Hélio Consolaro*
A questão do autoengano é
polêmica. O tema me é caro, mas confesso que não consegui ler o livro do
Eduardo Giannetti, com o título de “Autoengano”, agora escrito sem hífen,
conforme o Acordo Ortográfico. Ele não conseguiu abordar o tema com leveza. Ou é
burrice minha.
Como o próprio livro
exemplifica, adiantar o relógio para não chegar atrasado aos compromissos é um
autoengano consciente. Seria mais construtivo acabar com a mania de chegar
atrasado, organizar-se melhor. Mas o assunto é bem mais complexo.
A minha vida não é um
autoengano porque sou criatura, ela pode ser um engano divino ou uma aberração
da natureza. Porém, a imagem que
construí de mim mesmo pode ser um grande autoengano. Tenho a tentação, caro
leitor, de que não conseguimos fazer uma imagem fidedigna de nós mesmos. Daí a
pesquisa de opinião pública em busca de objetividade.
Como exemplo disso, cito o
egocêntrico. Aliás, nem sabe que é egocêntrico. Os pais eram assim, aprendeu a
ser assim por osmose. O único remédio é aceitá-lo, por isso inventamos a
compreensão, o perdão, a caridade como de amenizar o sofrimento.
O problema se aguça quando
a pessoa erra, se engana, e não tem maturidade suficiente (ou não lhe ensinaram) para fazer a autocrítica. Na verdade, erra, não admite o erro e,
ainda, joga a culpa sobre outrem.
Quem trabalha em analisar
a realidade se engana mais. Já bati fortemente, muitas vezes, com a bunda no
chão. Afinal, temos cinco
antenas (os sentidos), outros acrescentam a intuição, mas afinal há também o
raciocínio. Se cada animal vê o mundo de um jeito, será que o jeito humano de
olhar capta a realidade como ela é ou ela é apreendida conforme as limitações
de nossas antenas? Na verdade, formamos no cérebro um borrão do mundo...
Diante dessas afirmações, o
melhor instrumento de correção seria o espelho, mas em seguida, após ouvir a
verdade, queremos quebrá-lo, caso não atenda à imagem que temos de nós mesmos.
Essa agonia, essa busca
desenfreada de querer ser Deus, chegar à verdade, é que corresponde ao vale de
lágrimas, como pinta o mundo certas religiões. Parece que eu me desencanei, pois
divulgo por aí que adoro meus defeitos, porque com eles me diferencio dos
outros, mas com toda essa consciência, de vez em quando fico jururu (hoje
chamam isso de depressão), querendo me entender.
Então, caro leitor, não me
leve a sério (não se leve a sério), apesar de toda a tecnologia, ainda não
consegui responder (nem o Google me ajuda), as perguntas básicas: quem eu sou,
de onde eu vim e para onde eu vou. Quem encontrou as respostas deve estar
arrotando arrogância nas esquinas da vida.
*Hélio Consolaro é
professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Fique tranquilo professor. Ninguém arrota mais arrogância que o senhor.
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