AGENDA CULTURAL

15.8.12

Meu amigo Valdir Silva

Norma e Valdir

Na década de 90, deixei a militância política e me voltei de corpo e alma para o magistério novamente. Não havia abandonado a sala de aula, mas não me interessava pelos cursos de capacitação. O meu negócio era política.

Nessa volta, descobri que tudo havia mudado e eu não havia percebido nos detalhes. E em Araçatuba, a mudança era personalizada, chama-se supervisor de ensino Valdir Silva. Tivemos até alguns embates, chegando expressá-los  ao jornal.

Senti-me o representante do conservadorismo. Isso me incomodava, pois sempre gostei de defender o novo. Um dia fui chamado à Delegacia de Ensino, que funcionava ao lado da Faculdade de Odontologia de Araçatuba. Fui falar com o Valdir Silva que  me convidava para fazer alguns cursos. Aceitei o desafio e eles viraram a minha cabeça. Então, passei a ser mais um acólito do Valdir Silva: construtivismo, Emília Ferreiro, psicogêne, etc.

Eram práticas e teorias que eu havia estudado na Faculdade de Penápolis, no meu curso de graduação, com o professor Erasmo (não sei o sobrenome), um professor meio louco - no bom sentido - do Curso de Pedagogia que ministrava matérias da área pedagógica em todos os outros cursos.

A Secretaria Estadual de Educação no concurso de 1976 me fez ler toda a bibliografia de uma pedagogia conservadora: 60 livros. E assumi aquela lavagem cerebral. Assim voltei a Araçatuba em 1977, assumindo um cargo na EPSG Prof. Genésio de Assis.

Realmente, na década de 90, antes do confronto com o professor Valdir Silva, eu estava frustrado com o magistério. Isso me incomodava, não era o que eu desejava ao fim de carreira. Não queria ser um professor aposentado se alcoolizando ao pé de um balcão de  bar dizendo que os tempos antigos eram melhores.

Em 1993, fiz um curso de espiritualidade com Frei Betto e Leonardo Boff, descobri as questões holísticas. Em 1994, eu já estava no jornalismo, Folha da Manhã, quando fui convidado pelo professor Juca Torquato, então delegado de ensino, por influência do professor Valdir Silva, a fazer um curso na Fundação do Desenvolvimento Escolar para capacitar os professores de Português das escolas estaduais da região. 

Ônibus leito pago nos finais de semana para ir a São Paulo, hotel do bom, e ainda recebia uma grana. E o mais animador, curso com os melhores professores da USP, Unesp e Unicamp. Fiz um curso de pós-graduação. Fleury terminou o mandato, assumiu o Mário Covas em 1995. O velho tucano não deu continuidade ao projeto.

Não passei nada a ninguém, mas aprendi muito, meu magistério ganhou novo frescor. Minha vida melhorou.

Para mim Valdir Silva não foi apenas um colega, ele foi um mestre, percebeu minha angústia e jogou luz no meu caminho.  Poucas pessoas pisaram o chão de meu coração, ele foi uma delas. Exemplo de bom pastor,não quis perder  sequer uma ovelha.

Morrer não é bom. Perder amigos também, mas não há outro caminho. Alguns vão mais tarde, outros mais cedo. Quem sou eu para dizer que o Valdir Silva morreu precocemente... Até breve amigo.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista,  escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
 Depoimento da professora Rosa Maria (Guararapes)
Apesar de ser especialista em gestão e legislação , na década de 90, trabalhando comigo na orientação do antigo Ciclo Básico,entrou em contato com a teoria de Emília Ferreiro , Psicogênese da Língua Escrita e dedicou-se ao estudo da mesma. Juntos, montamos o "Grupo de Vanguarda", formado por docentes alfabetizadores que, voluntariamente, queriam construir uma nova metodologia de alfabetização, baseada na teoria em estudo.O Valdir dedicou-se então, também,  à orientação pedagógica. Até sua atitude, às vezes,  intransigente e mal interpretada, refletia seu compromisso com a melhoria da qualidade de ensino. 

Valdir da Silva (1947-2012)
Nasceu em Rio de Cedros, Santa Catarina.
Cursou o Seminário dos Salesianos no Rio Grande do Sul (Taquari) e depois em Santa Catarina (Rodeio). 

