Hélio
Consolaro*
A
presidenta Dilma Rousseff mostrou porque ocupa o cargo, soube ler o sentido das
manifestações populares e viabilizar o caminho delas. Ela demonstrou que apesar
de ser do campo da esquerda brasileira (nem toda a esquerda é assim) tem uma
vocação democrática.
Como
presidenta, não foi pedir proteção às instituições para os militares, como já
aconteceu com a direita brasileira ameaçada pelas ruas. Se há uma coisa que qualquer
militante político comprometido com as mudanças gosta é ver o povo nas ruas gritando-as,
porque assim tem respaldo para realizá-las. E a mestra Dilma foi rápida em ver
isso.
Até
me atrevo a dizer que nisso tudo não tem os nove dedos de Lula, porque a visão global
dos problemas não é inerente do cotidiano de sindicalistas, há mais uma visão
de estadista. Na verdade, a atitude de Dilma é resultado da interação de
inteligências, a abertura de espírito.
As
manifestações tinham (e têm) um viés de oposição, mas se mede a intensidade de uma
democracia pela consideração às reivindicações das minorias. E a presidenta
Dilma Rousseff fez o seu primeiro discurso acolhendo os manifestantes, dizendo
que estava ouvindo-os, que o barulho não era em vão.
Antes
daquele pronunciamento fiquei muito tenso, porque quem passou por maus pedaços
por esse Brasil, sabe qual é o sofrimento quando o trem descarrila. E me
lembrei muito que em momento semelhante, o ex-presidente Fernando Collor se enfraqueceu
quando desafiou os caras pintadas no início da década de 90, dizendo-se
portador de “saco roxo”. Felizmente, a esquerda tem lideranças mais sensíveis
às ruas.
No
parlamentarismo, as crises são administradas na recomposição do gabinete; no
presidencialismo, a menos traumática é democracia direta. Se as manifestações querem
mudanças, que as discutamos plenamente, as mais significativas
através de constituinte específica, plebiscito, referendo, etc. Isso não é perda
tempo, é uma forma democrática de construir uma nação.
Com
a virada de mesa da presidenta Dilma, a grande mídia já anda resmungando pelos
cantos, dizendo que o povo está indo longe demais. Com o Congresso Nacional
sensível ao “clamor das ruas” que outras mudanças ocorram para que construamos
um Brasil sem miséria, para todos.
*Hélio Consolaro
é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
3 comentários:
Perfeito professor!
Faço minhas, estas as tuas palavras...E digo mais....
"Quero os meninos e o povo no Poder.." Milton Nascimento-Fernando Brandt
Dilma Roussef é uma das poucas pessoas íntegras da política brasileira. Mas é inútil tentar tapar o sol com a peneira: é claro que estas manifestações são dirigidas, em primeiro lugar, contra o PT, partido que desencadeou a mais avassaladora onda de corrupção que o país já viu.
Eduardo Segre
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