AGENDA CULTURAL

10.4.11

A segunda guerra dos navegadores

Três browsers de qualidade - Chrome 10, Firefox 4 e Internet Explorer 9 - competem pelo mercado que já foi dominado pela Microsoft e quem sai ganhando são os usuários



RENAN DISSENHA FAGUNDES - REVISTA ÉPOCA
O WorldWideWeb, primeiro navegador da história, foi lançado ao público em agosto de 1991. Criado por Tim Berners-Lee, o programa, todo cinza e com uma interface textual que não faz muito sentido para os usuários de hoje, era então a única forma de acessar a outra famosa invenção do cientista britânico: a própria web. Quase 20 anos depois, nunca antes houve tantas boas opções de navegadores quanto agora. Em março, as empresas por trás dos três principais browsers disponíveis no mercado lançaram novas versões - rápidas, modernas e minimalistas - de seus programas. Até mesmo o novo IE - líder, mas patinho feio do trio, formado também pelo Chrome e o Firefox - foi recebido com críticas bastante positivas.
Essa competição entre três programas de qualidade é inédita na história dos navegadores, e a concorrência parece estar levando as empresas para o lado certo: a nova geração de browsers é mais rápida, mais segura e está mais preocupada em seguir certos padrões desenvolvidos para a web. O World Wide Web Consortium (W3C), fundado por Bernes-Lee em 1994, é a entidade responsável por definir e defender esses padrões. O HTML, a linguagem base com a qual são construídos os wesites, é um deles. Os padrões da W3C dizem respeito a quais estruturas são utilizadas para a criação da web - páginas que os respeitam são mais leves e funcionam melhor -, mas os navegadores também precisam aceitar esses padrões. E eles estão aceitando. O HTML5, por exemplo, a mais nova versão do HTML: os navegadores novos competem para ver qual está mais estruturado para entender páginas com a nova linguagem.
Mas nem sempre a concorrência entre navegadores foi boa para os usuários - o resultado de uma competição semelhante, nos anos 1990, não foi tão agradável. A história dos navegadores foi marcada por duas empresas que chegaram a dominar o mercado quase completamente: primeiro a Nestcape, e depois a Microsoft. Lançado em dezembro de 1994, o Netscape Navigator já tinha quase 80% do mercado no fim de 1995. Em novembro daquele ano, a Microsoft lançou, completamente grátis, o Internet Explorer 2. A substituição do Netscape pelo IE ganhou o nome de guerra dos navegadores e virou até documentário no Discovery Channel. Durante a guerra, entre 1995 e 1999, as duas empresas se preocuparam mais em adicionar novos recursos aos softwares do que em arrumar problemas, muitos deles problemas de segurança. A adesão aos padrões da W3C também ficou em segundo plano - era preciso muito mais trabalho dos desenvolvedores para garantir que um site funcionaria nos dois navegadores.
E então a Microsoft ganhou. Se você usava a web no começo da década de 2000, sabe disso: deve lembrar uma época em que o IE era praticamente a única opção, ou o programa que a maior parte das pessoas usava (o Opera, ainda hoje uma alternativa menos usada [e líder no mercado de navegadores para celulares], já existia desde 1996). Depois de vencer a primeira guerra dos navegadores, o IE chegou a ter mais de 90% do mercado. Se a concorrência tinha atrapalhado, o monopólio foi pior ainda: o IE 6, lançado em agosto de 2001, quando a Microsoft já era onipresente no mercado de browsers, é um dos navegadores mais criticados da história. Era cheio de falhas de segurança, o CSS - um dos padrões da W3C mais usados na internet não - era totalmente aceito, era instável.
A Microsoft levou cinco anos para lançar o IE 7 e quando ele veio, já era tarde demais para a empresa manter seu domínio completo do mercado. O uso do IE teve um pico entre 2001 e 2004, mas a participação do software só caiu desde então. Descendente em código aberto do Netscape 4, foi o Firefox quem quebrou o domínio do IE. A primeira versão oficial do browser foi lançada pela Mozilla Foundation, uma organização sem fins lucrativos, em novembro de 2004. É aí que começa uma segunda versão da guerra dos navegadores, mas, diferente da primeira, com bons resultados para os usuários.
O IE, hoje, tem apenas 45,11% do mercado de browser, e em queda: perdeu quase 10 pontos percentuais apenas nos últimos 12 meses. Em uma repetição da primeira guerra dos navegadores, o Firefox seria o candidato ao trono, mas a situação não é bem essa: do seu lançamento até junho de 2009, o Firefox conseguiu ganhar 30% dos usuários de internet, e nada mais. O crescimento está estagnado desde então, com 29,99% do mercado em março de 2011. Mas se o IE está em queda constante e o Firefox estagnado, para onde estão indo os usuários de internet? Para o Chrome, lançado pelo Google em dezembro de 2008. Em pouco mais de dois anos, o Chrome já tem 17,36% dos usuários de internet do planeta, e é o único dos três principáis navegadores que ainda está crescendo.
É nesse ambiente que os três principais navegadores do mercado ganharam novas versões: o Chrome 10, o Firefox 4 e o Internet Explorer 9. O Chrome era então tido como a melhor opção - a versão anterior do Firefox apresentava alguns problemas de performance e o IE não é exatamente conhecido pela velocidade e pela segurança -, mas os lançamentos do último mês colocaram os três browsers meio que em um empate.
Há uma série de testes padrão para comparar navegadores. A maior parte deles envolve velocidade na utilização de recursos da internet, mas há outros, como de consumo de energia em laptops. Realizados por diversos blogs especializados em tecnologia, esses testes mostram que, embora em alguns quesitos um programa seja um pouco melhor que outro, no geral não é possível apontar um ganhador óbvio. Os três programas são bons do ponto de vista técnico. O IE 9 já é considerado o melhor navegador da história da Microsoft, e o Firefox 4 tem a velocidade necessária para conseguir de volta quem trocou o programa da Mozilla pelo Chrome. Para o usuário, a escolha vai acabar sendo pessoal, e nos detalhes.

Nenhum comentário: