Galeno Amorim
O dito popular que apregoa que a sorte nunca bate duas vezes na mesma porta definitivamente não vale para o caso do Brasil e as novas janelas que se abrem para a internacionalização da sua literatura e dos seus autores. Quase 20 anos após ser homenageado pela primeira vez pela tradicional Feira do Livro de Frankfurt, maior vitrine do mercado mundial de livros, o país está de volta na condição de maior principal destaque do evento, que reúne 300 mil visitantes de 111 nações.
Trata-se de oportunidade imperdível para o Brasil e sua literatura, que, em função do protagonismo que o país vive de tempos para cá no cenário internacional, tem atraído o interesse dos leitores planeta afora. Afinal, têm os livros um poder extraordinário para mostrar e impregnar — mais até que o cinema — nosso modo de ser e visão de mundo. É a forma inteligente e pacífica de estreitar relações com os povos, in-tercambiar nossa vasta diversidade cultural e mesmo abrir caminhos para novas relações políticas e comerciais.
O Estado e suas instituições têm o dever de olhar com atenção e respeito e não permitir que a oportunidade seja desperdiçada. Antes do Brasil, um único país — a índia, outro dos Brics — tivera a honra de ser lembrado mais de uma vez no maior centro de negociação de direitos autorais do mundo. Muito do que se lerá nos próximos anos no mundo vai sair de uma das mesas de negócio de Frankfurt.
Editoras brasileiras sempre foram à Alemanha com o propósito de adquirir títulos para ser publicados aqui. Em função de barreiras da língua e do desconhecimento de nossa literatura, vender lá fora nunca foi tarefa fácil. Sem dizer que, na sua conta, prejudicava o tempo de ir às compras, de onde vêm de fato suas receitas.
Mas este cenário está mudando. Não são poucos os agentes literários e editores atrás de autores clássicos (de Machado de Assis a Jorge Amado), contemporâneos e jovens sequer conhecidos em sua pátria. Nas palavras de uma agente alemã, a temporada é de flerte e noivado a fim de relações duradouras.
A venda de direitos de autores brasileiros triplicou a partir de 2010 e o programa de tradução da Biblioteca Nacional, recriado em 2011, evoluiu dez vezes em comparação com a média dos anos 1990. O Ministério da Cultura anunciou investimentos de R$ 70 milhões em programas de tradução e eventos internacionais até 2020. No ano passado, o país foi destaque na Feira de Bogotá; em 2014, será em Bolonha, a maior do ramo infantil e juvenil; e, então, Paris, Londres e Nova York. É o que a ministra Marta Suplicy chama de soft power brasileiro.
Era essa a ideia da presidente Dilma Rousseff ao criar, em 2012, o Centro Internacional do Livro para ser o artífice deste grande momento da literatura brasileira. Mas é bom ficar de olho e tirar lições de 1994, quando, encerradas as homenagens, o Brasil tirou o pé do acelerador, deu as costas ao mundo dos livros e voltou, equivocadamente, para seu casulo. Que agora os tempos sejam outros!
Galeno Amorim é diretor do Observatório do Livro e da Leitura e foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional e do Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc/Unesco).
Publicado originalmente no jornal O Globo - 11/10/2013
Um comentário:
Precisa dar o curriculum completo do escritor. Dizer que ele é meu coadjuvante, parceiro na edição de um conto infantil
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