Hélio Consolaro*
Alguém já disse que a pessoa está pronta para escrever um
livro depois dos 40 anos quando a turbulência da juventude já se assentou e as
verdades já se sedimentaram. Às vezes concordo com essa firmação, outras,
discordo dela.
Na verdade, cada livro é um exercício literário. E só posso
dizer que cada livro já publicado de um escritor está terminado quando o autor
morrer.
Faço essa introdução porque na sexta-feira, 25 de setembro
de 2015, numa tulha restaurada do Parque Fazenda do Estado, Fabiana Cerqueira
Costa Ishizawa, uma jovem, bem jovem, jovenzinha, menina de 13 anos, lançou um
livro: “O mistério do condomínio”.
Que assunto tinha o livro? Após a mudança de uma família
para um condomínio escuro, assustador e incrivelmente misterioso. O local era
terrivelmente fantasmagórico, com aparições frequentes e inexplicáveis. Os
irmãos Howell decidem investigar a história do lugar e acabam descobrindo fatos
inacreditáveis, seguidos de uma terrível maldição.
Ninguém podia esperar um tratado filosófico de uma menina de
13 anos. O inusitado era uma adolescente ter desejos de escrever um livro e
seus pais e avós ajudarem-na nesta tarefa de publicar. Fabiana já lera mais de
25 livros, perfazendo 6,5 mil páginas. Com certeza, não faz parte dessa relação
os livrinhos infantis, fininhos, cheios de figuras.
A publicação do livro no dia do aniversário de Fabiana (13
anos) foi um presente de seus pais. A cerimônia de lançamento foi guardada a
sete chaves, porque era surpresa. E lá estava a banda de rock “Ovelhas Negras”,
da qual a autora é fã, abrilhantando a festa. O nome do grupo já é um grito de marginalização, seu rock era pauleira, mas nela havia pai e filho executando as mesmas músicas.
Fabiana chegou meio assustada com sua mãe, pois havia ali mundaréu
de gente: colegas de classe do Unicolégio, parentes, suas companheiras de
“Filhas de Jó”. Não se tratava de ensaio fotográfico com a banda. Trajada a rigor com sua roupa dark, seu pai já lhe passou o
microfone, recomendando que “soltasse o coração”, falasse o que está sentindo.
Em suas primeiras palavras, revelou sua densa formação
intelectual para uma jovenzinha, falou com desenvoltura, cujo conteúdo era
coerente com sua roupa, com seu gosto musical: ser estranho, ser diferente
entre tantos normais. Havia rebeldia em sua fala, própria dos jovens, mas era
uma rebeldia consentida pelos pais, pelos quatro avós (paternos e maternos),
com presença de autoridades.
Com a aceitação da filha como ela é, ela não tem motivo de
ser rebelde, a não ser com a sociedade. Se sou aceito, a rebeldia não se
justifica. Certamente, ela é passageira.
Nem que essa rebeldia seja um teatro, precisa ser bem
vivida. Aliás, é próprio da nossa juventude atual viver existencialmente uma
rebeldia, mas ser politicamente conservadora. Trata-se de um fenômeno novo no
Brasil.
Não importa, a alegria impera. Parabéns ao Fabinho (pai) e
Danielle (mãe). Sabemos que paternidade e maternidade são cheias de percalços,
mas vocês estão se saindo muito bem.
REPORTAGEM COMPLETA DO JORNAL "O LIBERAL", 27/09/2015. CLIQUE AQUI.
REPORTAGEM COMPLETA DO JORNAL "O LIBERAL", 27/09/2015. CLIQUE AQUI.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Muito legal,e pertinente,a "idéia", descrita,pelo Hélio,como,
o que se trata,e quando seria o tempo de rebeldia,acho que sempre que seu coração,se rebelar, é tempo de rebeldia,
e acredito que "ela" é o principal fator de mudança/evolução da nossa sociedade.... parabéms pela crônica!
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