Hélio
Consolaro*
Não quero ter nenhum azedume com as
manifestações atuais. Se os gays podem fazer suas paradas, os héteros e a
cidadania em geral também. A civilidade e a festividade merecem respeito. Todas
elas são merecedoras de atenção e precisam ser analisadas, mas não me furto a
fazer algumas observações. Todo cronista é metido a saber das coisas.
A ditadura militar deixou uma imagem
ruim de governo, e nós, militantes da esquerda, esparramos por aí que ser
governo era muito ruim, basta sê-lo para não prestar. Assim, tudo que é falado
por parlamentares (municipal, estadual, federal), prefeitos, governadores e
presidente é ouvido com desconfiança. Como se fosse possível dirigir
municípios, estados e país sem ter governos.
A classe média do Brasil sempre seguiu
os padrões norte-americanos e europeus. Os movimentos políticos surgiam lá,
depois chegavam cá. Assim foi em 1968, com o movimento estudantil. A crise
começava no mundo desenvolvido para chegar ao subdesenvolvido.
Em 1990, a molecada também saiu às
ruas, solicitando o “impeachment” de Collor. Como os velhos militantes
contrários à ditadura militar, os quarentões caras pintadas estão roncando papo
por aí: “no meu tempo, o pau comia”. Estão impressionando netos e filhos.
Este cronista, sendo um ex-preso
político, parou de falar em sala de aula sobre a sua prisão, porque os jovens
sentiam inveja, como se ser perseguido fosse uma coisa boa. Na verdade, meus
alunos estavam atrás de aventura.
Dessa vez, a ordem inverteu. Os países
desenvolvidos entraram em crise e os emergentes não. Europa, Estados Unidos com
desemprego massivo, aqui, ao contrário, o emprego se alastra. A classe média
brasileira ficou sem chão, não é possível fazer os mesmos protestos por aqui.
Mudou o paradigma, quis exercer imitação de qualquer forma. Ficaram com inveja
da Arábia Saudita.
Gente acostumada com turbulência política,
pôe e depõe presidente, passou a não suportar o tédio da normalidade
democrática. Votar que era um desejo ardente, virou uma rotina, coisa sem
importância, negócio chato.
Assim, militantes radicais de esquerda
reuniram a parte da juventude da classe média raivosa e foram para a rua lutar
por centavos. Gente que nunca andou de ônibus quer passe livre. Quem está
promovendo o quebra-quebra senão aqueles que gostariam ficar eternamente em
greve? São os mesmos que nas greves da Apeoesp (professores estaduais de Sãlo
Paulo) promovem pancadaria quando a assembleia vota o fim da greve.
Na verdade, há gente aproveitando o
momento da Copa das Confederações em que o Brasil é o centro do noticiário
mundial para promover tais quebras para desfazer a imagem positiva do país no
exterior. Há tanta falta de bandeira ao movimento, porque o Brasil passa por um
bom momento, que a luta é por 20 centavos. Passou a ser uma farra, um jeito de
viver perigosamente. Apanhar da polícia engrossa o sangue.
Mesmo que este texto seja verdadeiro,
não se trata apenas de um olhar torto e desatualizado de um cronista idoso, a
liberdade de expressão e movimentação deve ser garantida. Só não podemos
tolerar o vandalismo.
*Hélio Consolaro é professor,
jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de
Araçatuba-SP
Um comentário:
O SEU TEXTO ESTÁ MELHOR, MAIS CURTO QUE O DO JORNALISTA RSRSR E POR ISSO TB TALVEZ DEIXOU DE (FALAR) MAIS ALGUMAS ANÁLISES. O QUE POSSO DIZER É QUE NOS FALTA LIDER, E SERÁ QUE NO FUTURO A SOCIEDADE TERÁ ISTO, IGUAL NO PASSADO? APENAS FIQUEI FELIZ POR VER ESSA MULTIDÃO NA RUA, EMBORA SEM NORTE,À DERIVA DA SORTE!QUE SE DEIXARMOS DE LADO OS VANDALOS, DEU PRA SENTIR QUE O POVO NAO TEM MEDO DA POLICIA TANTO ASSIM. E QUE PELO MENOS FEZ OS DONOS DO PODER PENSAR MAIS UM POUCO. E com o meu ACHismo
acho que o movimento cresceu em numero, devido a insatisfação aos desmandos e a robalheira. Mas veja bem temos aí um sistema de cobranças de pedágios com preços absurdos,levando um ífimo grupo a ficar Zilionários em menos de 10 anos, mas, niguém (levanta) escreve, fala, uma virgula sobre isso!Porque? porque a maioria que tem carro é classe media acomodada! abçs DeDeCamillo
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