AGENDA CULTURAL

16.1.13

João de Deus, João da vida



Dona Cecy, mãe de João de Deus
Hélio Consolaro*



Todas as pessoas são de Deus, mas o João é mais, por isso foi batizado como João de Deus da Silva. Não era papa, apenas um Silva, um joão-ninguém. A minha amiga recém-falecida também era superabençoada no nome: Maria de Fátima de Deus. Quer nome mais santificado? Impossível...



Joãozinho de Deus, criança ainda, membro de uma prole de oito filhos abandonada pelo pai. História parecida com a de outro pernambucano: Lula da Silva.Veja só, caro leitor, que missão teve dona Cecy, transformada numa reprodutora, que não deixou de ser mãe de todos, apesar da irresponsabilidade paterna.

Edna Guilhen, Ana Rosa Castaldeli e Helena Consolaro - moradoras de Rosana-SP na época. A nissei grávida que fala o texto, a quem primeiro João de Deus anunciou o nascimento da criança, é Helena Consolaro

Na década de 70, Joãozinho de Deus era menino inquieto, dava trabalho para os professores com sua hiperatividade. Naquela época, não tinha esse nome complicado, era moleque arteiro mesmo. A cada reclamação na escola, uma surra em casa.

Prof. Laerte, rosanense


Num certo dia, o lugarejo que se ligava ao mundo apenas por um horário de ônibus descobriu que uma das poucas moradoras nisseis, ao sair da casinha ou mictório, do bar que se transformara em rodoviária de um ônibus só, escarrou lá embaixo, entre fezes e urina, uma criança chorando. O buraco da privada foi o acolhimento encontrado pelo menino neste mundo, não houve manjedoura.

Damião - cunhado de João


E assim, Joãozinho de Deus, de calção, gritou, gritou, chamou uma mulher grávida, e coincidentemente nissei, que passara , mostrando desesperado, falando aos tropeços, que lá embaixo havia um bebê.



A cidade de Rosana, na época, era um lugar desprovido de tudo. As autoridades eram os professores e dois soldados. Na ausência de bombeiros, os policiais resgataram a criança, tiraram-na da merda. Era filho ilegítimo, eram assim chamados os filhos fora do casamento naquela época, da nissei (solteira) e do cobrador do ônibus (casado).

João de Deus e Izene, sua esposa

E assim, João de Deus havia justificado o seu nome, pois foi abençoado em toda a cidade. A mãe criou o filho indesejado por força da Justiça, mas na merda ele sempre ficou, contraiu doenças mil, não durou muito, quis mesmo morrer ainda criança. Era o Natal, às avessas.



Nesses dias, encontrei-me com esses personagens na casa de uma das irmãs de João de Deus, residente em Araçatuba-SP: Márcia e Damião. João de Deus é biólogo, um senhor, mora atualmente em Sinop-MT, fez a vida por lá, casou-se, economicamente bem-sucedido. Um petista empedernido: Deus no céu, Lula na terra.

Márcia, irmã que mora em Aaçatuba, esposa de Damião

- O PT me ajudou a ver o mundo como protagonista - afirmou João.



Para a minha alegria, concluiu:



- Com o partido, passei a entender por que os meus professores Hélio e Tito, em Rosana, tinham sido presos políticos na década de 70. E passei a admirá-los ainda mais.


Para este blogueiro, o encontro com João de Deus foi uma bênção, uma bela tarde de domingo.   



*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

João de Deus atual, com a mesma alegria de viver
        

Um comentário:

Belzinha disse...

Família maravilhosa! Agradeço sempre a DEUS por ter nos presenteado com vizinhos iluminados como a Márcia e o Damião, agora entendo o porque de tanta bondade: A família toda já veio iluminada de Rosana...Excelente artigo, parabéns!!!!