Embora raro, o câncer de mama pode, sim, afetar os homens.
Câncer de mama em homens representa menos de 1% do total de casos de câncer de
mama. O câncer de mama nos homens é diagnosticado com base em uma alteração na
mama, geralmente notada pelo próprio paciente, já que não existe rastreamento
de câncer de mama em homens.
A maioria dos aspectos do câncer de mama no homem são
parecidos com o que se observa nas mulheres, de modo que encorajamos o leitor a
ler o blog inteiro, além deste texto explicativo.
Fatores de risco de câncer de mama em homens
Aproximadamente 20% dos homens que desenvolvem câncer de
mama têm caso(s) de câncer de mama na familia. Aproximadamente 10% deles são
portadores de uma mutação genética que os predispõe ao câncer, uma mutação no gene
denominado de BRCA2.
Além desta mutação, há outras mutações genéticas, também
hereditárias, e que podem predispor ao câncer de mama, mas que são mais raras.
Outros fatores predisponentes são exposição à radiação (por
exemplo em acidentes nucleares), raça negra (ao menos nos EUA) e obviamente, a
idade (quanto mais velho, mauior a incidência, com pico por volta dos 75 anos).
Ginecomastia (mama aumentada em homens) é um possível fator de risco, embora
isto não esteja totalmente confirmado.
Em função de uma proporção significativa de homens com
câncer terem história familiar da doença, todo homem com câncer deveria passar
por orientação oncogenética (com oncogeneticista), para que seja estabelecido
se o paciente e/ou parentes devam fazer investigação diferente da
rotineiramente recomendada.
Prognóstico e sobrevida de homens com câncer de mama
Devido à falta de rastreamento, casos de câncer de mama em
homens acabam sendo diagnosticados, em média, mais tarde que em mulheres. A
média da idade ao diagnóstico do câncer de mama nos EUA é de 67 anos de idade,
contra 61 anos de idade entre as mulheres. Também pela falta de rastreamento,
os casos em homens acabam sendo diagnosticados quando o tumor já está um pouco
maior do que no caso de mulheres, especialmente as que se submetem a mamografia
de rotina. Quando é notada uma alteração suspeita, o homem pode sim ser
submetido a mamografia, ultrassom e biópsias nos moldes do que ocorre com as
mulheres.
Se analisarmos a chance de cura de um homem com câncer de
mama comparada à chance de uma mulher, observamos que as chances são muito
parecidas, se considerarmos as doenças no mesmo estágio de desenvolvimento.
Homens que desenvolvem câncer de mama têm um risco aumentado
de desenvolver um segundo câncer ao longo da vida, de aproximadamente 20%.
Destes segundos cânceres, os mais comuns são câncer de próstata, cólon e
bexiga.
Como diagnosticar
Quando um homem nota um nódulo ou crescimento da mama, deve
procurar um médico. Assim como nas mulheres, além do exame físico, será
realizada mamografia e eventualmente ultrassonografia de mama.
Câncer de mama em homens geralmente se manifesta na região
próxima à aréola.
A mamografia pode identificar um nódulo ou
microcalcificações suspeitas, embora estas sejam mais raras em tumores em
homens que nas mulheres.
Assim como nas mulheres, o diagnóstico do câncer de mama em
homens somente pode ser firmado através de uma biópsia ou cirurgia. A peça é
avaliada pelo patologista, que com base no aspecto do tumor ao microscópio além
de análise por técnica denominada de imunohistoquímica, consegue firmar que se
trata de um câncer de mama (ao invés de uma metástase de algum outro tumor, por
exemplo). A biópsia pode ser feita com agulha grossa (chamada de core-biopsy)
ou com biópsia por sucção (mamotomia).
Aspectos da patologia e estadiamento no câncer de mama em
homens
Assim como nas mulheres, o tipo mais comum de câncer de mama
é o chamado carcinoma ductal invasivo. Homens também podem ter carcinoma ductal
in situ, e apresentam o chamado carcinoma papilífero em até 4% dos casos (este
é mais raro em mulheres).
Nos cânceres em homens, a presença de receptores de
estrógeno e de progesterona é um pouco mais elevada que nos cânceres em
mulheres (80% vs 70%). A proteína Her2 está hiperexpressa um pouco mais
frequentemente que nas mulheres. As implicações da presença destas proteínas é
igual nos homens que nas mulheres (receptores de estrógeno e progesterona
associados com tumores menos agressivos, que respondem a hormonioterapia; hiperexpressão
de Her2 associada a tumores mais agressivos, que respondem aterapia anti-Her2).
Particularidades destas proteínas são discutidas no tópico relativo ao
prognóstico, incluido no capítulo Sintomas e Diagnóstico).
