Hélio Consolaro*
A maior mágoa de setores da classe média é que Fernando
Henrique Cardoso não se tornou o salvador do Brasil. Com toda sua
intelectualidade, conseguiu ser ultrapassado por um presidente operário. E
pior, não conseguiu ter a humildade de João Batista, ser o precursor.
Nessa mesma esteira, setores da classe média estabelecida,
que catam as quireras do poder há séculos no Brasil, endeusou FHC porque
ele falava outros idiomas. Essas mesmas pessoas odeiam Lula, porque trouxe como companhias
pobres e mulatos, dando-lhes possibilidade de consumo.
Esquecem-se de que Lula criou 14 universidades, embora seja
pichado de analfabeto por alguns setores, enquanto o intelectual, o bilíngue FHC
zero, isso mesmo, nenhuma. Numa roda de professores universitários em Goiás,
ouvi depoimentos deles de que no governo tucano se ferraram, embora FHC seja
professor universitário, e que Lula arrumou a universidade brasileira.
Para
azar dos médios, dois sujeitos que não participam do establishment fazem sucesso fora
do país: Lula e Paulo Coelho. O primeiro é pichado de analfabeto, o segundo, de
não saber escrever, embora seja membro da Academia Brasileira de Letras. Parece
que para certos brasileiros, brasileiro algum pode ser algo no mundo, a não ser
pelo esporte.
Na
verdade, para ser um grande líder precisa ter uma grande alma. Pode ser que neste
momento, há gente querendo endeusar Mandela, pensando eleitoralmente no Joaquim
Barbosa, presidente do STF. Os dois são negros, mas de alma bem diferente. Mandela foi preso, Joaquim Barbosa manda prender.
Para os
raivosos, Mandela é muito bom, mas na África do Sul. Não o querem como sogro de
seus filhos. Como Lula, Mandela teve paciência para enfrentar os contrários.
Nada melhor como um dia atrás do outro. O prefeito Cido Sério em Araçatuba tem
o mesmo perfil, vai engolindo sapo e também os adversários.
Juscelino
Kubistschek também enfrentou oposição atroz em seus quatro de anos de governo.
Quem fala de seus oposicionistas, lembram que existiram, que esguelaram contra
JK. Apenas ele teve nome registrado na história.
Mandela
pacificou a África do Sul com paz. Parece um pleonasmo, mas nunca vi pacificar algum
lugar com armas em punho. Gandhi já deu a grande lição, não se podem usar as armas do adversário para combatê-lo, é o princípio da não violência ativa. Não se combate violência com violência.
Lula
jamais perseguiu alguém, embora tivesse uma grande arma nas mãos: o poder. Teve
o chicote nas mãos e não açoitou ninguém. Só se conhece alguém, quando ela tem todas as ferramentas à mão para oprimir outrem, mas não o faz.
Não
escrevi esse texto com paixão partidária. Gosto do metalúrgico como ser humano,
pessoa. Como Mandela, Lula não é santo, aliás, santo é uma coisa de sacristia,
poucos santos declarados pela Igreja Católica o são. Mandela e Lula são grandes
homens que habitam o mundo da excelência. Para desespero das almas raivosas, os
dois estão sentados lado a lado.
Os
grandes líderes estão e virão de países emergentes. O modelo da riqueza pela
riqueza esgotou-se.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de
Araçatuba-SP
Um comentário:
Parabéns pelo texto, gostei.
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