, Glauco guardava em casa uma biblioteca “sem ser intelectual, sem ser erudita”. Ao entrar na fase da puberdade, entre alguns títulos de política, psicologia e sociologia, encontrou uma enciclopédia de sexualidade que tratava, entre outros temas, de desvios sexuais.
Com o passar do tempo, começou a ver que era diferente também em matéria de sexo: “Percebi isso de forma bem cruel. Eu tinha medo dos que abusavam de mim, mas, ao mesmo tempo, quando estava sozinho, ficava me imaginando como vítima e comecei a gozar pensando nisso”. Ao descobrir-se masoquista desde cedo – uma lição de vida meio às avessas, meio cruel, mas que abriu as portas para um entendimento maior de si mesmo –, aprendeu a lidar com as dicotomias. “Não existe só uma posição. Você é mocinho e bandido, certo e errado, bom e mau. Essas dualidades é que foram moldando a minha vida”, diz.
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