Marcos Francisco Alves*
Ao levantarem a bandeira da corrupção partidária, esconderam levantamento feito pelo Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), que revelou o Ranking da Corrupção no Brasil e o partido que ficou em primeiro lugar foi o DEM. Em seguida vieram o PMDB (segundo lugar) e PSDB (terceiro lugar). O PT ocupa a nona posição. Sobre isso, silêncio tumular...
Após inúmeras
leituras, debates e estudos é possível iniciar avaliações sobre os significados
das manifestações, permitindo identificar o seu perfil, seus objetivos e os participantes. Para isso é necessário
separar aparência do essencial e entender o caráter espontâneo e/ou consciente desses fenômenos. Na aparência,
temos um amplo movimento de massas com
bandeiras para todos os gostos que vai, cada vez, se diferenciando. Na essência, pelo desdobramento das
manifestações, com hegemonia clara da direita, com infiltrações paramilitares
, grupelhos ultraesquerdistas e apoio do PIG ( após perceber que isso traria transtornos para os governos de
centro-esquerda ).
Evidentemente que
todo movimento embute contradições, agudizadas pela luta de classes: a aparente estabilidade econômica e
social com avanços positivos para a
população nos últimos dez anos, não significa que foram superados os entraves
neoliberais contidos nos fundamentos
econômicos, desde o Plano Real, feito para satisfazer da classe média para cima e que impossibilitam superá-los e alavancar um novo e necessário tipo de desenvolvimento social. O modelo
econômico está esgotado é o que indica as manifestações, pois não
consegue mais suprir as necessidades que os avanços conseguidos prometiam:
saúde, educação, transporte etc de qualidade para todos e isso traz
inseguranças para aqueles beneficiados por esse modelo. Não é a toa que as
periferias não participaram das manifestações pois ainda beneficiadas pelos programas sociais do
governo federal.
E elas foram totalmente espontâneas, como querem fazer crer as mídias e os setores de direita, as quais as galvanizaram? Não foram. As manifestações tiveram início sob a direção
de um grupo de jovens da pequena burguesia paulista, em sua maioria ligados à ultraesquerda,
pela passe livre e avançaram em contestação aos governos de
centro-esquerda, capitaneados por Dilma. Após a repressão infantil e consciente
da PM paulista, com apoio das mídias, ela extravazou e teve a adesão de milhares de pessoas
com algumas bandeiras justas e trazendo posições contestatórias e conscientes, às vezes
ingênuas, às doenças e sequelas sociais acumuladas pelas
equivocadas e claudicantes políticas econômicas, que até então as beneficiavam
e que não conseguem, mesmo com os incontestes progressos sociais, romper as
amarras neoliberais e avançar na transição capitalista tardia. Foram
acrescentados a elas o repúdio à corrupção em geral, aos partidos
políticos de esquerda e entidades populares seja ela mistificada ou não pela
sistemática campanha midiática nacional.
Os golpistas de sempre, viram nisso uma excelente oportunidade de
desgastar o governo Dilma mesmo quando
grande parte das reivindicações eram localizadas e regionais. Ao levantarem a
bandeira da corrupção partidária, esconderam levantamento feito pelo Movimento de Combate a
Corrupção Eleitoral (MCCE), que revelou
o Ranking da Corrupção no Brasil e o partido que ficou em primeiro lugar foi o
DEM. Em seguida vieram o PMDB (segundo lugar) e PSDB (terceiro lugar). O PT
ocupa a nona posição. Sobre isso, silêncio
tumular...
Propalaram
também a “ausência de lideranças”, tentando justificar
o caráter espontâneo das manifestações. O curioso
é que em todos os lugares apareceram os “cabeças” do sempre
usado movimento pela redução das tarifas, em entrevistas à mídia nacional e
internacional , não denunciando a descarada manipulação midiática das
manifestações, no início condenando a todos como “baderneiros”, logo depois as
insuflando abertamente contra o governo Dilma, em transmissões televisivas 24
horas por dia, inclusive com agenda das manifestações!
Em Araçatuba essa suposta”ingenuidade e
espontaneidade facebuquiana”, chegou a ser cínica. Convocada a primeira
manifestação em solidariedade ao movimento passe livre e contra a repressão policial , essas
bandeiras nem foram levantadas, concentrou-se nos governos de centro-esquerda.