Chegou a usar batina. Ao terminar o Ensino Médio foi para Florianópolis, Santa Catarina, cursar Letras Neolatinas. Fez o 1º ano e depois foi para Santos, São Paulo, terminar o curso, morando na casa da sua madrinha.

Ao terminar Letras, lecionou em Itanhaém, São Paulo, por um ano, residindo em uma pensão.

Quando Norma, professora e sua futura esposa, deixou 18 aulas de Francês na Escola Estadual Afonso Shimidt, em Cubatão, São Paulo, ele passou a lecionar lá. Foi assim que Valdir e Norma se conheceram.
Lecionou Português na Escola Estadual Vila Matias em Santos, São Paulo, já casado com Norma e esperando o primeiro filho, Guilherme.

Na ocasião do primeiro concurso para Professores do Estado em formato de teste, Norma escolheu a escola onde trabalhava em Cubatão.

Em 1976, Valdir passou em Português no segundo concurso e, tendo conhecido Guararapes, São Paulo, pois os sogros lá moravam, encantou-se tanto com a cidade (agora com mais um filho, Daniela), que Norma removeu-se para a E.E.P.G Prof. Waldemar Queiroz na cidade e ele escolheu o CENE como sua sede. Todos se lembram dele como um professor competente e exigente.

Logo após, prestou concurso público para diretor de escola, indo para a Vila Sônia no Guarujá, São Paulo, mas logo voltando para Araçatuba, São Paulo, para trabalhar na DRE, na gestão de Tito Damaso. Removeu-se para o CENE, continuando, porém, na DRE.
Passou no concurso público para supervisor de ensino e escolheu a DE de Araçatuba, São Paulo, onde ficou até sua aposentadoria em 1998 (no D.O. de fevereiro desse mesmo ano, na mesma folha, Norma aposentou-se também, agora como Supervisora).

Trabalhou muito com Alfabetização de Crianças e formou   muitos mestres dessa fase escolar. Ele tinha paixão pela Educação e ideias avançadas para o seu tempo. Como pessoa era de uma retidão ímpar.

Em 2010, apareceram os primeiros sintomas do Mal de Parkson, mas não foi dessa doença que faleceu. Ocorreu um problema no intestino que lhe foi fatal em 03 de agosto de 2012.
DEPOIMENTO  DE GUILHERME SILVA - COLHIDO  DOS COMENTÁRIOS DESTE BLOG -Filho de Valdir Silva

Tive aulas de redação com meu pai. Ele começava a redação com o parágrafo. Depois a redação e a construção do discurso saiam naturalmente.
Praticamente foi o que me colocou na universidade. Fez a diferença no final. Devo a ele também a revisão da minha dissertação de mestrado e tese de doutorado.
Mas, lembro a você e seus leitores que sou engenheiro. Isso, em parte, desculpa meus erros de comunicação.
Aliás, só sou engenheiro por causa do meu pai pelo incentivo nos dias difíceis de universidade e pelos dias na infância que ia ao sítio consertar e construir coisas e casas.

2 comentários:

GuilhermeSilva disse...

Suas palavras me emocionaram muito. Muito obrigado em nome de Norma, Daniela e Guilherme.

Já enviei a sua postagem por email para vários amigos. No entato, não expliquei nada direito e ainda o link não funcionava, quer dizer, falha total na comunicação escrita. Tenho certeza que meu pai não faria isso.

Tive aulas de redação com meu pai. Ele começava a redação com o parágrafo. Depois a redação e a construção do discurso saiam naturalmente.

Praticamente foi o que me colocou na universidade. Fez a diferença no final. Devo a ele também a revisão da minha dissertação de mestrado e tese de doutorado.

Mas, lembro a você e seus leitores que sou engenheiro. Isso, em parte, desculpa meus erros de comunicação.

Aliás, só sou engenheiro por causa do meu pai pelo incentivo nos dias difíceis de universidade e pelos dias na infância que ia ao sítio consertar e construir coisas e casas.

jose edson bonfim disse...

Realmente, o prof. Valdir - foi um Grande Professor .Tive o privilégio de ter sido seu aluno - na Escola João Arruda Brasil "CENE" - quando ele lecionou para nossa turma "Tecnicas de Redação". Confesso que após o professor Valdir é que aprendi e passei a tomar gosto por redação.
Mestre Valdir, que teu espírito possa ter muita, paz e luz no plano que estiver.