AGENDA CULTURAL

5.6.11

Casarão da Fazenda do Estado


Casarão da Fazenda do Estado - após revitalização

Hélio Consolaro*

Os anos vão nos deixando mais chorões, principalmente quando revisitamos o passado. Voltar a um lugar onde passamos a infância ou adolescência nos faz lacrimejar.

No sábado de manhã, fui à inauguração da nova sede da secretaria municipal do Meio Ambiente/Araçatuba-SP, coordenada por um argentino muito simpático (coisa rara): Jorge Hector Rozas, no casarão onde funcionava a antiga sede do Posto Experimental de Criação, a Fazenda do Estado, final da rua Newton Prado.
Casarão, como sede de uma secretaria municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, 
precisava mesmo ter coleta seletiva de lixo
A fazenda de quase 100 alqueires, onde está atualmente o recinto de exposição Clibas de Almeida Prado e vários conjuntos habitacionais. Nela eram feitos experimentos avançados, como aperfeiçoamento de raça, inseminação artificial, rodízio de pastagem com cerca elétrica.  Lá também havia um posto meteorológico do Ministério da Agricultura, pela fazenda conheci como a ciência pode melhorar a vida das pessoas.

Como lá trabalhei de 1963 a 1968, como office boy, auxiliar de veterinário, escriturário, voltar àquele recanto da cidade, onde há bosques, alguns macacos e prédios que continuam de pé depois de quase um século de construção, a visita mexeu com o meu coração.
A escada dos fundos. Essa parte da casa foi acrescentada 
ao casarão na década de 60 
No casarão, morava sempre o encarregado da fazenda, que era um zootecnista. Casarão de 10 cômodos, porões, varanda, escadarias na frente e no fundo. O prédio foi pintado e os arredores ajardinados. Toda vez que leio livros cujas ações ocorrem em fazendas, com grandes sedes , o casarão é a imagem de minhas lembranças.

Durante a inauguração, entre discursos e almoço, eu via muitas sombras e espíritos andando por lá, espiando por trás dos troncos das árvores. Se há todo aquele arvoredo, a idéia foi de Theofilo Siqueira Branco, um dos zootecnistas encarregado ao longo do tempo.
Nesta porta, entrada para uma parte do porão, funcionou
por alguns anos o escritório do Posto Experimental de Criação.
O Consa está de pé, recordando os velhos tempos, onde trabalhou
Alcides Fagundes Chagas, nome da avenida de acesso ao recinto de exposição, quando vivo, morou naquele casarão, como encarregado da fazenda, juntamente com sua esposa, Dona Elisa de Almeida Chagas, a filha Leda Maria Chagas (depois Scala) e a cunhada Marina Morato de Almeida.

Por lá também esteve Dr. Roberto Pedro Benintendi (cunhado do Juvêncio Gomes). Walter Dupas também administrou a fazenda por dois períodos. Com a extinção do Posto Experimental de Criação, a área passou para a Divisão Regional Agrícola.   
Consa, o antigo usuário do casarão; Jorge Hector Rozas, o atual
Vou também contemplar os trabalhadores da Fazenda do Estado, quase todos falecidos. Mas há um, que deve estar beirando os 100 anos, o Senhor Policarpo, que perdera uma das mãos numa máquina do Posto Experimental de Criação. Com o acidente, transformou-se em porteiro, ficava numa guarita. Mineiro de São Lourenço (MG), conhecia São Paulo, e por ele conheci pela primeira vez São Paulo. Levar mensalmente a papelada ao Departamento de Produção Animal, Secretaria Estadual da Agricultura.

Por lá também passaram José Lourenço, Clodoaldo Leme, Bartolo Sanches, Antônio Davantel, Benedito Cesário, Durvalino, Joaquim Antônio, João Bonilha, os três Antônios Boreggio, Pedro Bellinello, Robério de Souza Rocha, João Sanches (filho do Bartolo), Sebastião do Amaral, Josino Cardoso, João Leme.  

O menino Consa, que aprendeu muita safadeza com a peonagem e fez muitas estrepolias, hoje é uma das poucas testemunhas daquele recanto.  

Se a profecia do prefeito Cido Sério, feita em seu discurso de inauguração, ocorrer (aquele espaço se transformar num parque, o nosso Ibirapuera) muita gente vai se sentir homenageada com a preservação de uma parte da memória de Araçatuba.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal da Cultura de Araçatuba.


Um comentário:

Anônimo disse...

PARABENS SENHOR HELIO PELA LINDA MATÉRIA E PELO CARINHO QUE FOI A ELA DEPOSITADO, MAS UMA VEZ PARABENS.