AGENDA CULTURAL

26.4.12

Abaixo o idealismo

Platão - o pai de idealismo


Hélio Consolaro*


Em 1974, eu havia acabado de provar o amargor de uma ditadura. Os jovens não podiam tanto. Antes, cristão, depois marxista, naquele ano eu estava perdido, não tinha onde me segurar, nenhuma teoria, nenhuma religião.

Ainda com televisão em preto e branco, vi um filme. Daqueles que passam para preencher espaço na grade da programação diária e havia uma assembléia religiosa no enredo. Achei aquilo tão bonito... Sentia falta de pertencer a uma tribo, de ter aquele sentimento de pertença. 

Acabei voltando à igreja. Encontrei algo mais maduro, não era mais aquela religiosidade infantil, que muita gente vive até hoje em vários credos. Gostei. Construí um projeto de vida. 

Mais recentemente, perdido novamente, navegando pelas ruas da cidade, passei defronte a uma igreja evangélica e li um aviso na porta: “Entre, resolveremos todos os seus problemas”. Confesso, caro leitor, que quase adentrei aquele templo à procura de um bálsamo. O pastor era um pescador de almas em processo de afogamento, lançando-lhes uma tábua de salvação. 

Hoje, mais maduro, elegendo os valores universais como meu paradigma, pareço viver sem uma mística. Será? É possível, se até os ateus a têm? Assim, meio cético, sem ver muita luz no fim do túnel, vivo a cada dia intensamente sem saber o porquê.   
   
Descubro que sentido da vida está em tudo, sou meio holístico, mas não quero pertencer mais a um grupo, me submeter a regulamentos, ser remetido à comissão de ética, etc.

Vivo num grupo que administra a minha cidade. As tarefas me ocupam o cotidiano, e cumpro minha função alegremente. Não tenho aquele pensamento esquisito de estar fazendo uma coisa, mas querendo outra. Agora, minhas ações no presente são as melhores e estou contente por fazê-las. Quer felicidade melhor do que isso?

Também sou rotariano. O Rotary propõe os valores universais como meta de vida, com o slogan maior de pensar em servir, em vez de querer ser servido. Sei que há muita hipocrisia no clube, mas ela existe em todos os agrupamentos humanos. As nossas falhas estão presentes em todas as igrejas e grupos. Passou a minha fase de querer encontrar um grupo perfeito ou uma mulher perfeita. Eles não existem. Vivo para encarar a realidade, abaixo o idealismo que me deixou infeliz por vezes.  

Não quero ser mais uma pessoa famosa, como pensava na minha adolescência, nem pretendo bestamente consertar o mundo. O mundo está bom do jeito que está, querer melhorá-lo é ingenuidade. Vou apenas me mudando, quando percebo que atrapalho a boa convivência.

Não sei por que escrevo isso, caro leitor. Apenas para nos interagirmos. Gosto de escrever, esse ato é o ar que respiro. Para que alguém não diga que não escrevi sobre as flores, escrevo-lhe para dizer que a vida não tem muito sentido, as setas indicativas de rumos são postas por nós mesmos pela estrada.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor – Araçatuba-SP
        

2 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

É na nossa faculdade de colocar as setas indicativas de rumos que está o sentido da vida. Falta amadurecer um tiquinho mais....

Anônimo disse...

Helio voce escreveu o que eu penso, temos que viver o dia de hoje sem nos prender ao passado, ou pensando muito no futuro, se tivermos em cada ação o amor, tudo há de fluir levemente, naturalmente, nada de manipulação,de pressão,temos que voar com os pés no chão como nossa imaginação. da amiga Marianice