AGENDA CULTURAL

30.12.12

Anistia reconhece perseguição ao padre Augusti

Quinze anos depois de sua morte, padre José Eduardo Augusti foi anistiado
Publicado no jornal O LIBERAL, de 30/12/2012 - Araçatuba-SP
À direita, padre José Eduardo Augusti com o Dom Paulo Evaristo Arns
 Na manhã ensolarada de um sábado, no início do mês de dezembro, no Memorial da Resistência, em São Paulo, a Caravana da Anistia julgou e concedeu anistia política ao padre José Eduardo Augusti, que foi considerado vítima da repressão política ocorrida no país durante a ditadura militar. O sacerdote foi declarado anistiado político por unanimidade. Com esta decisão fez-se justiça e o Brasil se desculpou por um erro cometido por um cristão, que alheio às bandeiras políticas ou ideológicas, tinha no coração apenas o desejo de fazer o bem ao próximo. Foi incompreendido, preso e torturado. Sua saúde foi abalada pelas prisões injustificáveis. Agora, ele pode descansar o sono dos justos. A verdade triunfou.

José Eduardo Augusti exercia suas atividades pastorais como defensor dos direitos humanos em Botucatu (SP). Em julho de 1968, foi preso acusado de ter participado de um comício estudantil em São Paulo (SP). Em agosto daquele mesmo ano, foi libertado por meio de um habeas corpus . Foi indiciado pela Lei de Segurança Nacional e, em junho de 1969, condenado a um ano de prisão. Em outubro daquele ano, o padre Augusti foi preso e permaneceu no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde relatou ter sido torturado. Em 1970, foi transferido para o Presídio Tiradentes e, em outubro do mesmo ano, foi posto em liberdade. O padre Augusti morreu em 1997.

Ao longo de sua existência, padre Augusti sempre esteve ao lado dos mais oprimidos e na defesa do que entendia ser o melhor para o país e para o povo. Isso, sem dúvida, mexia com os interesses de muita gente. Ao lado de outras pessoas, lutou pela Faculdade de Medicina de Botucatu. Luta que lhe rendeu dissabores. Como outros religiosos, veio para a região de Lins, onde foi recebido pelo bispo Dom Pedro Paulo Koop, o acolhedor.

A Caravana da Anistia concedeu anistia ao padre José Eduardo Augusti, vítima da repressão política da ditadura militar
Na diocese de Lins, padre Augusti foi designado para a paróquia de Guaimbê, uma pequena cidade, mas com muitos problemas sociais. Lá, ao lado de jovens estudantes idealistas, pôde exercitar o seu sacerdócio e a sua missão de levar esperança ao povo. E foi neste grupo, onde posteriormente sobressaíram tantas pessoas, como Paulo Frateschi, Francisco Cordão e Marilene Magri Marques. Foi na pequena Guaimbê que surgiram os agentes comunitários de saúde e, depois, organizado o primeiro Encontro Nacional de Medicina Comunitária, desenvolvido em Lins, com a presença de caravanas de todo o país. O segundo não permitiram que fosse realizado.

Com atuação no Instituto Paulista de Promoção Humana (IPPH), braço social da Diocese, Augusti colaborou para iniciativas de sucesso em todo o país, inclusive elaborando projetos que buscavam recursos em instituições internacionais. Na região foram beneficiados por estes projetos duas instituições: o Instituto Noroestino de Tecnologia, Educação e Cultura (Intec), em Araçatuba e o Instituto Administrativo Jesus Bom Pastor (Iajes), em Andradina. Por meio destes institutos, milhares de pessoas foram beneficiadas ao longo de vários anos em diferentes municípios. Em, Araçatuba, o patrimônio tecnológico deixado pelo Intec foi embrião da instalação da Faculdade de Medicina Veterinária (Unesp).

Quem conviveu com o padre Augusti reconhece que era um inconformado com os problemas que afligiam milhões de brasileiros. Ajudava como sacerdote, cuidando do corpo e da alma. Por isso foi incompreendido e preso. A luta pela sua anistia foi de pessoas que sempre estiveram ao seu lado e que não admitiam a injustiça.

Segundo Maria Tereza Augusti, irmã de José Eduardo (outros irmãos são Antônio e Inês), a família não pediu indenização ao Estado, "somente a reparação [reconhecimento] do governo brasileiro da injustiça cometida". Para ela, o atendimento da Caravana da Anistia representa "o reconhecimento de que se tem uma história construída, que a juventude não sabe, e que não pode se repetir" (Com informações da Agência Brasil).

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