O estadiamento – a avaliação da extensão da doença
localmente, nos gânglios axilares, e a distância é feita de maneira igual ao
que é feito nas mulheres. Como já mencionado, pelo fato de homens não fazerem
rastreamento para o câncer de mama, eles acabam sendo diagnosticados com
tumores um pouco maiores que aqueles diagnosticados nas mulheres, em média.
Tratamento do câncer de mama em homens
Assim como nas mulheres, o tratamento curativo do câncer de
mama obrigatoriamente passa por um procedimento cirúrgico. Diferente das
mulheres (nas quais se faz frequentemente uma cirurgia parcial da mama), nos
homens quase sempre se faz a retirada completa da mama, a denominada
mastectomia radical modificada.
Assim como nas mulheres, é possível fazer a pesquisa do
linfonodo sentinela na axila, e se este não tiver doença, poupar o paciente do
chamado esvaziamento axilar. Este esvaziamento axilar consiste na retirada de
ao menos 10 linfonodos da axila, como meio de prever melhor o prognóstico
(risco de recidiva). O esvaziamento pode causar problemas como inchaço no braço
e dor crônica, de modo que sempre que possível, deve ser evitado.
Radioterapia é indicado sempre para o tratamento de homens
cujo tumor seja maior que 4 cm e/ou quando há comprometimento de mais de 3
linfonodos axilares. Seguindo uma tendência de tratamento em mulheres, hoje se
discute também o benefício da radioterapia mesmo em casos de tumores menores ou
com menos de 4 linfonodos comprometidos.
O tratamento sistêmico pode ser dividido em hormonioterapia,
quimioterapia e terapia anti-Her2. Além disso, o tratamento sistêmico pode ser
indicado antes da cirurgia (denominado de tratamento neo-adjuvante), após a
cirurgia (denominado de tratamento adjuvante) e em casos de doença metastática
(disseminada).
O tratamento hormonioterápico está indicado sempre que o
tumor tiver expressão de receptores de estrógeno e/ou progesterona. Quando ele
é administrado após a cirurgia, geralmente o tratamento dura entre 5 anos
(apenas uma medicação) até 10 anos (uma medicação por 5 anos e uma segunda por
mais 5 anos). Em homens, Tamoxifeno continua sendo a hormonioterapia de
escolha, já que há poucos dados com a classe de medicações denominada de
inibidores de aromatase. Em casos de doença metastática, a hormonioterapia é
administrada até que a doença não mais responda ao tratamento.
O tratamento quimioterápico está indicado após a cirurgia de
tumores maiores que 1 cm, em casos de lingonodos comprometidos na axila, ou
mesmo em casos específicos de tumores menores mas com características mais
agressivas na análise do patologista. Além disso, a quimioterapia pode estar
indicada em doença metastática.
Existem diversas drogas que podem ser combinadas ou usadas
isoladamente, e a escolha das medicações leva em conta diversos parâmetros mais
sofisticados cuja discussão não cabe aqui. Maiores detalhes sobre a
quimioterapia podem ser obtidos no capítulo referente ao tratamento, neste
blog.
A terapia anti-Her2, indicada somente em casos em que o
tumor hiperexpressa a proteína Her2, pode e deve ser usado também em homens.
Esta classe de medicações pode estar indicada antes da cirurgia
(neo-adjuvância), após a cirurgia (adjuvância) e na doença metastática.
Normalmente a medicação é associada a um quimioterápico durante parte do
tratamento adjuvante. Na doença metastática, pode ser associada a
hormonioterapia, a quimioterapia ou pode ser usada isoladamente.
Por último, vale mencionar que em casos de doença
metastática para os ossos, está indicado o uso de uma classe de medicações
denominada bisfosfonatos. Estas medicações são administradas paralelamente ao
tratamento hormonal, quimioterápico ou à terapia anti-Her2.
Recomendamos que o leitor deste texto leia o material
relativo majoritariamente ao câncer de mama em mulheres, pois a maior parte dos
dados vale também para os homens.
Saiba mais
Determinação do prognóstico do câncer de mama
Tipos de câncer de mama
Diagnóstico do câncer de mama
Sinais e sintomas que podem indicar câncer de mama
Senti um nódulo na mama: pode ser câncer?
Rafael Kaliks é oncologista clínico, trabalha no Brasil desde 2004, e ao
longo de vários anos tratando de pacientes com câncer de mama notou a carência
de uma fonte simples e direta que foque apenas neste tipo de câncer, e que
explique à paciente o que é a doença, como se diagnostica e como se trata.
Mais
informações: www.rafaelkaliks.com
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