ENTREVISTAS PUBLICADAS NO JORNAL O LIBERAL, DE ARAÇATUBA | EDIÇÃO DE 21.09.14
Olhares, amizade sincera, descobertas e memórias “interligam” os universos de quatro dos vencedores do 27.º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba (homenagem póstuma ao escritor araçatubense José Geraldo Martinez), encerrado na 6.ª Jornada de Literatura, cujo sucesso estrondoso ainda repercute na cidade. O evento foi realizado pela Prefeitura e Secretaria Municipal de Cultura.
Representantes de duas capitais (São Paulo e Porto Alegre) ficaram, respectivamente, em primeiro e segundo lugares na Categoria Nacional. E dois “araçatubenses” – por adoção – conquistaram os primeiros lugares na Categoria Regional. São quatro escritores iniciantes, que começam a conquistar espaço. Este é um deles, em breves entrevistas...
J. R. Bazilista, 36 anos, professor, 1.º lugar Nacional (São Paulo | natural de Américo Brasiliense/SP)
"13600. Os olhos mais lindos que já me olharam”
Mesmo em um dia todo sujo de lama podemos deparar com o extraordinário. E nem sempre estamos preparados, ou atentos, e deixamos escapar. Ou tentamos raciocinar e agir para preservar e eternizar, o que não nos livra de outro fracasso.
• CONQUISTA...
Se o trabalho do escritor já é algo solitário, o do escritor inédito é duas vezes mais, pois o escritor publicado conta com a recepção de sua obra; o inédito, não. Ser agraciado com o prêmio leva a crer que mesmo no meio dessa solidão, de escrever sem um reconhecimento, você estava certo.
• PRIMEIRA VEZ?
Não é a primeira, porém, não foram muitas. E os outros resultados me levaram a uma descrença, e à vontade de não mais participar. Era quase uma promessa, agora quebrada.
• NOVA MOTIVAÇÃO...
Vou apresentar o romance “Transatlântico” às editoras, só que agora com uma etiqueta colada nele: “Autor Ganhador do 1.° Lugar Nacional - Categoria Contos”.
• PUBLICAÇÃO?
Atualmente escrevo um romance chamado “Merda no Bigode” e também um livro de contos com o título “Histórias do Grande Animal Sorridente”.
• LITERATURA...
Eu me reconheci escritor com onze anos, mas só fui escrever qualquer coisa mais de dez anos depois. Nesse intervalo fiz coisas que – para muitos – podem ser ocupações não-literárias, como vendedor de sapatos em feiras ou mecânico de caminhão, mas alimento parte da minha literatura com essas experiências. O próprio conto ganhador é narrado por um ajudante de mecânico. E quase nunca se vê esse tipo de personagem na literatura.
• PROFESSOR?
Como sou professor de História, percebo o que as pessoas valorizam numa história, onde tem uma narrativa, vide o sucesso da mitologia grega. Alguns alunos, no primeiro dia de aula, já perguntam quando estudaremos a Grécia.
• CONCURSO DE CONTOS CIDADE DE ARAÇATUBA...
Tudo aconteceu muito rápido. Acho que só com o tempo vou poder avaliar.
• ARAÇATUBA?
Apesar da rápida passagem, pude notar a presença de pessoas apaixonadas pela literatura. Espero também ter demonstrado um pouco dessa minha paixão.
Paulo Henrique Pappen, 28 anos, revisor e tradutor, 2.º lugar Nacional (Porto Alegre | natural de Caxias do Sul/RS)
"Mas o homem era velho, já”...
É um conto sem palavrão, sobre a solidão e a amizade entre homem e animais. O narrador é um cara do interior, fazedor de fraseados poéticos que aparentemente disturbam a gramática. Tipo o Guimarães Rosa, só que muito menos chato e com bem mais sentido pra quem lê. A maioria gosta.
• CONQUISTA...
Valeu bastante. Pude comprar óculos novos e vir até Araçatuba.
• PRIMEIRA VEZ?
Não. Todo ano eu participo de algum.
• NOVA MOTIVAÇÃO...
Escrever pra revistamenas.com, onde escrevem os melhores escritores brasileiros da minha geração. Vou mostrar pra eles essa entrevista. Agora eu tenho currículo!
• PUBLICAÇÃO?
Sim, mas eu só vou publicar quando estiver realmente bom. Pode ser que eu nunca publique, seja por não conseguir fazer um livro bom, seja por não conseguir achar bom o que eu faço.
• LITERATURA...
Sempre esteve por tudo. Na base da televisão que eu assistia (a estante era capenga e tinha um livro do Sérgio Faraco ali pra equilibrar), nas mentiras, nas histórias de ninar e de assustar e, depois, por necessidade física, nos poemas de amor pra Suelen, meu primeiro amor. Como a vida real é medíocre e idiota, a literatura ajuda a ver as coisas de maneira mais divertida e interessante.
• REVISÃO E TRADUÇÃO?
A revisão ajuda a escrever bem sem ser um gramatiqueiro chato. A tradução ajuda a plagiar sem que ninguém saiba de onde tu ‘tirou’ o original. Hehe. Não, brincadeira. Revisar e traduzir são coisas de leitor. E todo escritor que se preza lê muito mais do que escreve.
• CONCURSO DE CONTOS CIDADE DE ARAÇATUBA...
Acima de tudo, justificar a existência do Estado pra aqueles que duvidam da sua necessidade. Como muitos anárquicos são escritores e artistas, é interessante incentivar o envolvimento deles em concursos, para promover a contradição ideológica, base de toda arte. Ainda mais que a inscrição pode ser feita pela internet.
