AGENDA CULTURAL

28.8.14

Dar uma lição


Hélio Consolaro*

“Menina de 10 anos tenta furtar doce, lápis e borracha num mercado”, noticiou o jornal O LIBERAL, de 28/8/2014. A menina tem a idade de meu neto Yuri.

O flagrante foi feito por um segurança e o problema foi parar no Conselho Tutelar. A mãe foi chamada, os produtos devolvidos e o conselho vai acompanhar o caso.

Meu amigo José Hamilton Costa Brito, mais como avô, menos como advogado, escreveu o seguinte comentário no Facebook: “Claro, não pode fazer tal coisa. No entanto, o sentimento que eu tive, foi de vergonha de pertencer a uma sociedade que permita que tal coisa aconteça com uma criança”.

Entendemos a consternação do Brito, mas várias perguntas precisam ser feitas. Como está na escola tal criança? Se tem material escolar na escola (hoje é difícil uma criança ficar sem estudar por falta do material escolar), mas queria algo diferente. Se não é manifestação de cleptomania.  Nossos desejos têm limites e isso se ensina desde criancinha.  

Nada adianta ter dó de uma criança agora, mas depois de adulta, se continuar no roubo, pedir a pena de morte para ela. “Cadeia para essa sem-vergonha”, como costumam dizer locutores de programas policiais.

Sentimentalismos não resolvem problemas. A atitude melhor é tentar mostrar-lhe outro caminho para a sociedade não ter futuramente mais um marginalizado.

Como pai, avô, professor, sempre tentei compreender crianças e jovens, mas jamais fui complacente com eles. As lições precisam ser dadas e não se pode furtar da dureza em certas situações. “Ser duro, mas sem perder a ternura”. É uma questão de responsabilidade com o futuro.

O encaminhamento, conforme relatou o jornal, foi perfeito. A menina recebeu a primeira lição de que nossos desejos nem sempre são atendidos, as frustrações fazem parte da vida. Outra lição, mais econômica: deve-se respeitar a propriedade privada e que no capitalismo (regime econômico no qual vivemos) quem tem compra, que não tem pede ou passa privações.


Aproveito a oportunidade para sugerir a leitura de duas obras literárias cujas personagens, meninas, viveram situações quase semelhantes: “A menina que roubava livros”, best-seller do escritor australiano um best-seller do escritor australiano Markus Zusac. Já virou filme. E “As meninas dos fósforos”, conto de Hans Christian Andersen.

Caro Hamilton, nossa sociedade sempre foi assim (e muito pior) e sempre será, porque o ser humano é essa caca que conhecemos. Nem Jesus Cristo consegue nos consertar, mesmo tendo dois mil anos para dar suas lições. Depois, sentados a uma mesa de bar, consertaremos o mundo.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

Vamos por partes, assim omo nos ensinou o velho Renê,autor da Teoria do método.
Sim, posso ter falado mais como avô.
Nossos desejos têm limites , mas estes foram vencidos por uma criança ainda. Eu tive dó. Só isso. Se sentimentalismo resolvesse a coisa estas crianças não teriam problemas pois pelo menos eu não sou tão pragmático e duro na análise de suas situações.
Quem lhes mostrará o outro caminho. Se nao for a sociedade, agora, será a mesma sociedade que lhes mandará para a cadeira elétrica amanha. Então, ela permite que estas coisas aconteçam, sim. Não quero complacência com elas. Quero atitudes humanas, que este povo do supermercado nao teve. Insensíveis.Não acho que o encaminhamento foi perfeito. Passasse pelo constrangimento de uma acareação com os pais e o resultado seria o mesmo. Tudo fascista e palmeirenses Mussolinistas. Os velhos durões.A sociedade sempre será assim, aceito. Aos outros, a lei. Dura lex, sed lex. Prefiro ver a vida com o coração do que com a razão. Até por que, ela deve ter dono.