AGENDA CULTURAL

26.9.15

Literatura e rock

Hélio Consolaro*

Alguém já disse que a pessoa está pronta para escrever um livro depois dos 40 anos quando a turbulência da juventude já se assentou e as verdades já se sedimentaram. Às vezes concordo com essa firmação, outras, discordo dela.

Na verdade, cada livro é um exercício literário. E só posso dizer que cada livro já publicado de um escritor está terminado quando o autor morrer.


Faço essa introdução porque na sexta-feira, 25 de setembro de 2015, numa tulha restaurada do Parque Fazenda do Estado, Fabiana Cerqueira Costa Ishizawa, uma jovem, bem jovem, jovenzinha, menina de 13 anos, lançou um livro: “O mistério do condomínio”.

Que assunto tinha o livro? Após a mudança de uma família para um condomínio escuro, assustador e incrivelmente misterioso. O local era terrivelmente fantasmagórico, com aparições frequentes e inexplicáveis. Os irmãos Howell decidem investigar a história do lugar e acabam descobrindo fatos inacreditáveis, seguidos de uma terrível maldição.
 
Danielle (mãe), Fabiana, prefeito Cido Sério (PT) e Fábio (pai)
Ninguém podia esperar um tratado filosófico de uma menina de 13 anos. O inusitado era uma adolescente ter desejos de escrever um livro e seus pais e avós ajudarem-na nesta tarefa de publicar. Fabiana já lera mais de 25 livros, perfazendo 6,5 mil páginas. Com certeza, não faz parte dessa relação os livrinhos infantis, fininhos, cheios de figuras.  

A publicação do livro no dia do aniversário de Fabiana (13 anos) foi um presente de seus pais. A cerimônia de lançamento foi guardada a sete chaves, porque era surpresa. E lá estava a banda de rock “Ovelhas Negras”, da qual a autora é fã, abrilhantando a festa. O nome do grupo já é um grito de marginalização, seu rock era pauleira, mas nela havia pai e filho executando as mesmas músicas. 


Fabiana chegou meio assustada com sua mãe, pois havia ali mundaréu de gente: colegas de classe do Unicolégio, parentes, suas companheiras de “Filhas de Jó”. Não se tratava de ensaio fotográfico com a banda. Trajada a rigor com sua roupa dark, seu pai já lhe passou o microfone, recomendando que “soltasse o coração”, falasse o que está sentindo.

Em suas primeiras palavras, revelou sua densa formação intelectual para uma jovenzinha, falou com desenvoltura, cujo conteúdo era coerente com sua roupa, com seu gosto musical: ser estranho, ser diferente entre tantos normais. Havia rebeldia em sua fala, própria dos jovens, mas era uma rebeldia consentida pelos pais, pelos quatro avós (paternos e maternos), com presença de autoridades. 



Com a aceitação da filha como ela é, ela não tem motivo de ser rebelde, a não ser com a sociedade. Se sou aceito, a rebeldia não se justifica. Certamente, ela é passageira.

Nem que essa rebeldia seja um teatro, precisa ser bem vivida. Aliás, é próprio da nossa juventude atual viver existencialmente uma rebeldia, mas ser politicamente conservadora. Trata-se de um fenômeno novo no Brasil.

Não importa, a alegria impera. Parabéns ao Fabinho (pai) e Danielle (mãe). Sabemos que paternidade e maternidade são cheias de percalços, mas vocês estão se saindo muito bem.

REPORTAGEM COMPLETA DO JORNAL "O LIBERAL", 27/09/2015. CLIQUE AQUI.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP


Um comentário:

Cahmy disse...



Muito legal,e pertinente,a "idéia", descrita,pelo Hélio,como,

o que se trata,e quando seria o tempo de rebeldia,acho que sempre que seu coração,se rebelar, é tempo de rebeldia,

e acredito que "ela" é o principal fator de mudança/evolução da nossa sociedade.... parabéms pela crônica!