AGENDA CULTURAL

23.4.11

Arabescas - Artes no mundo árabe


Exiladas em Londres, artistas árabes contemporâneas rompem dicotomia entre Oriente e Ocidente
Publicado em 01 de abril de 2011 - REVISTA CULT
Zyriab...Uma Outra História, de Houria Niati
Frances Lloyd
Artistas árabes mulheres vêm ganhando visibilidade substancial desde o início dos anos 1990 como parte de um mundo de artes cada vez mais globalizado e em rede.
Chama atenção o fato de que, nas geografias sociopolíticas imensamente distintas do Oriente Médio, norte da África e das diásporas árabes, a fértil gama de práticas artísticas de artistas árabes mulheres ter desafiado as monolíticas e estereotipadas representações de mulheres árabes dominantes na mídia. Essas mulheres são frequentemente retratadas como figuras passivas e anônimas, distantes da esfera da produção cultural e de suas histórias.
Uma indicação das práticas artísticas diversas que compõem esse poderoso corpus de trabalho pode ser obtida com uma revisão breve do trabalho de artistas árabes mulheres que vivem e trabalham no Reino Unido.
A maioria das artistas árabes de lá mudou-se para Londres entre o fim dos anos 1970 e meados da década de 1990, principalmente em decorrência do exílio voluntário ou involuntário causado pela guerra. No caso de algumas delas, as razões foram profissionais. Abrangem pelo menos quatro gerações.
As gravuras em grande escala em silkscreen de Laila Shawa Children of Peace (Filhos da Paz) eChildren of War (Filhos da Guerra), da série The Walls of Gaza (Os Muros de Gaza), iniciada em 1992, constituem imagens poderosas que destacam os efeitos de longo alcance da guerra sobre gerações de crianças palestinas.
Usando a linguagem visual gerada pela mídia e associada à pop art americana, a imagem repetida em silkscreen de um garoto sobre uma superfície fortemente colorida apresenta um ciclo interminável de vítima e agressor.
No pano de fundo há fotos feitas por Shawa ao longo de vários anos de pichações feitas nos muros de Gaza, uma forma de comunicação posicionada de maneira diferente.
A instalação de Houria Niati Ziriab… Another Story (Ziriab… Outra História, 1998) – série de pinturas sobre rolos de papel pendurados, um mosaico de desenhos no chão, uma montagem de parede, ao lado do texto das canções Ziriab de Hiati – reúne formas e motivos informados pela arte e arquitetura europeias e árabes.
Homenagem a Ziriab Iba Nafi, compositor do Oriente Médio que viveu exilado em Córdoba, na Espanha (então parte do Império Árabe-Islâmico) no século 9, a instalação aponta diretamente para outras histórias da cultura árabe e para gêneros de música e canção que viajaram para a Argélia e sobreviveram à colonização, à guerra e às restrições impostas pelo fundamentalismo islâmico no fim dos anos 1990.
Em comparação com ela, a instalação Current Disturbance (Perturbação Atual, 1996), de Mona Hatoum, consiste em uma série de gaiolas metálicas empilhadas, equipadas com lâmpadas e com o som amplificado de correntes elétricas, que ganham vida em intervalos irregulares, evocando sensações viscerais de vigilância e aprisionamento.
As questões que cercam as representações monolíticas de mulheres árabes são tratadas também pelo trabalho de base fotográfica de Jananne Al-Ani e Zineb Sedira. As primeiras instalações fotográficas e trabalhos em vídeo de Al-Ani representam suas três irmãs, ela própria e sua mãe, todas tendo se mudado para o Reino Unido em 1980, vindas do Iraque, onde Al-Ani nasceu e foi criada.
Em suas grandes fotos em preto e branco de meados dos anos 1990, Untitled (Veiling Project) (Sem Título, Projeto de Velar), o olhar direto da fileira de cinco mulheres sentadas é mostrado em vários estágios de colocação do véu, retirada do véu ou retirada da roupa, buscando ao mesmo tempo ressaltar e desestabilizar os códigos que categorizam e fixam identidades culturais.


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