AGENDA CULTURAL

19.10.11

Meu infinito é você

Hélio Consolaro*

Onde está o meu amor?/ Quem será, com quem se parece?/ Deve estar por aí/ Ou será que nem me conhece? – Paulo Ricardo - http://youtu.be/OqHvPRRjjB0

Ela saiu de sua cidade, e ele também. Ambos desligaram o computador e viajaram para uma terceira cidade. Na estrada, cada coração dentro de seu carro pulsava mais rápido que o motor. As linhas paralelas do asfalto levavam para a tortuosa paixão.

Que loucura! Largar tudo e ir atrás do vazio. Corriam atrás de letras, de uma foto, de uma imagem. Eram apenas signos. Era uma paixão de almas à procura dos corpos.

As palavras abreviadas diziam sentimentos por extenso. Essa loucura ocorria há duas semanas. Cada um não via a hora de ligar o computador e retomar o papo. Começaram com simples alô no Facebook. Viu as fotos dele. Era simpático. Ela não era belíssima, mas muito charmosa, carismática, com um olhar sedutor.

Ambos já maduros, chamados de solteirões. Alguns até arriscavam a dizer que eram celibatários. A paixão esperava por novas tecnologias, trilharia pela via virtual, a realidade não fora arrebatadora. O bate-papo era o namoro das idéias. O teclado era tocado com volúpia, as palavras eram apaixonantes.

- Vamos nos encontrar em Guararapes!

Foi a faísca incendiária. Combinaram rapidinho. Debaixo da árvore do quiosque. Queriam apenas mostrar o físico, porque o espírito já eram velhos conhecidos. O elevador estava lerdo, o carro era lento, a estrada mostrava-se longa, as vozes nos celulares eram calientes. As placas proibitivas eram as vilãs do triângulo amoroso.

Ela chegou primeiro. Relógio, celular, cadê? Quando ele desceu do carro foi correndo ao encontro dela e ambos se abraçaram, se beijaram, como se fosse uma cena de novela, ensaiada. Ficaram assim por meia hora num beijo quilométrico. Os anjos tocaram as trombetas, cânticos gregorianos soaram no ar.

Os carros passavam em alta velocidade e buzinavam,   saudando o amor. Aquele encontro era instinto banhado por transcendência, envolto em aura.

Cada um beijava a alma do outro naquela volúpia de cabelos esvoaçantes. Levitavam-se. Aquela cena precisava ser gravada, revista, mostrada como prova de que os sentimentos é a riqueza humana.  Seria necessário baixar aquele arquivo no HD dos sentimentos nobres. Não! Nada se repete, tudo era muito lindo. Arquive-se! Grave-se! Recorde-se!

Até que os corpos se separaram, os olhos se fixaram, quiseram dizer tudo num só minuto. Ele balbuciou:

- Te amo desde quando nasci!

- Onde você estava em todo esse tempo? – perguntou ela.  

Os sentimentos não cabiam nas palavras, eram pequenas demais. Voltaram aos beijos. Não se sabe se procuraram um motel logo adiante ou se chamaram o chato do Platão.

A felicidade é um vinho raro. Quando se encontra o tonel, precisa-se tomar um porre inesquecível, até encontrar uma nova adega.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário de Cultura de Araçatuba-SP


Onde estará o meu amor

Chico César


Como esta noite findará
E o sol então rebrilhará
Estou pensando em você...
Onde estará o meu amor ?
Será que vela como eu ?
Será que chama como eu ?
Será que pergunta por mim ?
Onde estará o meu amor ?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós...
Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor?

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