AGENDA CULTURAL

29.1.15

O último sabonete




Hélio Consolaro*

Por muito tempo, tomei banho em bacia, quando ainda era menino, mas meus pais se banhavam assim também. Não me lembro se era só aos sábados.

Não havia compartimento nas casas de roça para tal luxo. Lembro-me que o banho era feito com sabão de soda, feito com os restos dos porcos abatidos.
Se alguém tem saudade disso, eu abomino tal criatura. Geralmente, quem era rico e ficou pobre adora o passado. Bota reparo nisso, caro leitor.

Depois veio o chuveiro tiradentes em cômodos bem toscos. O mictório passou da moita de bananeira à casinha. Aliás, fui conhecer a casinha na escola, como lá também vi pela primeira vez um dentista. Quem inventou pôr tal profissional em cada escola merece uma estátua.
 
Sabão de soda
Quando me mudei para a cidade, queria estudar, passei a usar o sabonete. Não me lembro como foi o meu primeiro sabonete, por isso também não preocupo com o último. Só para esclarecer, também não catei sabonete no chão virando a bunda nua para ninguém.

Por muito tempo usei o de marca Gessy. Cheiroso, cor de rosa, bem melhor que os pedaços fedidos do sabão de soda. Como eram meus pais que faziam as compras, achava que existia apenas uma marca. Só virei classe média, um consumidor mais exigente, quando fui morar em república em Penápolis. Nossa! Quantas marcas... Hoje, há dezenas...
Sobrevivi a todas essas agruras. Naquela época,  a vida média de um brasileiro era menos de 50 anos. Não estranhe, caro leitor, se você é da minha faixa etária (66 anos) e teve vida melhor. A minha vida ficava naquela época na base da pirâmide social.
 
Chuveiro de balde (tiradentes)
Outro dia, meu amigo que atualmente está na pindaíba, me contou certas coisas de Araçatuba que não vivi e nem presenciei. Eu morava à beira da pizza, com borda recheada de pobreza.    

Tudo isso tomou conta de mim ao me banhar hoje com mais requinte. Compramos sabonetes (eu e a Helena) de muitas marcas para ir variando, dos mais baratos aos mais caros. Afinal, foram milhares de sabonetes abertos no decorrer de minha vida. Não somos adeptos dos sabonetes líquidos.
 
Latrina, casinha
Já me peguei torcendo para o desodorante acabar para começar outra embalagem  à moda de menino novo.  Ainda mais que agora posso estocar. O sabonete parece nunca acabar. Sei que chegará o dia de usar o último sabonete, mas não desejo receber nenhum aviso.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

2 comentários:

Anônimo disse...

tomara que o sabonete nunca acabe, nem as possibilidades de conhecerem coisas melhores, além do sabonete.

DedêCamillo izequiel disse...

to nessa! e não sou la muito de tomar banhos kkk aliás uma filha minha cuidadora que cuida dua dama rica, ela não toma banho todo dia, usa paninhos igual os franceses usavam( ou usam ainda) Disse ela que estraga a pele, e a pele dela segundo minha filha esta igual buda de neném. kkk e no meu caso uso sabonetes só nas partes e suvaco, pois dizem o médicos entendidos do assunto que se tomamos sol e banhamos com sabão antes das 48 horas perdemos os...??? (esqueci o nome) do sol sobre a pele, que previne varias doenças, e acho verdade vou indo muito bem se saude obrigado! Dedecamillo