A partir dos estudos de pinturas e
fotografias de figuras femininas de mais de três séculos, a bailarina Nathalia
Catharina transforma a bidimensionalidade das imagens em tridimensionalidade em
seu segundo solo de dança.
Quais as continuidades e
descontinuidades estéticas e culturais entre os corpos femininos passados
(apresentados por artistas plásticos dos séculos XVI, XVII) e o corpo feminino
atual representado por esta bailarina? Em cena um jogo entre luz e sombra, tons
de cinza e cor, recortes e repouso de movimento, desenho do corpo na luz,
linhas de perspectiva:
Frágil recria dramaturgicamente a transformação da representação do
corpo feminino ao longo dessas épocas através de uma plasticidade figural.
Ao mesmo tempo misterioso e
romântico, atual e nostálgico,
Frágil permite que o público percorra diversas épocas por um breve
instante, fazendo-o refletir sobre sua permanência e ruptura. O figurino de
Theodoro Cochrane trás os tons das pinturas renascentistas, revelando
a pele através de sobreposições de tecido e transparências. A luz de Fabrício
Licursi e a trilha sonora composta por Manuel Pessôa especialmente para o solo,
ambientam essas épocas, permitindo que o espectador transite sinestesicamente
pelas mesmas.
O que se pode dançar, negar ou
rememorar desses corpos de mulheres que já foram e que ainda são?
ROTEIRO DA OBRA COREOGRÁFICA
Frágil parte da idéia de uma
narrativa multi-trama, enfocando o corpo em três momentos históricos distintos
vistos a partir de pinturas renascentistas (século XVI e XVII), de fotografias
do século XIX e dos tempos atuais (século XXI). Essa trama de múltiplas épocas
é re-traduzida em múltiplas corporeidades, a partir do trânsito de uma imagem à
outra (baseado na técnica de movimento-imagem), a partir do qual constituímos
uma época, clima e/ou personagem. Alguns dispositivos coreográficos que embasam
a construção de Frágil são: deslocamento e condensação, repetição, variação de
ritmo e dinâmica, movimentos protagonistas e coadjuvantes, fragmentação e
recolocação de um movimento no tempo-espaço, princípios que permitem ao público
tecer uma narrativa a partir de associações entre as imagens que se repetem ao
longo da performance e da variação entre essas constantes coreográficas.
A coreografia conta com seis momentos
e é construída a partir da apropriação das obras de artes visuais selecionadas
(Rubens, Ticiano e Leonardo da Vinci), empregando-se técnicas da improvisação
dança-teatro, parâmetros plásticos de pinturas, desenhos e fotografias como
linhas, perspectiva, luz e sombra, foco, paisagem e ponto de fuga, além de
dispositivos da consciência corporal tais como torções, pontos de apoios e
pêndulo, entre outros. Para esse processo conto com a interlocução da
coreógrafa Juliana Moraes. A iluminação e trilha sonora composta especialmente
para a obra trás consistência ao deslocamento, criando o ambiente de cada
imagem e movimento durante a coreografia.
A dramaturgia se faz no encadeamento
e fusão de uma imagem na outra, buscando-se uma narrativa que revele as épocas
estudadas e que coloque em questão a representação imagética e social do corpo
feminino na atualidade.
No início uma pequena imagem corporal
vai sendo revelada por uma luz que cresce sutilmente. Aos poucos esse corpo vai
se transfigurando pelas épocas que o atravessam, passando por momentos de
densidade e humor e de tônus ora elevado, ora leve. Finalmente ao final
chegamos à pele que é evidenciada por uma luz que vai fechando seu foco até
enxergarmos apenas uma mancha, como uma pincelada de um dos quadros.
CONCEPÇÕES
Concepção de
Iluminação-cenário
Fabricio
Licursi
Em Frágil, visa-se um
desenho de luz a partir da observação das "imagens femininas"
coletadas pela bailarina Nathalia Catharina e do material corpóreo levantado
por ela durante a pesquisa/ensaios. Na primeira etapa observou-se tonalidades,
formas, perspectivas e a relação entre luz e sombra presentes nas imagens
femininas escolhidas pela bailarina. Na segunda etapa pesquisou-se a
luminosidade da cena a partir da definição do espaço cênico do solo e do
material poético desenvolvido pela solista; nesse sentido a luz desenha e
constrói a cenografia de Frágil,
criando recortes, sombreamentos, justaposições e cores no palco, ambientando as
cenas e revelando o espaço cênico. O intuito foi construir uma iluminação
que teça uma narrativa com a bailarina, abrindo espaço para que luz e corpo
construam a dramaturgia do solo em parceria.
Concepção de
Figurino
Theodoro
Cochrane
O figurino para a peça
Frágil foi concebido em
sintonia com a iluminação e movimentação da intérprete. Trabalhou-se a
construção de uma vestimenta que carregue em si as três épocas estudadas pela
bailarina: peso, volume e tons avermelhados de afrescos e pinturas
renascentistas, o contraste de luz e sombra presentes nos registros
fotográficos do século XIX, ao mesmo tempo em que evidencia a pele e a transparência, no
intuito de expor a natureza de um corpo atual, o da própria bailarina em cena.
Concepção de
Música
Manuel Pessôa
O princípio que me norteou para a
trilha sonora da peça é o de som e silêncio que ora conduzem e ora se opõem à
movimentação da solista. Em constante jogo com os princípios de deslocamento e
condensação da performance, a música igualmente conduz o espectador a se
deslocar para uma época antiga a partir de sons de órgão, harpa, cello e flauta
transversal, assim como deve ser capaz de condensar a apreensão da cena quando
trabalha com ruídos e silêncio, trazendo a percepção para o tempo presente.
Esse inquietante diálogo sonoro tece a narrativa musical que guia os passos de
Frágil.
10/08 – sexta-feira - teatro municipal Castro Alves
Proac Espetáculo de Dança “Frágil”
20h30 - Indicação: acima de 12 anos
Ingressos: gratuitos, distribuição no local, uma hora antes.
FICHA TÉCNICA
- Nathalia
Catharina.................................................Concepção, direção
e criação
- Juliana
Moraes.........................................................Interlocução
- Theodoro Cochrane................................................
Figurino, cabelo e maquiagem
- Fabricio
Licursi....................................................... Desenho de
Luz
- Manuel
Pessôa.........................................................Direção Musical
- Osmar
Zampieri.......................................................Registro em
Vídeo
- Osvaldo
Guarnieri...................................................Fotografia e
desenho visual
- Fábio
Leão.................................................................
Violoncelo
- Judite de
Lima............................................................Confecção de
figurino
- Larissa
Orlow..............................................................Produção
Executiva
- Olga
Vereiski................................................................Assistência
de Produção
- Lu Cassas & Lica
Nielsen...........................................Assessoria em
Comunicação
Aproximadamente 40 minutos.
ESTE ESPETÁCULO FOI FINANCIADO PELA SECRETARIA ESTADUAL DE CULTURA (PROAC). A DIREÇÃO DO ESPETÁCULO ESCOLHEU ARAÇATUBA PARA APRESENTÁ-LO.
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