AGENDA CULTURAL

15.3.11

Por que Araçatuba parou?


Hélio Consolaro*

Há alguns anos, mais de década, a população de Araçatuba reclama do atraso da cidade em termos de investimentos públicos municipais. Sai prefeito, entra prefeito e a paradeira é geral.

Os prédios da municipalidade estão quase todos depauperados, não há grandiosidade em nada. O paço municipal, por exemplo, é tímido e acanhado, nós, araçatubenses, temos vergonha de mostrá-lo ao visitante. Não há um prédio pomposo, grandioso que nele funcione alguma coisa da prefeitura.

Não temos um teatro municipal amplo, um grande espaço para convenções à altura de Araçatuba, nem parque para que se façam caminhadas. Temos um mercado municipal caindo aos pedaços, um arcabouço de hospital como cartão de visita, uma rodoviária malcheirosa. 

Por outro lado, visitando algumas cidades do porte de Araçatuba, seus moradores nos invejam porque conseguimos retirar os trilhos do centro da cidade. Mas isso teve um custo medonho, que comprometeu várias administrações.

As autoridades municipais, eleitas pelo povo, fizeram a obra sem auxílio do Estado de São Paulo, nem da União. Apenas com recursos do município. Até hoje, Araçatuba paga a conta. 

Em nosso nome, optaram por mudar a cidade neste aspecto, sem ter condições para tal. Como do couro sai a correia, os prefeitos que vieram depois pagaram o preço político do desgaste, porque não sobrou dinheiro para investimento, apenas para pagar dívidas.

A partir de 2001, entrou em vigência a Lei de Responsabilidade Fiscal. O primeiro prefeito que assumiu sob a sua égide foi Maluly Neto. De lá por diante, nenhum prefeito pode deixar obra sem terminar e nem empréstimo para o outro pagar. Ótima lei, porque o político esperto e desonesto fazia muito, deixava uma enorme dívida para seus sucessores, como aconteceu com a mudança dos trilhos. E hoje reclamam do asfalto esburacado, sendo eles que fizeram tal sacanagem com o povo, fazendo asfalto de má qualidade.    

Se a Lei de Responsabilidade Fiscal estivesse em vigor na época da mudança dos trilhos, a obra não teria saído. Em 2008, a Prefeitura de Araçatuba terminou de pagar um dos empréstimos, mas ainda resta pagar as desapropriações feitas para que houvesse novo traçado.

Restaram-nos os prédios antigos da estrada de ferro, dos quais temos a posse, mas não o domínio, mas eles trazem poucos benefícios. Além de mudar o traçado, reconstruir a estação ferroviária e a vila dos ferroviários, tivemos que construir a avenida no lugar dos trilhos para que a cidade ganhasse mais urbanidade. Haja dinheiro... E fizeram tudo de péssima qualidade.

Pretendemos apenas dizer que dinheiro não cai do céu. Na empresa e na família, enquanto se paga uma dívida, quase nada se compra ou se faz de novo. Araçatuba, como município, está na mesma situação. Nosso nível de endividamento é tamanho que não conseguimos nem o empréstimo de R$ 3 milhões do BNDES recentemente. Araçatuba é um dos municípios mais endividados do Estado de São Paulo.     

*Hélio Consolaro é secretário da Cultura de Araçatuba.

5 comentários:

Régia Dossi disse...

O que gosto muito na sua coluna, é que fico bem informada. Moro em Birigui e sempre preciso dos recursos de Araçatuba. Nunca entendi porque a cidade não tem uma prefeitura decente, um hospital apresentável e um mercado municipal que nos atraia.Mas como tenho acesso aos seus textos, entendi o que se passa. Obrigada Consolaro.

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

" Se a lei de responsabilidade fiscal existisse naquele tempo, a obra nao teria saído"
Aí eu não entendi e pergunto: estaria aquela desgraçeira no centro da cidade, dividindo-a em incluidos e excluídos, ainda hoje?
Somar-se-ia a tudo uma estrada de ferro mal cuidada, inoperante. Graças a Deus, que nao existia a lei. (quase esqueci da vírgula. Alem da sua bronca estaria mal com Ele).

Hélio Consolaro disse...

Desgraceira ou não, eu quis esclarecer que o presente não é fruto do presente, mas que há um passado que complicou tudo. E que não devemos fazer do presente apenas uma emergência eleitoral, porque no futuro tais erros custarão caro à cidade.

Régia Dossi disse...

O comentário acima, além de ser crítico demais para uma crônica, que só faz esclarecer, temos que ler imaginando onde pretende chegar, e fiquei com dúvida. Contunuo agradecendo ao Consolaro, pelo bom texto.

Cecilia Ferreira disse...

Não nos interessa, Hélio, de quem é a culpa. temos olhos e podemos parecer bobos, mas não somos. Vemos que a vontade para consertar e/ou melhorar as coisas que já eram ruins esbarra na falta de dinheiro da prefeitura. Falta de dinheiro que em outros governos conseguia encobrir melhor o que não estava sendo feito. Portanto, o que está sendo feito agora é quase que tão somente pagar o funcionalismo.
Juscelino fez Brasília do nada. Os japoneses mais de uma vez recosntruiram seu país do nada. O Brasil, nem só Araçatuba, mas muito especialmente São Paulo (o PT agora deu de dizer na TV que nos ama!?!) está sendo degradada. Até onde sei Lula emprestou milhões pros blivianos fazerem metrô. E SP teve que buscar recursos a caros juros no exterior. Ah... cansei... tem tto pra falar!