Por: Mary Jo DiLonardo
Fonte: MNN Mother Nature Network
Em todas as línguas, desde sempre, o repertório de palavrões foi e continua sendo abundante e variado. Quase sem exceção, todos os idiomas têm seus glossários e dicionários de palavrões, imprecações, pragas e maldições. A tal ponto que alguns cientistas do comportamento decidiram investigar para descobrir como e por que a necessidade de imprecar se manifesta com tanta intensidade e constância em praticamente todas as culturas. Surpresa: descobriu-se, sem sombra de dúvida, que quando proferidas de modo espontâneo, verdadeiro, carregadas das emoções que as produziram, as imprecações, as pragas e maldições têm o poder quase imediato de aliviar as tensões. Mais ainda, podem introduzir o maldizente num processo de cura de moléstias físicas e psíquicas desencadeadas, muito provavelmente, pela repressão daquelas mesmas tensões.
Para começar, existem vários tipos de palavrões à escolha do freguês. Em seu livro “The Stuff of Thought” (A substância do pensamento), Steven Pinker explora os diferentes modos de injuriar e praguejar, a partir do abusivo – “Seu merda!” - Ao catártico – “Merda, o café está muito quente!” O modo que você escolher depende de uma série de fatores, entre eles se você está estressado ou relaxado, se sente algum tipo de dor, se está apenas tentando fazer rir os seus amigos.
O importante, quando se solta um palavrão, é fazê-lo de modo solto, de boca cheia, sem vergonha, com confiança. Aqui estão alguns dos benefícios potenciais da imprecação:
1. Ela alivia a dor. Em estudo publicado na revista NeuroReport, estudantes universitários mergulharam as mãos na água gelada para ver quanto tempo conseguiriam suportar as dores lancinantes que surgem nos diferentes tempos de congelamento. Aqueles que proferiram os palavrões de sua escolha relataram menos dor e sua capacidade de resistência durou cerca de 40 segundos a mais do que aqueles que foram forçados a pronunciar uma palavra neutra. Depois de liderar o estudo, o pesquisador Richard Stephens, da Universidade Keele, na Inglaterra, disse: “Gostaria de aconselhar as pessoas, se eles se machucarem, para esconjurar à vontade”.
2. Não faz o seu coração disparar. Palavrões podem ativar sua combatividade ou sua resposta de fuga a uma situação de risco ou perigo, disparando suas tendências agressivas – e tanto melhor quando esse disparo acontece de modo positivo. Talvez por isso os treinadores esportivos e militares tendem a imprecar e a berrar suas ordens, inclusive com o uso de palavrões e de expressões obscenas.
3. A imprecação o mantem motivado e engajado na ação a ser cumprida. Monika Bednarek, professor de linguística da Universidade de Sydney, estudou alguns dos programas de TV mais populares da América, contando quantos palavrões foram pronunciados em cada um. Com mais de cem palavras pesadas, maldições e imprecações por episódio, a popular série “The Wire” bateu todos os concorrentes em matéria de linguajar profano. No cinema, o campeão foi “O lobo de Wall Street”, filme que teve cinco indicações ao Oscar: um palavrão a cada vinte segundos. Conclusão? Palavrão = popularidade.
4. Ela ajuda você a estabelecer conexões com os outros. A mesma Monika Bednarek afirma que, para a maior parte das pessoas, palavrões podem ajudar a estabelecer e consolidar relacionamentos pessoais. “Além das funções psicológicas desempenhadas pelos palavrões, não devemos esquecer a suas funções sociais. Para muitas pessoas, xingar e imprecar é importante para a criação de relacionamentos próximos, para o estabelecimento de laços de amizade ou de intimidade com os outros. Laços sociais podem ser criados a partir deles”.
5. Faz você se sentir no controle da situação. “Ao imprecar e esconjurar mostramos para nós mesmos que não somos apenas vítimas passivas das situações, mas que também temos poderes para reagir e lutar”, escreveu o psiquiatra inglês Neel Burton. Esses processos podem incrementar a autoconfiança e a autoestima.
6. Imprecações costumam fazer rir as pessoas. Muitas vezes usamos expressões de humor escabroso para quebrar a resistência de nossos amigos ou das pessoas que nos cercam. Enquanto ninguém for ofendido por tais manifestações, a imprecação pode conservar seu grande valor como entretenimento.
7. Proferir palavrões pode ser catártico. Deu uma martelada no polegar? Um ou dois palavrões pertinentes podem ter um efeito de alívio. Da mesma forma, eles podem representar um alívio para as dores provocadas por doenças não físicas. Se você levou um fora da namorada ou está atrasado para um encontro por causa do trânsito, imprecar contra tais situações poderá lhe ajudar a diminuir e controlar a dor e a preocupação.
8. “A imprecação permite que você expresse seus verdadeiros sentimentos a respeito de alguma coisa. Na esteira do palavrão pode ocorrer um desabafo, uma expressão de raiva ou descontentamento, e também de alegria, surpresa, felicidade’ , afirma Timothy Jay, psicólogo do Colégio de Artes Liberais de Massachusetts, que estudou o assunto por 35 anos. “É como a buzina do seu carro, você pode fazer um monte de coisas com isso, é como se ela estivesse instalada dentro de você”.
9. A imprecação ajuda você a se encaixar dentro de uma situação. Está sofrendo pressão por parte dos colegas, ou de alguma pessoa? Palavrões podem lhe ajudar a se sentir mais confortável no contexto dessas situações sociais. Se todo mundo está sendo um pouco profano e saindo dos cânones convencionais de comportamento, imprecar mostra que você pode fazer o mesmo, pois é parte do grupo. Ele demonstra que você se sente à vontade, e é capaz de ser você mesmo inclusive diante dos colegas.
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