Em relação à polícia tucana, gélido e “espontâneo” silêncio. Pior,
defendendo um suposto “ apartidarismo”,
impediu-se que quem fosse partidário participasse do evento, mas não foram impedidas palavras de ordem de ataque aos
governos de centro-esquerda. Silêncio na
geral quando eram os desmando tucanos: a privataria, o mensalão tucano em Minas, os baixos salários dos professores
estaduais, o sucateamento da saúde pelo
governo paulista, o sistema de cotas discriminador de São Paulo, a cobrança
extra de eixo do caminhões nos pedágios paulistas ou a
defesa da reforma agrária, ingresso livre para a exposição, a Lei por uma Mídia
Democrática, a sonegação de impostos por empresários e banqueiros, taxação das
grande fortunas etc. E mesmo não tendo “lideranças”,
logo, logo estas estavam dando
entrevistas em uma emissora e organizando reuniões ou as dirigindo, mantendo
sempre a pauta de ataques pela direita.Recentemente, um jornal local noticiou o esvaziamento de um desses
encontros por “... pessoas ligadas ou simpatizantes dos
tucanos, deixaram o local quando viram que não haveria críticas mais duras aos
governos petistas. E deixaram elogiando o governo Alckimin.” Realmente,
‘apartidários”!
De volta ao presente: as manifestações não são espontâneas, na essência
são pessoas das classes médias e da pequena burguesia, alguns conscientes e outros inconscientes, conduzidas por elementos da direita partidária
ou ressentidos “apartidários”. Alguns participantes trazem elementos conscientes importantes sobre reais
condições da população como um todo que
a esquerda tem que levar em consideração
se quer enfrentar e disputar, com uma agenda
progressista esse espaço com a direita: é e precisando dialogar com as parcelas médias que estão sendo
manipuladas devidas às políticas econômicas e
sociais atuais! Por isso, mesmo considerando o caráter difuso das
reivindicações quase todas refletindo anseios e frustrações da classe média,
sobretudo essa mais triste e conservadora que morre
de medo das propostas das esquerdas e de qualquer ação que beneficie os mais
pobres , não se deve escamotear a
importância das manifestações.
Mesmo que os apoiadores sejam empresários,
alguns que escaparam escandalosamente de condenações, atores e apresentadores globais, até a cubana
Yoani Sánchez, musa da extrema-direita
latino-americana e especialistas do Instituto Millenium, o IBAD reencarnado, é necessário agilizar as
manifestações que contenham as reivindicações que possuam propostas que possam
enterrar as resquícios neoliberais ainda
vigentes.
Também cabe preparar-se para o
longo combate contra a instrumentalização desses movimentos pela burguesia nacional e internacional, a
chamada direita neoliberal, os ultraesquerdistas
que nunca conseguiram apresentar alternativas possíveis, a propaganda
preconceituosa contra a organização partidária e das massas. O objetivo é absorver e diluir o descontentamento popular
contra a políticas neoliberais, ainda inconscientes, buscando estimular
movimentos “inorgânicos, apartidários e espontêneos” para que esse descontentamento não evolua e se descubra quem são os reais causadores do
sofrimento popular. A direita
reacionária utiliza esses movimentos e “quase sempre... aproveitam o
enfraquecimento objetivo do governo para tentar golpes de Estado”. As chamadas
Jornadas de Junho refletem espaços democráticos e sociais conquistados nos governos de centro-esquerda com Lula e Dilma e negados nos governos de FHC. O pleno
e justo exercício dessa “democracia das ruas” deve se canalizar em massivos protestos contra as mazelas do
capitalismo brasileiro . É preciso ocupar esses espaços, politizar as massas,
trazer a perifeira e romper com o engodo de que nos encontramos na “primeira
década de governos pós-neoliberais no Brasil” e combater o programa da direita que é a negação de tudo aquilo que melhorou no Brasil: a melhora
da situação dos mais pobres, os programas sociais, a elevação do salário
mínimo, a ampliação da carteira assinada, a presença do Estado para minorar os
efeitos perversos da cultura dos mercados, a diminuição do desemprego etc. e
repudiar o programa dela que é privatizar os bancos públicos, aprofundar a
privatização da Petrobras, suspender o Bolsa Família (como ficou claro através
do boato espalhado), baixar ou eliminar o salário mínimo e extirpar tudo o que
a CLT tem de bom para os trabalhadores, negar a participação popular, impedir a
reforma agrária, continuar com a sonegação de impostos etc. NÃO PASSARÃO!
*Marcos Francisco Alves é professor e militante do PCdoB, Araçatuba-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário