Após depoimentos de executivos que fizeram acordos de delação
premiada afirmando que existia um “clube” de empreiteiras que fraudava
licitações e pagava propinas, misteriosamente o tucano sumiu da imprensa.
Helena Sthephanowitz, via RBA
Nas últimas entrevistas, o senador Aécio Neves (PSDB), apareceu
histérico tentando pautar desesperadamente a mídia na Operação Lava-Jato para
atacar o governo Dilma e afastar os holofotes dos tucanos. Parece que vai ser
difícil agora.
Depois de muita enrolação, com direito a manchete do tipo
“Doações de investigadas na Lava-Jato priorizam PP, PMDB, PT e outros”, para
não citar PSDB, apareceu o Doutor Freitas. Notinhas tímidas, em letras miúdas,
no rodapé de páginas dos grandes jornais informam que o dono da UTC, Ricardo
Pessoa, disse em depoimento à Polícia Federal que tinha contato mais próximo
com o arrecadador de campanha do PSDB, o Doutor Freitas, Sérgio de Silva
Freitas, ex-executivo do Itaú que atuou na arrecadação de campanhas tucanas em
2010 e 2014 e esteve com o empreiteiro na sede da UTC. Ainda de acordo com o
depoimento, objetivo da visita do Doutor Freitas foi receber recursos para a
campanha presidencial de Aécio.
Dados da Justiça Eleitoral sobre as eleições de 2014 mostram que
a UTC doou R$2,5 milhões ao comitê do PSDB para a campanha presidencial e mais
R$4,1 milhões aos comitês do PSDB em São Paulo e em Minas Gerais, além de R$400
mil para outros candidatos tucanos.
Depois dos depoimentos de dois executivos da Toyo Setal que
fizeram acordos de delação premiada, e afirmaram que existia um “clube” de
empreiteiras que fraudava licitações e pagava propinas, misteriosamente o
tucano Aécio Neves sumiu da imprensa.
Aécio é senador até 2018, mas também não é mais visto na casa.
De 11 sessões, compareceu apenas a cinco. O ex-candidato tucano precisa
aparecer para explicar a arrecadação junto à empreiteira, o que, para ele,
sempre foi visto como “escândalo do PT”, e outras questões. Como se não
bastassem antecedentes tucanos na Operação Castelo de Areia, como se não
bastasse a infiltração de corruptos na Petrobras desde o governo Fernando
Henrique Cardoso (PSDB), como se não bastasse o inquérito que liga o doleiro
Alberto Youssef à Cemig,
basta observar o caso da construção do palácio de governo de Minas na gestão de
Aécio quando foi governador.
Para quem não se lembra, a “grande” obra de Aécio como
governador de Minas, além dos dois famosos aecioportos, não foi construir
hospitais, nem escolas técnicas, nem campi universitários. Foi um palácio de
governo faraônico chamado Cidade Administrativa de Minas, com custo de cerca
R$2,3 bilhões (R$1,7 bi em 2010 corrigido pelo IGP-M). A farra com o dinheiro
público ganhou dos mineiros apelidos de Aeciolândia ou Neveslândia.
Além de a obra ser praticamente supérflua para um custo tão
alto, pois está longe de ser prioridade se comparada com a necessidade de
investimento em saúde, educação, moradia e mobilidade urbana, foi feita com uma
das mais estranhas licitações da história do Brasil.
O próprio resultado deixou “batom na cueca” escancarado em praça
pública, já que os dois prédios iguais foram construídos por dois consórcios
diferentes, cada um com três empreiteiras diferentes.
Imagina-se que se um consórcio ganhou um dos prédios com preço
menor teria de construir os dois prédios, nada justifica pagar mais caro pelo
outro praticamente igual.
Se os preços foram iguais, a caracterização de formação de
cartel fica muito evidente e precisa ser investigada. Afinal, por que seis
grandes empreiteiras, em uma obra que cada uma teria capacidade de fazer
sozinha, precisariam dividir entre elas em vez de cada uma participar da
licitação concorrendo com a outra? Difícil de explicar.
O próprio processo licitatório deveria proibir esse tipo de
situação pois não existe explicação razoável. Se correr o bicho pega, se ficar
o bicho come.
No final das contas, nove grandes empreiteiras formando três
consórcios executaram a obra. Cinco delas estão com diretores presos na
Operação Lava-Jato, acusados de formação de cartel e corrupção de funcionários
públicos.
Em março de 2010 havia uma investigação aberta no Ministério
Público de Minas Gerais para apurar esse escândalo. Estamos em 2014 e onde
estão os tucanos responsáveis? Todos soltos. A imprensa mineira, que deveria
acompanhar o caso, nem toca no assunto de tão tucana que é. E a pergunta do
momento é: onde está Aécio?
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