Platão - o pai de idealismo |
Hélio
Consolaro*
Em 1974, eu
havia acabado de provar o amargor de uma ditadura. Os jovens não podiam tanto.
Antes, cristão, depois marxista, naquele ano eu estava perdido, não tinha onde
me segurar, nenhuma teoria, nenhuma religião.
Ainda com televisão
em preto e branco, vi um filme. Daqueles que passam para preencher espaço na
grade da programação diária e havia uma assembléia religiosa no enredo. Achei
aquilo tão bonito... Sentia falta de pertencer a uma tribo, de ter aquele
sentimento de pertença.
Acabei
voltando à igreja. Encontrei algo mais maduro, não era mais aquela religiosidade
infantil, que muita gente vive até hoje em vários credos. Gostei. Construí um
projeto de vida.
Mais
recentemente, perdido novamente, navegando pelas ruas da cidade, passei
defronte a uma igreja evangélica e li um aviso na porta: “Entre, resolveremos todos
os seus problemas”. Confesso, caro leitor, que quase adentrei aquele templo à
procura de um bálsamo. O pastor era um pescador de almas em processo de afogamento,
lançando-lhes uma tábua de salvação.
Hoje, mais
maduro, elegendo os valores universais como meu paradigma, pareço viver sem uma
mística. Será? É possível, se até os ateus a têm? Assim, meio cético, sem ver
muita luz no fim do túnel, vivo a cada dia intensamente sem saber o porquê.
Descubro que
sentido da vida está em tudo, sou meio holístico, mas não quero pertencer mais
a um grupo, me submeter a regulamentos, ser remetido à comissão de ética, etc.
Vivo num
grupo que administra a minha cidade. As tarefas me ocupam o cotidiano, e cumpro
minha função alegremente. Não tenho aquele pensamento esquisito de estar
fazendo uma coisa, mas querendo outra. Agora, minhas ações no presente são as
melhores e estou contente por fazê-las. Quer felicidade melhor do que isso?
Também sou
rotariano. O Rotary propõe os valores universais como meta de vida, com o
slogan maior de pensar em servir, em vez de querer ser servido. Sei que há muita
hipocrisia no clube, mas ela existe em todos os agrupamentos humanos. As nossas
falhas estão presentes em todas as igrejas e grupos. Passou a minha fase de querer
encontrar um grupo perfeito ou uma mulher perfeita. Eles não existem. Vivo para
encarar a realidade, abaixo o idealismo que me deixou infeliz por vezes.
Não quero
ser mais uma pessoa famosa, como pensava na minha adolescência, nem pretendo
bestamente consertar o mundo. O mundo está bom do jeito que está, querer
melhorá-lo é ingenuidade. Vou apenas me mudando, quando percebo que atrapalho a
boa convivência.
Não sei por
que escrevo isso, caro leitor. Apenas para nos interagirmos. Gosto de escrever,
esse ato é o ar que respiro. Para que alguém não diga que não escrevi sobre as
flores, escrevo-lhe para dizer que a vida não tem muito sentido, as setas indicativas
de rumos são postas por nós mesmos pela estrada.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor – Araçatuba-SP
2 comentários:
É na nossa faculdade de colocar as setas indicativas de rumos que está o sentido da vida. Falta amadurecer um tiquinho mais....
Helio voce escreveu o que eu penso, temos que viver o dia de hoje sem nos prender ao passado, ou pensando muito no futuro, se tivermos em cada ação o amor, tudo há de fluir levemente, naturalmente, nada de manipulação,de pressão,temos que voar com os pés no chão como nossa imaginação. da amiga Marianice
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