• ARAÇATUBA?
O silêncio, o calor, as maritacas: tem que mudar o título de "cidade do boi gordo" para "cidade das maritacas", que é até melhor, né. Me senti entre amigos.
Jean Oliveira, 38 anos, jornalista, 1.º lugar Regional (Araçatuba | natural de Pereira Barreto/SP)
“Calçadão, Alface e Escolhas”
A personagem principal é uma adolescente chamada Elis. Ela trabalha no Calçadão de Araçatuba. Está começando a transitar entre os mundos de menina e de mulher. Já sente as angústias de crescer e começa a tomar decisões.
• CONQUISTA...
É incentivo para continuar escrevendo, pesquisando, lendo mais. Receber o prêmio com meus pais, irmãos, esposa e filho foi o melhor de tudo, algo ímpar.
• PRIMEIRA VEZ?
Sim, e não tinha muitas esperanças, mas não custava tentar. Ficar em primeiro lugar foi fantástico.
• NOVA MOTIVAÇÃO...
Estudar literatura e ler, ler muito. Reler os clássicos e buscar novos autores, inclusive os locais. Tem gente muito boa e tenho muito que aprender com eles. Aproveito para fazer um agradecimento ao escritor Antônio Luceni, que me fez acreditar que eu poderia escrever.
• PUBLICAÇÃO?
Quero escrever “Pé de Pobre não tem Tamanho”, contando em prosa e verso as desventuras pela sobrevivência na vida. Vou escrevendo aos poucos. Participei de coletânea da UBE (União Brasileira de Escritores), com três contos.
• LITERATURA...
Minha história com os textos começou na adolescência, o que me deu a chance de trabalhar como aprendiz de repórter e editorialista de um jornal com 16 anos. Sempre gostei de escrever, falar sobre sentimentos e acontecimentos. Pelos contos posso viver outras vidas, sentir coisas diferentes.
• JORNALISTA?
O jornalismo me deu a chance de trabalhar com as palavras, a direcionar minha curiosidade pelas coisas do mundo, e a organizar as ideias. Me expresso melhor escrevendo.
• CONCURSO DE CONTOS CIDADE DE ARAÇATUBA...
Tem importância fundamental, principalmente para nós, iniciantes. Ele nos incentiva a escrever, a estudar e a ler. Abre portas para desenvolver nosso trabalho e nos dá vitrine para mostrar nossos textos. É uma das melhores formas de incentivar a cultura!
• ARAÇATUBA?
Araçatuba me recebeu muito bem quando aqui cheguei, há dez anos. Sua atmosfera progressista me inflama. Quero deixar minha humilde obra e meu trabalho diário como agradecimento.
Fernando Verga, 30 anos, jornalista, 2.º lugar Regional (Araçatuba | natural de Braúna/SP)
“A Procissão”
É a memória de um garoto que mora no sítio, afastado de tudo e sem notícias de qualquer coisa. Entre brincadeiras e observações, ele nos apresenta sua avó, com quem mora, e os vizinhos do sítio dela. Num momento, ele presencia um evento místico que responde, inclusive, a algumas dúvidas que tinha sobre as pessoas que moram por ali.
• CONQUISTA...
Fiquei surpreso, antes de tudo, e depois muito feliz. Sinceramente, eu gosto muito dos meus textos. É uma diversão escrever. Mas, não tinha parâmetro para dimensionar se algum deles tinha esse potencial.
• PRIMEIRA VEZ?
Sim, foi a primeira vez que disputei com um conto. No ano passado consegui menção honrosa no Concurso de Poesia Osmair Zanardi, da Academia Araçatubense de Letras.
• NOVA MOTIVAÇÃO...
Motivação para escrever vem de todo lado, de qualquer sentimento, objeto, sensação. Dá pra escrever e criar sobre tudo.
• PUBLICAÇÃO?
Sim. O prêmio do Edital de Literatura, da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba, proporcionará a publicação do livro “O Alfaiate Apressado e Outros Poemas”.
• LITERATURA...
Tive muito incentivo por parte dos meus pais, principalmente da minha mãe, que é professora de Língua Portuguesa. Sempre fui presenteado com livros, desde criança. Cresci lendo e, agora, pretendo trazer mais à tona a escrita.
• JORNALISTA?
Para os temas que eu gosto na literatura, a prática do jornalismo não influencia muito. Curto fantasia, terror, suspense. Porém, como se escreve muito no jornalismo, a prática cotidiana de redação vale demais para melhorar o texto gramaticalmente.
• CONCURSO DE CONTOS CIDADE DE ARAÇATUBA...
O concurso é prestigiado, tanto que existe há quase 30 anos. Centenas de pessoas participam. Ter meu texto selecionado é uma honra. A importância maior dele é estimular pessoas que, assim como eu, têm vontade de escrever e apresentar seus trabalhos.
• ARAÇATUBA?
Sobre Araçatuba eu escrevo jornalisticamente. Literariamente, prefiro fantasiar em outras possibilidades.
SERVIÇO
Com o tema “Nos Desvãos da Literatura, Outras Artes”, o evento aconteceu entre os dias 8 e 12 de setembro, com amplo apoio: Secretaria Municipal de Educação (SME), Diretoria Regional de Ensino, SESC, Academia Araçatubense de Letras (AAL), núcleo regional da União Brasileira de Escritores (UBE), Oficina Cultural Sílvio Russo, Livraria Nobel e Programa Pontos MIS (Museu da Imagem e do Som), iniciativa focada em cinema.
Os contos estão publicados na coletânea do concurso e no blog
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