Jovens negam rótulo de despolitizados e dizem que forma de
participação mudou. Na visão deles, há uma desilusão com partidos e estruturas
formais de poder, mas a juventude não está desengajada
Agência Brasil - Redação
Publicação:13/08/2014
Gerações mais novas são frequentemente criticadas por
manterem distância da participação política. Mas, às vésperas de mais uma
eleição para escolher presidente, governadores, deputados e senadores, jovens
ouvidos pela Agência Brasil contestam o rótulo de despolitizados. Eles definem
sua relação com as questões públicas como um envolvimento que se afastou das
vias tradicionais. Na visão deles, há uma desilusão com partidos e estruturas
formais de poder, mas a juventude não está desengajada.
A estudante Marina Serra dos Santos, 17 anos, diz que o
ativismo desvinculado de partidos políticos é válido. A jovem, que na internet
utiliza o pseudônimo Marina Saint-Hills, marca presença nas redes sociais e
mantém um blog onde compartilha conteúdos sobre sua visão de mundo e suas experiências.
Marina é favorável a pequenas mudanças de atitude no cotidiano e destaca as
ações apartidárias como uma tendência mundial.
“Na minha opinião, muitas pessoas não encontram
representação [entre os partidos]. A juventude acordou, quer mudanças, mas não
sabe identificar o que quer que mude. A política vai muito além do que está
acontecendo na Esplanada [dos Ministérios]. Tem a corrupção em pequena escala,
o 'jeitinho' brasileiro. [O apartidarismo] não é só característico das
manifestações no Brasil. O Occupy [movimentoOccupy Wall Street, iniciado nos
Estados Unidos, contrário às distorções sociais, ganância e corrupção] era
assim. A gente viu em junho [durante as manifestações] que não era só política
[tradicional]. Tinha movimento LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transgêneros e transexuais] e muitos outros”, comenta.
Apesar da desilução com a política tradicional e do voto
facultativo, jovens não abrem mão de ir às urnas no dia 5 de outubro (Wilson
Dias/Agência Brasil)
Apesar da desilução com a política tradicional e do voto
facultativo, jovens não abrem mão de ir às urnas no dia 5 de outubro
O estudante João Felipe Amaral Bobroff, 17 anos, presidente
do grêmio estudantil da escola em que estuda, também acredita que a
participação política ultrapassa os partidos e o comparecimento às urnas. “A
juventude é politizada, mas apartidária. Política não é só partido. Temos um
sistema eleitoral que só dá espaço para quem entra com muito dinheiro. Não é
doação, é financiamento [de campanha]”, critica. Para João Felipe, as
manifestações de junho reuniram "pessoas defendendo ideais”. “É isso que
está faltando, e também viver esses ideais no dia a dia”, defende.
A estudante Isabela Albuquerque, 16 anos, acredita que há um
fosso entre as gerações atuais e os partidos políticos brasileiros, muitos dos
quais perderam suas características originais. Entre elas, por exemplo, a
polarização para esquerda ou direita do espectro político. “A gente não viu
esses partidos nascerem e hoje são tantos que a gente tem dificuldade de saber
de que lado eles estão. Muitos da nossa geração acreditam pouco justamente por
causa disso, do número de partidos, das alianças feitas”, avalia.
Apesar do desencanto com a política institucional e de o
voto ser facultativo para eles, Marina, João Felipe e Isabela não abrirão mão
de participar dessas eleições. “Quero ter voz, me manifestar”, diz Marina, que
é contra a obrigatoriedade do voto. “A pessoa é obrigada a votar sem estar
preparada”, acredita. Segundo João Felipe, o título de eleitor foi seu presente
de aniversário. “Sempre falei para minha mãe que queria. Falar contra o
governo, se você não faz a diferença nas urnas, não faz sentido”, comenta.
Isabela também fez questão de garantir o documento. “Sempre me interessei por
política e vinha prestando atenção, pesquisando os políticos em quem poderia
votar”, conta.
Na visão do cientista político Antônio Flávio Testa, da
Universidade de Brasília (UnB), a dinâmica do envolvimento de jovens como
Marina, Isabela e João Felipe com as causas públicas é um fenômeno recente, que
precisa ser acompanhado. "[Nos movimentos de junho] a maioria [dos
manifestantes] era jovem, mas desvinculada de interesses partidários. O jovem
[dos dias atuais] é muito crítico, mas não está se envolvendo partidariamente.
[Esse movimento] Precisa ser mais bem analisado", avalia Testa.
Para ele, os jovens ainda precisam encontrar um foco.
"[A atitude deles] não é propositiva, é só critica. Querem mudança, mas
não sabem como buscar, pois não querem usar a estrutura partidária. Mas, a não
ser que haja uma reforma estrutural no sistema político, não há outra forma [de
implementar mudanças] a não ser estar vinculado aos partidos", pondera.
Segundo dados divulgados no fim de julho pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), 1,638 milhão de eleitores tem 16 e 17 anos, o
equivalente a 23,8% da população nessa faixa etária. A proporção é a menor dos
três últimos pleitos federais. Em 2002, esse percentual alcançava 28,7%. Nas
eleições de 2006, foi 36,9%. No pleito de 2010, ficou em 34,8%.
O TSE também associa a redução do eleitorado jovem à
tendência de queda dessa faixa da população de maneira geral. Segundo cálculos
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de jovens
de 16 e 17 anos tem diminuído desde o pleito federal de 2002.
De acordo com Luciano Gonçalves, pesquisador do IBGE, o
fenômeno tende a se aprofundar à medida que os nascidos depois dos anos 2000 atinjam
idade para exercer o voto. “A taxa de fecundidade vem caindo no Brasil. Em
1990, era 3,1 filhos por mulher. Em 2000, era 2,39. Em 2010, chegou a 1,87,
abaixo do índice de reposição da população, que é 2,1 filhos por mulher”,
destaca.
Um comentário:
Ok, mas construir um priocesso de mudança sem a organização de Partidos é impossível num estado democrático de direitos. Talvez uma saída é o aprofundamento da Democracia com a instituição de uma Democracia Popular atrés da instituição de Sistema de Constrole Social como uma estrutura de estado, onde seriam captadas todas as reivindicações sociais que seria transformada em diretrizes para a Política Pública. Isso se o statu quo permitir, mas com uma estratégia de posições talvéz possamos quebrar essas resistências... um bom caminho é exigir uma reforma política através de uma assembléia reconstituinte exclusiva.
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